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Amanda Guillemette, com dois de seus filhos, diz ter sido ajudada pela escola pública para dar a volta por cima depois que se tornou uma sem-teto. Área de camping na Península de Kenai abandonada durante a primeira nevada | Nicole Bengiveno/The New York Times
Amanda Guillemette, com dois de seus filhos, diz ter sido ajudada pela escola pública para dar a volta por cima depois que se tornou uma sem-teto. Área de camping na Península de Kenai abandonada durante a primeira nevada| Foto: Nicole Bengiveno/The New York Times
  • No frio e nas densas florestas não existe ajuda de verdade

As pessoas visitam a Península de Kenai por causa das belezas naturais ou para fugir da rotina estressante dos locais movimentados.

Existem bons empregos na indústria petroleira. E quando os salmões correm pelo Rio Kenai, as pessoas daqui costumam dizer que dá para pegá-los até os braços doerem.

Contudo, essas dádivas da natureza que atraíram colonizadores e aventureiros também escondem uma realidade dura. Quando a vida de alguém dá errado, praticamente não existe um plano B.

"É uma ótima região para se estabelecer uma família. As coisas são positivas, maravilhosas", disse Cathy Giessel, senadora pelo Alasca que representa parte da península. "Porém, as pessoas podem perder o emprego facilmente fazendo escolhas erradas."

As cidades da península – a maioria não passa de pontos em uma mapa de poucos milhares de pessoas em uma paisagem tomada por florestas e rios – compõem uma espécie de caminho intermediário na vida do Alasca, seguindo as flutuações de empregos sazonais no setor de serviços em hotéis para pescadores e centros comerciais. Também existem oportunidades de crescimento e empregos com salários correspondentes para quem tiver capacitação. Todavia, segundo os residentes, a presença indesejada das drogas, álcool e pobreza sempre está presente.

Amanda Guillemette sabe como o gelo pode ser fino. Ela conseguiu dar a volta por cima ao começar a trabalhar em um laticínio em Soldotna, em março, e alugar uma casa aquecida. Porém, o dia que deu início a sua odisseia rumo à vida sem-teto quatro anos atrás ainda se faz presente.

Ela estava grávida do quinto filho quando a família com a qual morava a expulsou. Guillemette, 35 anos, dá crédito ao sistema escolar público que a contatou por meio de um programa de auxílio aos sem-teto. Segundo ela, foi o que salvou sua família ao colocá-la em contato com programas de ajuda do governo e lhe fornecendo assistência emergencial.

"Tudo acontece por um motivo", ela disse. "Eu fiquei mais forte."

Nos vilarejos do interior mais profundo do Alasca, onde não existem estradas, quem não tem um teto é abrigado por parentes ou amigos tal qual como nos bons tempos. Anchorage, a maior cidade do Alasca, tem de longe a maior população de sem-teto do estado e, também, o maior sistema de assistência. Em Kenai, uma família ou adolescente em dificuldades pode não ser percebido.

"A falta de moradias é um problema oculto", afirmou Steve Atwater, superintendente do distrito escolar da Península de Kenai, onde um a cada 90 estudantes faz parte de programas de combate à evasão escolar, mesmo sem ter endereço permanente. O número caiu um pouco em relação ao ano anterior. Para os representantes do distrito, o principal motivo para a queda é o outono extremamente quente.

De 2011 a 2012, o índice total de sem-teto no Alasca caiu dez por cento, segundo a Aliança Nacional para o Fim da Falta de Moradias. Entretanto, o número de pessoas cronicamente sem casa cresceu quase 21 por cento, colocando o estado em nono lugar nesse quesito nos Estados Unidos.

Pessoas que moram com amigos não costumam se considerar sem-teto. E em um estado onde acampar é tanto um estilo de vida quanto parte da tradição, morar em uma barraca no mato pode ser uma escolha ou não.

"A gente meio que chamava de acampar", afirmou Tammy Miles, 42 anos, que morou em uma barraca na floresta durante 132 dias do ano passado com os filhos autistas, de sete e dez anos, quando o namorado, após 13 anos de relacionamento, a deixou sem ter onde morar. Ela e os meninos estavam em um abrigo familiar – o único de Kenai Borough – quando fechou em junho por problemas financeiros. Ela fez amizade com as outras 26 famílias do abrigo e eles estavam tentando manter contato. Miles conseguiu um emprego como caixa no Walmart local e disse ter se sentido estável quando chegou o inverno.

Certa tarde de outono, com a temperatura máxima chegando a -14˚C, um camping nos arredores do centro da cidade parecia fantasmagórico em meio ao gelo. Uma espátula e uma lata de pimenta estavam sobre a mesa dobrável perto de um pequeno fogareiro, pronto para ser usado. Os campistas estavam ali por escolha ou eram sem-teto? Na Península de Kenai é difícil de saber.

Contudo, no Banco de Alimentos da Península de Kenai, na vizinha cidade de Kenai, o número de pessoas procurando produtos enlatados e arroz de graça é o maior desde 2010, quando a recessão chegou ao seu pior momento. A tendência de jovens e famílias chegarem com fome se manteve, afirmou Linda Swarner, diretora executiva do banco de alimentos.

"Antigamente, o sistema de proteção era mais pessoal", ela afirmou enquanto voluntários serviam o almoço. "As pessoas não recorriam tanto ao governo e às entidades filantrópicas."

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