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 | Yasuyoshi Chiba/Agence France-Presse—Getty Images
| Foto: Yasuyoshi Chiba/Agence France-Presse—Getty Images

As imagens já chocaram tanto as elites brasileiras que a presidente Dilma Rousseff convocou uma reunião com os principais auxiliares para dar uma resposta, e donos de negócios obtiveram liminares para excluí-los: milhares de adolescentes, em grande medida da sofrida periferia urbana, se organizaram pela mídia social e promovem excursões ruidosas por shopping centers.

Chamados rolezinhos na gíria das ruas de São Paulo, os encontros de desordeiros pode estar chegando um pouco além de meras aglomerações para abordar assuntos ligados ao espaço público e direitos adquiridos em uma sociedade na qual o padrão de vida dos pobres melhorou, e as classes sociais estão em movimento.

"Por que eles não nos querem dentro dos shoppings?", perguntou Plinio Diniz, 17 anos, que participou de um rolezinho neste mês no Shopping Metrô Itaquera, onde a polícia utilizou gás lacrimogênio e balas de borracha para dispersar a multidão estimada em três mil pessoas. "Nós temos o direito de nos divertir, mas a polícia foi longe demais."

Aborrecidas com os protestos nas ruas que abalaram cidades de todo o país no ano passado, as autoridades estão avaliando cuidadosamente formas de reagir às reuniões, que começaram a aumentar de tamanho e intensidade em dezembro. Sabendo que as manifestações cresceram depois da reação brutal da polícia, as autoridades de Brasília, a capital do país, estão alertando contra o uso de força para desalojar os adolescentes dos shoppings.

Apesar dos temores de vandalismo e saque às lojas, a polícia somente relatou algumas prisões ligadas aos rolezinhos. Mesmo assim, os donos de shoppings refinados conseguiram decisões judiciais segundo as quais sua segurança pode barrar os participantes desses encontros.

Como os rolezinhos envolvem um grande número de adolescentes negros, tais atitudes motivaram a importuna questão de por que os shoppings são pontos tão cobiçados de interação social em São Paulo e outras cidades brasileiras onde os parques ainda são poucos e distantes entre si. "As crianças das classes baixas foram segregadas dos espaços públicos, e agora estão desafiando as regras tácitas", disse Pablo Ortellado, professor da Universidade de São Paulo. "Agora, a presença desses adolescentes nos shoppings é chocante para algumas pessoas porque está acontecendo de forma organizada, em vez de ser difusa."

Geralmente, os rolezinhos são organizados pelo Facebook, com quase 20 planejados em cidades brasileiras para as próximas semanas, e eles costumam envolver o sobe e desce em escadas rolantes e uma boa dose de gritaria, paqueras e o canto de funks brasileiros.

Em um ensaio bastante divulgado sobre os rolezinhos, Leandro Beguoci, editor-chefe da F451 Digital, alertou contra o fato de se atribuir um caráter abertamente politizado desses encontros, assinalando que os maiores eventos eram em shoppings relativamente novos em partes menos prósperas de São Paulo.

"Esses são os filhos da classe C, para quem o consumismo é glorioso", disse Beguoci, 31 anos, referindo-se à classe média em expansão no Brasil.

Rodrigo Constantino, colunista da revista "Veja", criticou severamente quem defende os rolezinhos. "Uma turma de bárbaros invadindo uma propriedade privada para fazer baderna não é protesto ou ‘rolezinho’, mas invasão, arrastão, delinquência", ele escreveu.

Alguns dos adolescentes se disseram surpresos com o fato de que suas reuniões estivessem encontrando tanta resistência. "A gente só quer se divertir", afirmou Letícia Gomes, 15 anos, que participou de um rolezinho em São Paulo neste mês quando a polícia bateu em parte dos participantes. "Para mim, não é uma coisa política. Eu só vou para conhecer gente."

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