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Há 25 anos, aconteciam na Hungria os eventos que acabariam levando ao colapso do comunismo — e ajudaram a produzir um novo astro da política.

Na época, Viktor Orban tinha 26 anos e era um cabeludo recém-formado em Direito. Em junho de 1989, cinco meses antes da queda do Muro de Berlim, ele incendiou uma comemoração pela revolta fracassada de 1956 contra Moscou convocando eleições livres e exigindo que 80 mil soldados russos saíssem do país.

Hoje a Hungria é membro da OTAN e da União Europeia e Orban está no terceiro mandato como primeiro-ministro – mas o que já foi uma saga que poderia ter representado o triunfo do capitalismo democrático evoluiu para se transformar em um caso complexo de um país e um líder questionando os valores ocidentais, fomentando o nacionalismo e usando a Rússia como modelo.

Depois de levar seu partido de direita a uma série de vitórias eleitorais, Orban passou a centralizar o poder, dando força a uma série de comparsas oligarcas, reprimindo a dissidência, estreitando laços com Moscou e, em termos gerais, atraindo comparações constrangedoras de líderes ocidentais e adversários internos ao presidente russo, Vladimir V. Putin.

"Na União Europeia, ele é o único putinista no poder", diz Joschka Fischer, ex-ministro das Relações Exteriores alemão.

Alguns outros países do Leste Europeu, principalmente a Polônia, permaneceram voltados para o Ocidente e ainda nutrem grandes suspeitas em relação à Rússia.

No entanto, a Hungria é uma das várias nações na antiga esfera soviética que hoje se veem divididas entre o estilo ocidental, que pareceu prevalecer logo após a queda da União Soviética, e a influência resiliente da Rússia de hoje. O dinheiro, a cultura e os recursos energéticos ainda ligam grande parte dos países regionais a ela tanto quanto à Europa. O nacionalismo combativo de Putin é mais popular aqui do que aquilo que muitos consideram uma "esclerose democrática ocidental".

Em discurso feito meses atrás, Orban declarou que a democracia liberal está em declínio e elogiou as "democracias intolerantes" e autoritárias da Turquia, China, Cingapura e Rússia.

Ele definiu suas opiniões baseado no que caracteriza como falhas dos governos ocidentais em antecipar e lidar adequadamente com a crise financeira.

Chamou aquele período de "o quarto grande choque do século passado" – sendo os outros três as Guerras Mundiais e o fim da Guerra Fria – e o incentivo para o que se refere como o maior desafio atual de "corrida para inventar um Estado que seja perfeitamente capaz de tornar um país bem-sucedido".

A Hungria, disse Orban, construirá "um novo Estado húngaro para ser competitivo no mercado global nas décadas futuras". E, para conseguir isso, "serão necessárias medidas mais rígidas em relação às forças externas, incluindo ONGs, a própria União Europeia e investidores estrangeiros", completou.

Até 2008, Orban era crítico ferrenho de Putin, mas os dois parecem ter se tornado bons amigos, com a Rússia investindo pesado na Hungria.

O centro de Budapeste, grandioso, com seus palácios iluminados às margens do Danúbio, seus cafés sofisticados, teatros lotados e ruas lotadas de turistas, pouco revelam do desconforto autoritário; no entanto, por trás das boutiques de grife, artistas jovens temem perder o financiamento federal se não "andarem na linha" e grupos de vigilância ao governo sofrem ataques na imprensa, controlada pelo Estado, enquanto aguardam ansiosamente a chegada de investigadores.

No oeste da Hungria, as montadoras alemãs e outros investimentos estrangeiros geraram uma imagem muito semelhante ao estilo de vida europeu ocidental – sentimento bem diferente daquele no interior do leste, onde famílias pobres trabalham em um dos projetos públicos de Orban ou torcem para que a economia melhore. Mesmo seus críticos mais ferrenhos, porém, admitem que o primeiro-ministro não chega nem perto das medidas tomadas por Putin para silenciar os críticos: ninguém foi preso por criticar o governo; não há censura explícita. As manifestações recentes contra a proposição de uma taxa sobre a Internet não só aconteceram como forçaram Orban a voltar atrás.

Mas há quem diga que o governo usa o financiamento para controlar as artes e a imprensa.

E mesmo seus defensores mais conservadores não veem com bons olhos o fato de Orban ter lotado os tribunais e a Promotoria com tradicionalistas, além de alterar a Constituição para que seu partido domine a política nacional.

"Ele se candidatou como alguém que poderia unir os dois lados da política húngara, mas, depois de eleito, disse: ‘Agora é a hora da direita; vamos nos vingar da esquerda’", explica Balint Ablonczy, editor político do jornal pró-governo Heti Valasz.

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