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 | Fotos: Drew Kelly/THE NATURE CONSERVANCY
| Foto: Fotos: Drew Kelly/THE NATURE CONSERVANCY
  • O programa BirdReturns utiliza dados coletados por um aplicativo para determinar onde a necessidade por habitat é maior. Pássaros migratórios em campos inundados na Califórnia

O Vale Central era um dos habitat de vida selvagem mais produtivos da América do Norte, um trecho com 700 quilômetros de riachos sinuosos e pântanos exuberantes que oferecia uma parada ideal aos pássaros migratórios em suas jornadas anuais da América do Sul e México até o Ártico.

Desde então, agricultores e engenheiros domaram o vale. Dos pântanos que existiam antes do vale ser colonizado, cerca de 95 por cento já se foram, e o número de pássaros migratórios diminuiu drasticamente. Mas agora uma aliança incomum de conservacionistas, observadores de pássaros e agricultores criou um plano para restaurar o habitat essencial desses pássaros em migração.

"Estamos mexendo com a indústria da conservação ao pegar um novo tipo de dados, analisá-los de forma diferente e contratar de forma diferente", declarou Eric Hallstein, economista do The Nature Conservancy (TNC).

O programa, chamado BirdReturns, começa com dados do eBird, projeto científico pioneiro que pede que observadores de aves registrem aparições num aplicativo de smartphone e enviem as informações ao Cornell Lab of Ornithology, em Nova York.

Processando dados do Vale Central, o eBird consegue gerar mapas mostrando onde praticamente cada espécie se reúne nas áreas úmidas remanescentes. Então, ao sobrepor esses mapas em visões aéreas de águas superficiais existentes, é possível determinar onde a necessidade desse habitat é maior.

Assim o programa BirdReturns, financiado pela TNC, paga agricultores de arroz na rota dos pássaros para manter seus campos inundados com água de irrigação do Rio Sacramento na época de chegada das aves.

A primeira temporada do projeto terminou no mês passado, com os pássaros partindo dos campos recém-inundados em direção ao norte. Pesquisadores afirmaram que todos os pássaros de cujas quantidades eles esperavam um aumento foram vistos nos pântanos "instantâneos" – paradas temporárias na jornada dos pássaros ao norte. Isso aconteceu quando os campos normalmente estariam drenados. Esses campos serão novamente inundados no outono para a viagem de volta das aves. Usando essa e outras abordagens, os conservacionistas do BirdReturns esperam elevar o número de aves costeiras que param no Vale Central para 400 mil – hoje são 170 mil.

O BirdReturns é um exemplo do crescente movimento chamado ecologia de reconciliação, pelo qual ecossistemas dominados pelo ser humano são administrados para ampliar a biodiversidade.

Essa também pode ser uma solução para exportação. A agricultura cria alguns dos problemas ecológicos mais graves do mundo. Se o BirdReturns der certo, ele pode ser um modelo barato para adaptar paisagens agrícolas e mesclá-las com as necessidades da vida selvagem.

As migrações consomem uma grande quantidade de energia e é o que os pássaros fazem de mais arriscado. A cada mês de janeiro, cerca de 20 espécies costeiras – e dezenas de espécies limícolas e aquáticas – começam a chegar no Vale Central, em sua árdua jornada para o norte. Muitas estão oficialmente designadas como "preocupantes", categoria logo abaixo de "ameaçadas".

As aves costeiras – entre elas pilritos, maçaricos, maçaricos-galegos e outros – pousam nos pântanos, e passeiam com suas longas pernas em alguns centímetros de água, ou em planícies de lama, para caçar minhocas, insetos, crustáceos e moluscos com seus bicos longos.

O Vale Central é a paisagem mais desenvolvida que eles atravessam. Até agora, um dos maiores problemas é que em fevereiro, no auge da migração, os produtores de arroz estão deixando seus campos secarem em preparação para o plantio. "Quando eles mais precisam, há cada vez menos habitat", afirmou Mark Reynolds, cientista da TNC que ajudou a desenvolver o programa.

Em 2012, o Dr. Reynolds e Brian Sullivan, líder do projeto eBird para o Cornell Lab of Ornithology, tiveram a ideia de usar os dados de observação para descobrir aonde vão os pássaros costeiros. Eles sobrepuseram esses dados em mapas de disponibilidade de água no Vale Central para determinar onde havia mais necessidade de áreas úmidas.

"Tínhamos um pouco de dados em alguns locais, e sobre algumas espécies, mas com o eBird podemos cobrir todo o espaço", disse Reynolds. "Trata-se de uma janela completamente nova de migração, algo que não tínhamos antes".

Segundo Hallstein, inicialmente foi difícil convencer os agricultores a realizar a mudança. O que ajudou foi quando eles passaram a enxergar a proteção das aves costeiras como apenas mais um cultivo.

Biólogos esperam que a abordagem seja uma solução para um dos maiores problemas dos conservacionistas. "Pássaros migratórios são um desafio preocupante", disse o Dr. Reynolds. "É uma escala hemisférica, sazonal, e cada espécie possui uma história de vida diferente". Mas ele acrescentou que, se os resultados promissores do BirdReturns no Vale Central se comprovarem, "poderemos criar habitat ao longo de toda a rota".

Os patrocinadores estão otimistas. Num recente dia chuvoso aqui, milhares de pilritos atravessaram o céu cor de bronze numa coesa formação de voo antes de pousarem num campo de arroz encharcado. "É bastante empolgante", afirmou o Dr. Reynolds. "Este programa nos fornece uma estratégia de uso dos escassos dólares da conservação. Isso é uma grande esperança".

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