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Sebastião Salgado é tema de um documentário dirigido por seu filho, Juliano, à esquerda, e Wim Wenders | Lélia Deluiz Wanick/Amazonas Images, via Sony Pictures Classics
Sebastião Salgado é tema de um documentário dirigido por seu filho, Juliano, à esquerda, e Wim Wenders| Foto: Lélia Deluiz Wanick/Amazonas Images, via Sony Pictures Classics

O cineasta alemão Wim Wenders andava em Los Angeles um dia, em meados dos anos 80, quando viu umas fotos impressionantes em uma galeria e saiu de lá com cópias de dois trabalhos do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado – uma da prestigiada série Serra Pelada, a outra, do Sahel, na África – que ainda estão penduradas sobre sua mesa, no escritório de Berlim.

Os dois acabaram se conhecendo em 2009, no estúdio de Salgado, em Paris. O encontro levou Wenders a acompanhá-lo em suas viagens ao redor do mundo e resultou no documentário “O Sal da Terra”, indicado ao Oscar, que teve lançamento global e foi dirigido em parceria com o filho de Salgado, Juliano. O alemão, que pensou em projeto simples e direto, acabou tendo que enfrentar várias complicações.

Sebastião Salgado talvez seja o maior “fotógrafo social” do nosso tempo, homenageado pela Sociedade Real de Fotografia britânica, que lhe ofereceu o prêmio de seu primeiro centenário pela “significante contribuição à arte da fotografia”, imersa em conflitos, fome, imigração em massa e outras catástrofes causadas pelo homem. Por isso, Wenders se surpreendeu ao encontrar Salgado se dedicando a um projeto grande, dedicado à natureza, o “Genesis”.

O fotógrafo, por sua vez, que dedicou oito anos à iniciativa – o que resultou em um sem-fim de exposições e um livro de 519 páginas de imagens da Antártica, o Ártico e vários pontos entre um e outro – começava a pensar em uma forma de expandir seu impacto.

O filme mostra os fatos básicos sobre sua vida e as lembranças que tem deles: a infância no interior isolado; os anos que passou na faculdade, estudando Economia; o exílio na França com a mulher e sócia, Lélia, quando o Exército impôs o regime da ditadura no Brasil. O foco principal, porém, é sua arte, relação que Wenders diz ter captado filmando através do teleprompter enquanto Salgado discorre sobre as imagens que fez durante a carreira de mais de 40 anos.

“Ele não tinha nada na tela à sua frente a não ser seu próprio trabalho. Não podia ver nem a câmera, nem a mim”, conta o diretor de 69 anos.

Para Salgado, hoje com 71 anos, o processo se mostrou muitas vezes doloroso. “O Sal da Terra”, que ganhou um prêmio no Festival de Cannes em 2014 e um César, a versão francesa do Oscar, em fevereiro deste ano, também aborda a crise psicológica que sofreu em meados dos anos 90, depois de cobrir a guerra e o genocídio em Ruanda e na Bósnia. “Eu fiquei completamente esgotado por causa das coisas que vi por lá”, diz.

Ele então se recolheu à fazenda da família, em Minas Gerais, propriedade que acabou em péssimo estado por causa da degradação ambiental que aflige a região. A segunda metade do filme inclui o trabalho de Sebastião e Lélia Salgado para recuperar as nascentes do Vale do Rio Doce.

Outro ponto abordado é a dinâmica complicada entre pai e filho. Sebastião estava quase sempre ausente durante a infância de Juliano e, embora ambos digam que nunca estiveram “brigados”, como diz Sebastião, havia uma certa distância entre os dois, só superada durante a produção do filme, quando Juliano acompanhou o pai à Amazônia, ao Ártico e à Nova Guiné.

“O que ocorreu conosco foi aquilo que acontece entre muitos pais e filhos: problemas de comunicação, dificuldades no processo de amadurecimento, a saída de casa. Falávamos sobre poucas coisas, até mesmo sobre futebol a discussão era superficial, mas foi uma coisa que conseguimos resolver durante as filmagens”, afirma Juliano, de 41 anos.

Tanto Wenders como Juliano descrevem a edição como o processo mais difícil – e lutaram muito contra o que o alemão chamou de “problemas de ego” para definir quais as imagens seriam usadas.

“No fim, o documentário conta a história de um ciclo completo, de uma terra viva que morre e acaba renascendo. É mais ou menos a história do Sebastião, que chegou ao fundo do poço e teve que se reinventar. É uma obra poderosa”, resume Juliano.

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