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Quando inspetores decidiram, meses atrás, que a envelhecida ponte sobre o canal Kiel, no norte do país, estava fraca demais para o tráfego de caminhões pesados, Holger Dechant ficou confuso, pois fora contratado para entregar turbinas eólicas gigantes do outro lado.

Por fim, ele criou uma rota alternativa. A empresa vai levar as turbinas para uma balsa, despachá-las para a Dinamarca, ao norte, e depois remetê-las novamente para o sul, de volta à Alemanha, num desvio de 300 quilômetros.

"A coisa está feia assim", disse Dechant. "Nós não investimos o suficiente. E agora temos problemas porque não existe um botão fácil para consertar tudo."

A Alemanha já foi conhecida pelas autobahns (rodovias) supervelozes, indústria eficiente e capacidade de reunir recursos públicos para grandes projetos. Porém, ultimamente, o país se viu forçado a enfrentar um problema atípico: sua infraestrutura – estradas, pontes, trilhos de trem, hidrovias – está envelhecendo de tal forma que pode enfraquecer o crescimento econômico durante anos.

E ao pregar a austeridade aos vizinhos, a Alemanha manteve na rédea curta os próprios gastos em casa. Agora os críticos externos a estão pressionando a fazer mais para estimular a própria economia. Os prováveis parceiros da chanceler Angela Merkel numa nova coalizão governamental, o Partido Social Democrata, de tendência esquerdista, estão buscando mais dinheiro para um série de programas.

Uma comissão designada pelo governo concluiu recentemente que seria necessário gastar 7,2 bilhões de euros anuais durante 15 anos para deixar a infraestrutura existente em boa forma.

"Se não gastarmos, então a Alemanha ficará para trás", disse Kurt Bodewig, chefe da comissão governamental. "Se não gastarmos, as próximas fábricas não serão construídas aqui."

Os grandes problemas só estão começando a aparecer. Um ano atrás, inspetores encontraram rachaduras nos suportes de aço de uma importante ponte rodoviária nos arredores de Colônia, a quarta maior cidade da Alemanha. As autoridades forçaram desvios para outras quatro pontes que agora vão precisar de US$ 202 milhões em obras.

"Pode demorar 20 anos para se construir uma nova ponte", afirmou Michael Groschek, ministro dos transportes da Renânia do Norte-Vestfália. "E nós não sabemos se as pontes atuais conseguem durar tanto tempo."

As estradas ao redor das cidades alemãs vivem congestionadas. Os trens lotados geralmente estão atrasados. No verão passado, um trecho de concreto de uma rodovia envergou com o calor, matando um motociclista e ferindo quatro pessoas. Ainda existem aparelhos de mudança de via férrea que precisam ser operados manualmente. O sistema de hidrovia da Alemanha depende de eclusas antiquadas, em funcionamento há mais de um século.

Segundo as autoridades, a ponte com rachaduras nos arredores de Colônia foi construída para suportar 35 mil veículos por dia, mas agora aguenta 120 mil.

De acordo com especialistas, a Alemanha está ficando para trás até mesmo na infraestrutura digital. O país se mostra lento ao implantar uma rede de fibra óptica de alta velocidade, e agora foi superado por países como Bulgária, Lituânia e Romênia. Autoridades de cidades pequenas ficaram tão cansadas de esperar que começaram a agir sozinhas para instalar cabos de fibra óptica, com cada morador colaborando com mil euros por cabeça.

"Por exemplo, nós temos uma usina de aço interessada em se mudar para outra comunidade onde a internet é melhor", afirmou Holger Jensen, prefeito de Lowenstedt, vilarejo de 650 habitantes. "Nós vimos que algo tinha de ser feito e rápido."

Chris Cottrell colaborou com esta reportagem

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