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Os nepaleses acordaram na quarta-feira, sete meses depois de manifestações populares terem deposto o governo monárquico do país, em meio a promessas de paz e de encerramento de uma década de guerra civil, sequestros, assassinatos e medo.

Milhares de pessoas foram às ruas de Katmandu e de outras cidades para celebrar a assinatura, um dia antes, de um acordo de paz entre o governo e os rebeldes maoístas do Nepal. O acordo põe fim a um conflito iniciado em 1996 e no qual foram mortas 13 mil pessoas.

O ritmo das mudanças alimentou a esperança, entre os nepaleses, de que novos tempos estejam a caminho. Mas os moradores do país ainda não têm certeza de que as promessas e acordos vão se transformar realmente em uma paz duradoura e efetiva.

``O que até recentemente parecia improvável, a paz, transformou-se em uma realidade'', afirmou o jornal Kathmandu Post em um editorial.

``A assinatura de um acordo de paz (porém) não terá valor se os envolvidos não conseguirem implementá-lo segundo o verdadeiro espírito do documento.''

O acordo, assinado pelo primeiro-ministro Girija Prasad Koirala e o chefe dos rebeldes, Pushpa Kamal Dahal (cujo nome de guerra é Prachanda), abre caminho para que os guerrilheiros maoístas deponham suas armas.

Os líderes rebeldes devem ocupar cadeiras no Parlamento ao lado de políticos eleitos e participar do governo interino responsável por supervisionar a eleição de uma nova assembléia encarregada de elaborar uma outra Constituição e decidir o futuro da monarquia.

O país, que chegou a liderar as estatísticas mundiais em termos de pessoas ``desaparecidas'' nas mãos dos militares ou dos rebeldes, sonha agora com uma nova era, uma era livre do medo e da violência.

``Espero que nenhuma mãe perca seu filho para o conflito e que nenhuma criança fique órfã devido à violência'', disse Punam Shrestha, 54, um vendedor de rua de Katmandu que trabalha com verduras.

O governo declarou feriado na quarta-feira e pediu aos moradores do país que iluminassem suas casas e escritórios como parte das celebrações.

'DISCIPLINA'

``Estamos às portas da paz e de uma nova história'', afirmou Yubaraj Ghimire, editor da revista semanal Samay, acrescentando que os signatários do acordo precisavam manter suas promessas.

``Os rebeldes maoístas, em especial, precisam dar mostras de que seus combatentes são disciplinados e de que vão obedecer à liderança deles'', disse.

Um aviso semelhante partiu dos EUA, que ainda consideram os maoístas uma organização terrorista.

O processo de paz iniciou-se pouco depois de o rei Gyanendra ter, em abril, repassado o poder a partidos políticos como resultado de semanas de violentas manifestações de rua.

Desde então, os maoístas e o governo observam um cessar-fogo, apesar de isso não ter impedido os rebeldes de recrutar milhares de novos combatentes ou de exigir dinheiro de comerciantes e pessoas comuns em todo o país.

``O teste crítico para esse acordo será a implementação dele'', afirmou a Índia, país vizinho do Nepal. ``As violações precisam ser enfrentadas segundo prevêem as leis do país.''

Ainda há obstáculos a serem superados. Os maoístas ficarão na posse das chaves de contêineres onde suas armas devem ser depositadas, sob a supervisão da Organização das Nações Unidas (ONU).

E os rebeldes exigem que seus combatentes sejam integrados às Forças Armadas do país, algo que os comandantes militares do Nepal mostram-se relutantes em aceitar.

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