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O pangolim é mais próximo aos pandas que ao tamanduá. Pangolins em centros de resgate | Luc Forsyth/The New York Times
O pangolim é mais próximo aos pandas que ao tamanduá. Pangolins em centros de resgate| Foto: Luc Forsyth/The New York Times

Elefantes e rinocerontes podem servir de exemplo clássico do comércio ilegal de animais silvestres, mas o mamífero mais comercializado no mercado negro, segundo os especialistas, é uma criatura menor: o pangolim. Insetívoro grandão com uma língua maior que o corpo e um rabo tão forte que o permite se pendurar de cabeça para baixo nos galhos das árvores, tem uma tendência a se enrolar feito bola quando ameaçado, o que o faz ser comparado a uma alcachofra.

Em algumas partes da China, sua carne é considerada uma iguaria. As escamas, feitas de queratina, como as unhas humanas, são usadas na medicina tradicional para tratar problemas de pele. E a comercialização do animal vem de muito longe: em 1820, o rei George III da Inglaterra ganhou de presente uma armadura feita inteirinha de escamas de pangolim.

O problema é que a demanda cresceu assustadoramente, o que fez a caça ilegal aumentar no Sudeste Asiático e na África – é o que informa a Traffic, organização que monitora o comércio de animais selvagens.

Todos os anos, os agentes alfandegários apreendem milhares de pangolins e centenas de quilos de escamas do animal. Em janeiro, as autoridades de Uganda confirmaram o confisco de duas toneladas de couro de pangolim em caixas identificadas como “equipamentos de comunicação”.

“Já aconteceu de um navio enorme vindo da Indonésia dizer que trazia peixe congelado e acabamos descobrindo que eram 14 toneladas de pangolins”, conta Annette Olsson, assessora técnica da Conservação Internacional do Sudeste Asiático, que ajudou a abrir o Centro de Resgate de Animais Silvestres de Phnom Tamao, administrado pelo governo cambojano com a ajuda do grupo conservacionista Wildlife Alliance.

A maioria dos países, incluindo o Camboja, tem leis contra a caça de pangolins, mas sua aplicação geralmente é fraca – ao contrário do incentivo aos caçadores ilegais de áreas rurais paupérrimas, que caçam e vendem todo tipo de animal selvagem para contrabandistas, explica Bunra Seng, da Conservação Internacional do Camboja. O pangolim-malaio já foi muito comum na região, mas a matança generalizada, como também a do pangolim-chinês, colocou ambos na lista de animais ameaçados de extinção da União Internacional para a Conservação da Natureza. Aliás, para o grupo, todas as oito espécies correm sérios riscos.

Peter Knights, da WildAid, disse que o seu grupo e vários outros estão criando iniciativas para resgatar o pangolim antes da realização da reunião da Convenção de Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas da Fauna e Flora Silvestres, que se realizará em 2016.

A aparência estranha do animal não ajuda muito a sua causa, comenta Annette. “Ele não é nem grandão, nem pequeno e não é lá muito carismático; é pequeno, esquisito e vem sumindo”, lamenta ela.

Apesar disso, uma criatura coberta de escamas, com olhos brilhantes, focinho estreito e rabo comprido obviamente estimula a imaginação – tanto que Sandslash, personagem da série Pokemon, foi inspirado nele.

Aos poucos os cientistas estão começando a aprender mais coisas a respeito do animal e seu comportamento. Já foi considerado parente do tamanduá, da preguiça e do tatu, mas estudos genéticos sugerem que está mais próximo do texugo e do panda gigante.

O pangolim gosta de cavar túneis e buracos em árvores; tem visão fraca, mas o olfato poderoso para detectar insetos pequenos e garras poderosas para desenterrá-los. Sua língua é grudenta, capaz de arrebatar centenas de formigas de uma vez só – mas tem que “fechar” as orelhas para impedir que entrem no canal auditivo. E como o gambá, pode emitir um fedor insuportável quando se sente ameaçado.

Os pangolins geralmente chegam aos centros de resgate com ferimentos nas patas, causadas por armadilhas ou mordidas dos cães de caça. O veterinário de plantão faz a limpeza e bandagem dos ferimentos. A mãe e a ninhada que acabaram de chegar, por exemplo, não parecem ter nenhuma pressa de ir embora.

“Às vezes, a gente se sente impotente, mas tem que fazer o melhor possível”, diz Bunra sobre os esforços de salvar o pangolim da ameaça de extinção.

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