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Delchev senta em banco criado por ele e integrantes do grupo Transformers com o objetivo de deixar Sófia mais divertida | Boryana Katsarova para The New York Times
Delchev senta em banco criado por ele e integrantes do grupo Transformers com o objetivo de deixar Sófia mais divertida| Foto: Boryana Katsarova para The New York Times

Delcho Delchev voltou.

Como muitos de sua geração, isso significa contrariar a maré de emigração de seu país natal, a Bulgária, para o resto da Europa. Mas Delchev, arquiteto de 34 anos, é um dos fundadores de uma organização sem fins lucrativos chamada Transformers, que desde 2009 procura alegrar este antigo posto avançado soviético com projetos de arte e design cívicos e de baixo custo.

Ele retornou alguns anos atrás, recusando uma oferta de permanecer na França, onde estudava.

Aqui em Sófia, prédios da era soviética —muitos deles decrépitos— se erguem como dominós, e esculturas das eras comunista e czarista dominam os espaços públicos. O desemprego vem crescendo, e há meses manifestantes criticam publicamente o governo, visto como corrupto e fora de sintonia com a população.

Mas Sófia também é uma cidade de parques e espaços verdes, e é possível ver as pessoas mais jovens ansiosas por se libertar da homogeneidade estética. Recentemente, uma escultura gigante de soldados soviéticos em um parque da região central foi pintada de cor-de-rosa.

Delchev decidiu que gostava do espaço mais amplo e aberto oferecido pela Bulgária. "Provavelmente devido à minha alma, prefiro organizar a vida do jeito que quero, em vez de apenas ir para algum lugar que já é muito organizado, onde terei menos a fazer como criador", explicou.

O grupo Transformers, composto por mais de 20 arquitetos e estudantes, tem suas obras espalhadas pela cidade. Os Transformers são conhecidos por criar pinturas esdrúxulas sobre grandes caixas elétricas ao ar livre. Uma delas foi coberta por uma figura abstrata com olhos de peixe dançando contra um fundo de céu azul forte, outra, com uma imagem como a de uma história em quadrinhos de um criminoso posando para foto policial, e uma terceira ostentava um gato sorridente. Imitações começaram a pipocar em vários pontos da cidade.

Os Transformers projetaram um playground em um bairro da minoria cigana perseguida e criaram um mapa das instituições culturais da cidade e de seus locais promissores abandonados.

Em outro projeto, os Transformers construíram bancos "de chave inglesa", que se encaixam em volta das grandes floreiras hexagonais espalhadas pela cidade, que lembram parafusos gigantes de concreto. "Vi a floreira e pensei: ‘Vamos fazer algo com senso de humor!’", disse Valeri Gyurov, 31, outro fundador do grupo. "Procuramos transformar coisas ruins, normais ou entediantes em algo novo, para que as pessoas possam apreciá-las, se divertir e começar a usá-las."

Gyurov tinha projetado dois prédios governamentais para seus empregadores passados, mas, devido à crise financeira, nenhum dos dois saiu do papel. "Cada um de nós estava trabalhando em uma firma de arquitetura diferente, com projetos ditos normais, mas nenhum de nós estava feliz ou realizado com o trabalho. Queríamos fazer alguma coisa alternativa. Num primeiro momento, foi um hobby, mas depois virou trabalho em tempo integral e profissão."

O grupo recebe verbas de fundações e da prefeitura. Esta contratou os Transformers recentemente para auxiliar outros grupos na criação do trabalho de candidatura de Sófia no Desafio de Prefeitos. Trata-se de um concurso de design patrocinado pela fundação Bloomberg Philanthropies, criada pelo ex-prefeito de Nova York Michael R. Bloomberg, para oferecer verbas para projetos urbanos. A Fundação América para a Bulgária está dando cerca de US$ 60 mil neste ano especificamente para financiar um workshop que os Transformers criaram para estudantes de arquitetura.

Numa tarde recente, Delchev estava montando um banco de parque feito de dois tubos de esgoto conectados. Criado para um concurso municipal, o trabalho buscava a aparência dos bastões de combate usados por ninjas. A recepção que teve foi ambígua. Um engenheiro elétrico aposentado de 82 anos, Vasil Tsankov, caminhou ao lado e parou para olhar."Quem é que consegue se sentar nisto?", perguntou, possivelmente não captando o espírito brincalhão de um banco de ninja.

Delchev pareceu achar graça no feedback. Então arrastou o banco para seu lugar de destino, do outro lado do parque. Para ele, pelo menos, esta terra em transição é o lugar perfeito para trabalhar. "A realidade na Bulgária é mais provocante e desafiadora."

Colaborou Milen Enchev

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