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mulheres no afeganistão
Um pôster exibindo os olhos de uma mulher chorando em uma bandeira afegã é exibido durante uma vigília em apoio ao Afeganistão em frente ao Edifício Federal West Los Angeles, em Los Angeles, Califórnia, EUA, em 17 de agosto de 2021| Foto: ETIENNE LAURENT/EFE

Nilofar Ayoubi é uma das milhares de mulheres afegãs cuja vida mudou drasticamente em questão de dias: ela está em Cabul com o marido e os três filhos (de três e cinco anos e um com 11 meses) e foi ameaçada pelos talibãs, que foram buscá-la em seu local de trabalho e na casa de sua família ao menos três vezes no mesmo dia. Agora, ela tenta sair do país o quanto antes.

"Na imagem é possível ver dois homens, mas outros quatro estão dentro do carro. Não sei o que fazer. Não tenho palavras para expressar meu sentimento de ira, medo, frustração e decepção ao mesmo tempo", escreveu Ayoubi no Twitter, após ver por uma câmera de segurança que vários homens procuravam por ela.

Ayoubi é ativista, defensora dos direitos das mulheres e trabalhou como professora de inglês. Atualmente, é proprietária da marca internacional de produtos de saúde e beleza "Forever Living".

No entanto, com a entrada dos talibãs em Cabul em 15 de agosto, ela se tornou um alvo e agora teme pela própria vida e pela da família.

"Um talibã esteve hoje mesmo na casa da minha família. Estou muito assustada e não sei o que fazer. As coisas estão muito tensas, não posso falar nada. Tudo o que preciso fazer é entrar na lista de evacuação, chegar ao aeroporto e sair daqui", narrou ela em voz angustiada, em entrevista à Agência Efe.

"Não tenho muito tempo"

Ayoubi diz ter recebido uma ligação de uma ex-funcionária do governo afegão anterior que a deixou desorientada.

"Recebi um aviso de que os talibãs têm uma longa lista de pessoas como eu, como ela, que vão de casa em casa e matam pessoas, e que isto não vai aparecer no noticiário. Por isso, estou muito assustada. Se isto for verdade, significa que não tenho muito tempo", relatou.

Ela acredita que a única solução é sair do país o mais rápido possível, juntamente com a família, mas até agora essa tem sido uma missão impossível.

"Como defensora das mulheres, dá para ver a minha situação neste momento, o que posso fazer? Não posso sequer salvar a vida da minha família, o que posso fazer pelos outros? Tenho medo pela minha vida, pela vida deles. Tenho medo pela segurança. Estou devastada. E eu não sei o que vai acontecer. Só preciso tirá-los o mais depressa possível", declarou.

Nenhum voo comercial está saindo de Cabul e, segundo a ativista, nenhum voo militar respondeu ao seu pedido de evacuação.

"Neste momento, a única coisa que importa é a segurança da minha família, a vida dos meus filhos, da minha mãe e do meu irmão. Precisamos que nos ajudem a sair do país, não importa para onde", lamentou.

A história de Ayoubi viralizou nas redes sociais através da espanhola Laia Marsal, especialista em comunicação e marketing, com quem se conectou de forma casual pelo Twitter.

Até o momento, a espanhola a ajudou a preencher o formulário para tentar obter um visto americano e tem divulgado a situação para que a mulher e a sua família possam entrar em alguma lista de evacuação.

Pesadelo para mulheres

Mulheres que participavam da política afegã antes do retorno do Talibã ao poder estão se sentindo acuadas. A prefeita mais jovem no Afeganistão, Zarifa Ghafari, disse no começo da semana que não havia ninguém que pudesse ajudá-la.

"Estou sentada aqui esperando que eles venham. Não há ninguém para ajudar a mim ou a minha família. Estou apenas sentada com eles e meu marido. E eles virão atrás de pessoas como eu e me matarão", disse Zarifa Ghafari, 27, prefeita de Maidan Shar, ao jornal britânico i. "Eu não posso deixar minha família. E de qualquer maneira, para onde eu iria?"

O temor é explicado pelo tratamento aplicado às mulheres durante 1996 e 2001, quando o talibã dominava a maior parte do Afeganistão, inclusive a capital Cabul. Naquela época, mulheres raramente podiam sair de casa, mesmo para fazer compras, e quando o faziam, tinham que estar cobertas dos pés à cabeça com as longas burcas e acompanhadas de um parente do sexo masculino. Escolas para meninas foram fechadas e apedrejamentos e execuções eram comuns para quem desrespeitasse a rígida interpretação da lei islâmica aplicada pelo grupo fundamentalista.

Algumas mulheres, porém, decidiram ficar no país, como a consultora em educação Payvand Seyed Ali. Ela disse à BBC que não é útil ter expectativas em relação ao que o Talibã fará em relação aos direitos das mulheres, mas acrescenta que "temos que trabalhar com o que temos, e o que temos inclui promessas de alto nível do Talibã de que as mulheres terão acesso à educação e ao trabalho".

Tentando melhorar sua imagem dentro e fora de casa, os porta-vozes do Talibã disseram que iriam respeitar os direitos das mulheres e das minorias "de acordo com as normas afegãs e os valores islâmicos". A declaração foi considerada vaga e, aliada à falta de credibilidade do Talibã, a mensagem fez pouco para aplacar preocupações.

Malala Yousafzai, baleada aos 15 anos pelo Talibã por fazer campanha pela educação de meninas no Paquistão, escreveu um artigo de opinião para o New York Times nesta quinta-feira (18), dizendo que teme por suas "irmãs afegãs".

"As ativistas com quem falei temiam um retorno à educação apenas religiosa, o que deixaria as crianças sem as habilidades necessárias para realizar seus sonhos, e seu país sem médicos, engenheiros e cientistas no futuro", escreveu Malala. "Elas estão pedindo proteção, educação, liberdade e o futuro que lhes foi prometido. Não podemos continuar a falhar com elas".

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