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População cansada de guerra: cidadãos acendem velas durante vigília de paz em Bogotá, na última quinta-feira | John Vizcaino/Reuters
População cansada de guerra: cidadãos acendem velas durante vigília de paz em Bogotá, na última quinta-feira| Foto: John Vizcaino/Reuters

23,9% é o porcentual de votos que Oscar Iván Zuluaga, candidato do Centro Democrático, tem na pesquisa Cifras y Conceptos, divulgada em 15 de maio. Em comparação com o levantamento anterior, feito em abril, Zuluaga cresceu mais que qualquer outro candidato, com um discurso favorável a uma solução militar, de endurecimento no combate à guerrilha por parte das forças do governo.

27,7% dos colombianos querem a reeleição deJuan Manuel Santos, do Partido de La U. O atual presidente está tecnicamente empatado com o uribista Zuluaga. Na simulação para o segundo turno, a pesquisa também mostra empate técnico. Levantamentos de outros institutos aponta igual tendência. Santos defende o diálogo com a guerrilha e aposta no bom resultado da economia.

Diálogo

Como prova de boas intenções, Farc fazem trégua durante o pleito

O diálogo entre o governo colombiano e as Farc teve início em 2012, primeiramente em Oslo, na Noruega, sendo transferido posteriormente para Havana, em Cuba. As negociações se concentram em seis principais pontos, sendo que três já foram fechados. As partes já chegaram a acordos parciais sobre os princípios de reforma agrária e a participação política dos rebeldes. No último ponto acordado, anunciado em 17 de maio, os guerrilheiros prometeram combater junto com o governo o cultivo e a comercialização de drogas ilícitas.

Outro avanço foi a trégua de "boas intenções" anunciada pelas Farc nas eleições deste ano. Desde o dia 20 de maio até o dia 28 nenhum ataque será registrado no país, incluindo a segunda maior guerrilha, o Exército de Libertação Nacional (ELN).

No entanto, há ainda impasses no que se refere aos direitos das vítimas do confronto e o término dos enfrentamentos. A morosidade das negociações de paz em Havana, antes o principal triunfo de Juan Manoel Santos, pode ser também a causa da sua ruína.

  • O oposicionista Oscar Iván Zuluaga (à esquerda) disputa a presidência com o candidato à reeleição Juan Manuel Santos
  • Antes do debate de quinta-feira, apoiadores de Zuluaga e de Juan Manuel Santos foram às ruas da capital

A eleição presidencial na Colômbia será realizada hoje, mas tanto a população como os candidatos já estão de olho mesmo é no dia 15 de junho, data para a qual está marcado o segundo turno do pleito. Isso porque as últimas pesquisas apontam uma disputa acirrada entre o atual presidente, Juan Manuel Santos, e o candidato oposicionista Oscar Iván Zuluaga. Com uma economia estável e bons índices de crescimento ao longo do último ciclo presidencial, o ingrediente principal da campanha deste ano foi a negociação de paz entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) para pôr fim a um conflito iniciado há meio século.

De um lado, Santos defende o diálogo com a guerrilha e aposta no resultado econômico de um desfecho positivo. De outro, Zuluaga é favorável a uma solução militar e o endurecimento do combate à guerrilha por parte das forças governistas.

Santos, que busca a reeleição pelo Partido de La U, chegou ao poder em 2010 após anos no Ministério da Defesa durante a administração de Álvaro Uribe, período em que o governo usou de artilharia pesada para conter os avanços da guerrilha. Eleito presidente, usou de sua experiência no setor de segurança e entendeu que, mais do que qualquer outro assunto, a paz com as Farc era uma necessidade urgente do povo colombiano, que convive há mais de cinco décadas com os violentos conflitos.

"Santos soube conduzir o enfrentamento com as Farc de uma maneira bastante eficaz e adotou a tática da negociação pela paz para atrair a sociedade", afirma o professor de Ciência Política da Universidade de São Paulo Alberto Pfeifer. Esse sentimento de que a paz, finalmente, era possível impulsionou o assunto para o debate principal entre todos os presidenciáveis, dividindo as candidaturas entre os que propõem uma negociação com os rebeldes e os que defendem o uso da força, transformando o pleito em um referendo pela paz no país.

Além de Santos, Clara López, ex-prefeita de Bogotá e candidata da corrente esquerdista Polo Democrático, e Enrique Peñalosa, também ex-prefeito da capital e candidato pela Aliança Verde, apostam nas negociações para atrair os eleitores colombianos. Em contrapartida, Marta Lucía Ramírez, do Partido Conservador, junta-se à Oscar Iván Zuluaga, candidato do Centro Demo­­crático, o novo partido criado pelo ex-presidente Uribe, na defesa do endurecimento das ações contra as Farc.

"Creio que o país está muito polarizado neste momento e, obviamente, temos posições muitos diferentes entre os candidatos Todavia, a eleição se transformou em um processo de aprovação ou não do atual governo e da linha dos últimos anos em relação aos processos de paz", diz a professora de Ciência Política da Universidad de Los Andes Mónica Pachón.

Pesquisa registra empate técnico

Divulgada em 15 de maio, a pesquisa do Cifras y Con­­ceptos mostra o candidato do Centro Democrático, Oscar Iván Zuluaga, com 23,9%, tecnicamente empatado com o atual presidente, Juan Manuel Santos, que tem 27,7%. Na comparação com o levantamento anterior, de abril, o candidato do Centro Democrático cresceu mais do que qualquer outro, subindo cinco pontos porcentuais. Na simulação de segundo turno do instituto, o presidenciável do partido de Uribe também aparece tecnicamente empatado com o atual presidente. O levantamento de outros institutos, como o Datexco e o Gallup, também revelam essa tendência.

"Os candidatos mais atrelados a um discurso duro ganharam um pouco mais de projeção porque há uma parcela da população que, cansada das negociações, tende a escolher esses nomes", disse Pfeifer.

As características do processo eleitoral da Colômbia podem prejudicar Santos no primeiro turno, uma vez que o voto não é obrigatório. E se antes as pesquisas mostravam um grande contingente de pessoas dispostas a votar em branco, hoje este total é de 10%, o que mostra que os que devem comparecer às urnas tomaram posições.

"As intenções de voto em branco vêm se desvanecendo à medida que se aproxima da data das eleições. A cifra final não deve estar muito longe dos níveis históricos, de cerca de 6%. Por outro lado, essa eleição deve manter os níveis históricos de participação do eleitorado", afirmou o economista Luis Carvajal, ex-ministro da Educação no país.Na opinião de analistas, caso o candidato Zuluaga vença o pleito no segundo turno, a esperada paz na Colômbia ficará cada vez mais difícil de se alcançar. "É uma grande mentira achar que a paz se dará independente de quem vença o processo eleitoral. Creio que os processos de paz dependem do presidente Santos, uma vez que a sua estratégia de negociação difere da proposta de Zuluaga, e é claro que isso seria uma situação muito grave", afirmou Mónica Pachón.

"A paz segue sendo o problema mais grave dos colombianos. Se os acordos tiverem êxito, o pós-conflito irá consumir anos de trabalho para a superação dos problemas, incluindo o do narcotráfico, que por anos alimentou o conflito armado. Cedo ou tarde teremos que chegar à paz", enfatizou Carvajal.

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