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 | Balint Zsako
| Foto: Balint Zsako

Um estudo causou fortes coceiras em um braço de voluntários, e era proibido coçar. Em seguida eles foram colocados em um leitor de ressonância magnética, para identificar quais partes do cérebro se acendiam quando havia uma coceira, quando os pesquisadores os coçavam e quando eles finalmente podiam se coçar sozinhos.

A questão científica era a seguinte: por que aliviar uma coceira causa uma sensação tão boa?

"É bastante intrigante ver quantos centros cerebrais são ativados", declarou o Dr. Gil Yosipovitch, diretor do Center for Itch da Temple University School of Medicine, na Filadélfia. "Não existe um centro específico para coceiras".

Em vez disso, a coceira e o ato de se coçar estimulam áreas do cérebro envolvidas não só na sensação, mas também nos processos mentais que ajudam a explicar por que amamos nos coçar: motivação e recompensa, prazer, desejo e até mesmo o vício. O que uma coceira liga, o ato de se coçar desliga — e se coçar é sempre melhor do que ser coçado por outra pessoa.

A coceira sempre foi ofuscada pela dor em pesquisas e tratamentos, e chegou a ser vista como apenas uma forma leve de dor. Entretanto, milhões de pessoas sofrem com a coceira, e os tempos mudaram. Pesquisas encontraram nervos, moléculas e receptores celulares que são específicos da coceira, e a profissão médica começou a aceitá-la como algo digno de estudos e tratamentos.

Estudos começaram a examinar a atividade genética e a mapear os sinais que fluem entre as células da pele, do sistema imunológico, da medula e do cérebro.

"A coceira está hoje onde a dor provavelmente estava há 20 anos", afirmou a Dra. Lynn Cornelius, chefe do Departamento de Dermatologia na Washington University School of Medicine, em St. Louis. "E ela costumava ser confundida com a dor".

Contudo agora, segundo ela, existe mais interesse na coceira e em classificar seus diferentes tipos. "A ciência precisa chegar ao tratamento, eu acredito", argumentou a Dra. Cornelius.

Existem diferentes tipos de coceira. O tipo mais comum, a partir de uma picada de mosquito ou urticária, ocorre quando as células da pele liberam histamina. Comprimidos ou cremes anti-histamínicos costumam trazer alívio.

Todavia, anti-histamínicos geralmente não ajudam pessoas com coceiras crônicas, que pode ser causada por doenças de pele como eczema ou psoríase, insuficiência renal ou hepática, uma glândula da tireóide hiperativa, certos cânceres, e nervos pinçados ou danificados.

Pesquisas recentes mostraram que substancias liberadas de células inflamatórias estão envolvidas na coceira crônica, junto a três tipos de células nervosas, explicou Diana Bautista, professora de Biologia de Desenvolvimento na University of California, em Berkeley. As companhias farmacêuticas vêm tentando encontrar maneiras de bloquear essas substâncias.

Uma equipe da Washington University liderada por Zhou-Feng Chen, trabalhando com camundongos, foi a primeira a encontrar um receptor na medula que era específico para a coceira, chamado receptor do peptídeo liberador de gastrina, ou GRPR (da sigla em inglês). "Ao bloquear o funcionamento apenas deste receptor, você basicamente acaba com a coceira crônica", afirmou o Dr. Chen.

Ainda não se sabe por que o gene que produz o GRPR, o receptor da coceira, se torna mais ativa com a idade, mas esse é um bom alvo para novos medicamentos em pessoas, explicou o Dr. Chen.

Segundo o Dr. Yosipovitch, muitos pacientes só chegaram a ele após se consultarem com vários médicos que não conseguiram ajudá-los, ou que diagnosticaram erroneamente seus problemas como mentais, em vez de físicos. "Essas pessoas não são malucas", garantiu ele.

Um dos pacientes era um menino que havia coçado seus braços e pernas até ficar em carne viva. Incapazes de encontrar uma causa ou um tratamento que funcionasse, médicos encaminharam ele e sua família a um psiquiatra, que receitou antidepressivos.

O paciente, Joshua Riegel, hoje com 18 anos, declarou: "Eles disseram que eu estava fazendo aquilo para manipular meus pais". Em seguida, teve início o que ele chama de "aquela parte estranha de minha vida, quando eles pensavam que eu tinha problemas mentais".

Como último recurso, seus pais o levaram ao Dr. Yosipovitch.

"Ele tinha um palpite sobre o que podia ser", disse Riegel.

Testes descobriram uma rara doença genética, epidermólise bolhosa, que vinha causando um conjunto destrutivo de sintomas: coceiras intensas e uma pele tão frágil que coçar a rasgava em pedaços.

"O Dr. Yosipovitch ficou bastante irritado por terem me dito que eu tinha problemas mentais", lembrou Riegel.

Parar com os antidepressivos elevou seu humor. Desde então, outros medicamentos foram prescritos para a coceira, com resultados mistos. Ela nunca desaparece, mas Riegel usa jogos de videogame ou o celular para se distrair e evitar se coçar.

Para pessoas com outros tipos de coceira crônica, o Dr. Yosipovitch garantiu: "Estamos apenas no início de uma grande era. Nos próximos cinco anos, com certeza, teremos remédios voltados especificamente para a coceira".

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