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A nacionalização dos recursos energéticos decretada nesta semana pelo presidente Evo Morales, da Bolívia, pode alimentar a pressão contra as políticas de livre mercado na região andina, que pouco ajudaram na redução da pobreza.

Para a maioria indígena do país, a nacionalização e a ocupação militar das instalações de produção de gás são o ápice de uma luta pelo controle dos recursos naturais, que também ocorre no Equador e no Peru.

A nacionalização também remete ao crescente controle estatal sobre o setor petroleiro na Venezuela, governada por um aliado de Morales, o também esquerdista Hugo Chávez.

Mas a decisão de Morales, que alarmou investidores e irritou alguns países amigos da Bolívia, é a mais abrangente até agora e pode incentivar outros na região.

"Ela será vista na região como alguém fazendo uma escolha e como um exemplo de liderança", disse Xavier Albo, um antropólogo boliviano que trabalha para uma ONG que apóia grupos indígenas.

"Pode ser vista como um passo audacioso na direção da soberania. Evo já é uma fonte de inspiração na região", disse ele, acrescentando que as críticas de Morales à influência norte-americana ampliou a sua importância na região.

A nacionalização ressoou no Peru, onde seguidores do nacionalista Ollanta Humala, vencedor do primeiro turno das eleições presidenciais, aplaudiram a medida.

"Respeitamos o que a Bolívia fez, é a busca por autonomia", disse Gonzalo García, que assessora Humala em questões econômicas. "Há uma verdadeira necessidade da América Latina por independência energética, de modo a reduzir custos e transferir os benefícios para os pobres", acrescentou.

Disputa com o Brasil

Ao nacionalizar as vastas reservas de gás do país, Morales, primeiro indígena a governar a Bolívia, corre o risco de criar atritos com o Brasil, que compra grande parte do gás boliviano e fez investimentos na Bolívia nos últimos anos, por meio da Petrobras.

"Já era hora de alguém se erguer contra as empresas estrangeiras", disse Carla Medrano numa favela de El Alto (periferia de La Paz), onde na quarta-feira sacerdotes aimarás se reuniram para agradecer a Pachamama ("mãe terra") pela nacionalização.

A Bolívia, país mais pobre da América do Sul, tem mais indígenas do que descendentes de europeus. Equador e Peru também têm grandes populações indígenas. Cerca de 50 milhões de pessoas vivem nos três países, que formam o coração da região andina.

No instável Equador, camponeses indígenas bloqueiam estradas há meses em protesto contra as negociações de um acordo de livre-comércio com os EUA.

Grupos indígenas de lá também pedem a nacionalização dos recursos energéticos e especialmente a expulsão das empresas norte-americanas.

"Ela representa um importante ponto de referência externo para os movimentos indígenas do Equador, que perderam poder nos últimos anos", disse Hernán Reyes, professor de Sociologia na filial equatoriana da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais.

No Peru, Humala cresceu eleitoralmente com promessas de defender os pobres e abandonar a negociação comercial com Washington. Embora afirme que não pretende nacionalizar empresas de minas e energia, ele diz que vai rever seus contratos para ampliar a participação estatal.

Mas Larry Birns, diretor do Conselho de Assuntos Hemisféricos, uma entidade esquerdista de Washington, prevê que a influência de Morales se espalhará. "Ele é capaz de se tornar um importante líder regional, e pode ser o tiro inaugural em uma nova batalha para voltar a uma era na qual o controle estatal dos recursos naturais era inquestionável", afirmou.

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