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Nibble, um mastim tibetano, é examinado por veterinários depois de ser salvo do abatedouro por ativistas | Ed Jones/Agence France-Presse
Nibble, um mastim tibetano, é examinado por veterinários depois de ser salvo do abatedouro por ativistas| Foto: Ed Jones/Agence France-Presse

Houve um momento, durante o apogeu da frenética mania chinesa pelos mastins tibetanos, em que um gigante cheio de baba e olhos caídos como Nibble poderia valer US$ 200 mil (R$ 600 mil) e acabar passeando pelos jardins da mansão de algum magnata do carvão no subúrbio.

Em vez disso, no início deste ano Nibble e outros 20 mastins se encontraram enfiados em gaiolas e empilhados em um caminhão com outros 150 cachorros.

Se não fosse por ativistas dos direitos dos animais em Pequim, que literalmente se atiraram na frente do caminhão, os cães teriam acabado em um abatedouro no nordeste da China, onde, por cerca de US$ 5 cada, teriam sido transformados em ingredientes de cozido, imitação de couro e forro para luvas de inverno.

A paisagem do luxo na China está cheia de produtos desvalorizados como Audis pretos, relógios Omega, bebidas refinadas e apartamentos em torres em cidades de terceira classe.

Alguns são vítimas da desaceleração econômica, enquanto outros são prejudicados pela campanha oficial de austeridade que tornou o consumo ostentatório um sinal de advertência para os investigadores da corrupção.

Depois há o mastim tibetano, um cão pastor grande e desajeitado, nativo dos planaltos do Himalaia, que já foi o acessório imprescindível para os chineses ligados em status social.

Quatro anos atrás, um cão de raça pura chamado Big Splash foi vendido por US$ 1,6 milhão (R$ 4,8 milhões), segundo reportagens na imprensa, embora alguns tenham dito que o preço provavelmente foi exagerado por questões de marketing.

Especialistas dizem que US$ 250 mil (R$ 750 mil) por um espécime perfeito não era impossível. Hoje os compradores praticamente desapareceram e os preços caíram para uma pequena fração de seu apogeu.

O preço médio pedido por cães desejáveis, aqueles que têm pelagem que parece juba de leão e membros grossos, é de US$ 2.000 (R$ 6.000), embora criadores desesperados possam baixar mais.

“Se eu tivesse outras oportunidades, deixaria este negócio”, disse Gombo, um antigo criador de Qinghai, no noroeste chinês.

Ele disse que manter adequadamente um de seus carnívoros de 70 quilos custa de US$ 50 a 60 por dia. Desde 2013, aproximadamente a metade dos 95 criadores no Tibete deixou o ramo. De certa maneira, o esfriamento da paixão pelos cães reflete a instabilidade de uma classe.

Famosos por sua ferocidade e associados aos nômades tibetanos, os mastins ofereciam a seus donos chineses da etnia han uma dose de credibilidade do Himalaia, segundo Liz Flora, editora-chefe do Jing Daily, site sobre o mercado de luxo em Pequim.

“Os consumidores chineses han se dispunham a pagar mais por qualquer coisa associada ao romantismo do Tibete.”

Mary Peng, executiva-chefe do Centro Internacional de Serviços Veterinários, um hospital para animais, disse que em seus 25 anos na China viu ondas sucessivas de modas de cachorros.

“Dez anos atrás eram os pastores alemães, depois foram os golden retrievers, os dálmatas e os huskies. Mas, diante dos preços loucos que vimos há alguns anos, nunca pensei que veria um mastim tibetano carregado em um caminhão de carne.”

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