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No primeiro episódio da série dramática norte-americana "The West Wing", os subalternos idealistas do presidente rastreiam uma flotilha de cubanos que tenta chegar à Flórida em uma jangada. Um funcionário, Josh Lyman, fica cada vez mais frustrado com as armadilhas diplomáticas que impedem o resgate.

"Se um desses caras for bom de bola rápida, mandamos o USS Eisenhower."

Essa é a representação do triângulo amoroso que envolve Cuba, os EUA e o beisebol há décadas – e agora que Washington e Havana vão reatar as relações diplomáticas, os fãs do esporte já calculam quanto tempo vai demorar para que os times norte-americanos comecem a contratar atletas da ilha livremente.

Como Michael S. Schmidt, do The Times, escreveu, Cuba tem um dos maiores volumes de jogadores talentosos fora dos EUA, mesmo que não possam participar das disputas principais desde 1959 – com exceção dos que desertaram, geralmente fugindo de barco no meio da noite. (A última temporada contou com 19 cubanos.)

A maioria esperava um estreitamento nas relações entre ambos. Schmidt conta a história de um jantar, realizado em Havana, em 1999, no qual estiveram vários executivos do esporte, incluindo o comissário Bud Selig e Fidel Castro. "O cubano contou vários casos pitorescos a Selig, chegando a fantasiar o que aconteceria se os laços entre os EUA e

Cuba se normalizassem", escreveu.

Essas fantasias agora começam a se espalhar, tanto que a alta cúpula da organização do esporte teve que mandar uma nota lembrando a todos que ainda é ilegal mandar olheiro para Cuba.

Os jornalistas, porém, têm liberdade para olhar, e Michael Powell, do The Times, visitou um complexo chamado Ciudad Deportiva para conferir, em primeira mão, o que chamou de "obsessão gloriosa em pleno vigor".

"É um diamante empoeirado atrás do outro. Até onde a vista alcança, tudo o que se vê é criança, adulto e idoso arremessando, rebatendo ou pegando a bola", escreveu.

E o entusiasmo não exige equipamento caro ou especial. Powell descreve um jogo que reflete a situação econômica de Cuba, com campos maltratados, bolas coladas com fita crepe e daí para pior.

"Os tacos e luvas são tão escassos que os treinadores têm que recolher tudo ao fim de cada jogo. Na Avenida 49, entre os montes de roupa para lavar, à sombra das palmeiras, vi um grupo jogando com pedaços de pau e a tampinha plástica branca de uma garrafa de água."

Talvez sonhem um dia usar o uniforme de um dos grandes times – mas não podem se esquecer de que, quando um olheiro vai para o sul, tem em mente as várias ilhas da região. Como Curaçao.

Ao contrário de Cuba, que tinha jogadores disputando o campeonato norte-americano na primeira metade do século XX, Curaçao só teve o primeiro em 1989. Na temporada passada, porém, já havia sete – média fenomenal para um país de apenas 150 mil habitantes. Um deles, Didi Gregorius, deve substituir Derek Jeter, o astro aposentado do New York Yankees.

David Waldstein, do The Times, que foi a Curaçao, ouviu in loco a principal teoria para explicar o talento dos nativos, a mesma que se aplica aos cubanos que jogam com a tampinha: os garotos praticam em campos cheios de pedras. Estão acostumados às más condições.

"Você reparou nos diamantes daqui? Jogando neles todo dia dá para desenvolver um reflexo acima da média", explica Fermin Coronel, organizador da Academia de Beisebol Holandesa do Caribe.

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