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A imagem de uma deusa grega chorando, feita por Banksy em uma porta, foi apreendida pelo grupo islâmico Hamas | Mohammed Saber/
A imagem de uma deusa grega chorando, feita por Banksy em uma porta, foi apreendida pelo grupo islâmico Hamas| Foto: Mohammed Saber/

Muito pouco restou da casa da família de Abu Shadi Shenbari em Beit Hanoun, no norte da Faixa de Gaza. Apenas uma parede de concreto do banheiro ficou de pé quando as forças israelenses destruíram o bairro perto da fronteira com Israel durante a guerra com o Hamas no ano passado.

Shenbari construiu agora um forte de madeira e arame com um frágil telhado de nylon para proteger a parede do banheiro bombardeado, que é agora o lar de uma imagem de três metros de altura de um gatinho.

O mural feito com spray foi criado pelo enigmático grafiteiro britânico Banksy, que sorrateiramente entrou e saiu de Gaza em fevereiro, deixando sua marca em três paredes nos escombros que resultaram da luta de 50 dias entre Israel e o Hamas, grupo islâmico que controla Gaza.

Os moradores de Gaza, extremamente preocupados com a lentidão do processo de reconstrução nesta faixa costeira Palestina, empobrecida e isolada, começam a perceber o valor da arte de Banksy que apareceu no meio das ruínas.

“Se eu tivesse dinheiro suficiente, iria comprar uma proteção de vidro e colocá-la lá dentro. Eu faria um museu para que os americanos e as pessoas de outros países pudessem visitá-la. Para mim, esse é um tesouro Palestino”, disse Shenbari por telefone sobre a pintura.

E esse tesouro está sendo disputado. Em abril, outra obra de Banksy em Gaza, uma imagem de uma deusa grega chorando, que ele pintou na porta de ferro de outra casa destruída, tornou-se objeto da contenda legal entre o proprietário e um artista oportunista de região.

Rabie Darduna, cuja casa foi destruída com exceção da porta, disse que não sabia que as obras de Banksy poderiam custar centenas de milhares de dólares internacionalmente quando concordou em vender sua porta como sucata para um artista local de Gaza, Belal Khaled. Khaled pagou 700 shekels (cerca de US$180) e disse que ele queria proteger o mural da deusa, mas o Hamas enviou policiais para confiscar a porta. A propriedade da obra será decidida no tribunal.

Em seu site, Banksy, que nunca revelou sua identidade, disse que queria divulgar a destruição em Gaza postando fotos em seu site, “mas na internet, as pessoas só veem fotos de gatinhos”. Além do gatinho e da deusa, Banksy pintou outro mural que mostra crianças balançando em uma torre de vigia militar israelita, como se fosse um gira-gira.

“É uma mensagem para Israel e todo o mundo que as guerras aqui põem todos em risco, incluindo os gatinhos”, disse Shenbari.

Mais de 2.200 palestinos foram mortos no conflito de 50 dias entre Israel e o Hamas em julho e agosto, civis na maioria, de acordo com as Nações Unidas. Mais de 70 pessoas, na maioria soldados, foram mortas no lado israelense.

Rasha Abu Zayed, artista proprietária do Atelier Centro de Artes e Educação na cidade de Gaza, disse que a visita de Banksy causou um rebuliço na comunidade artística e atraiu a atenção das autoridades do Hamas, que normalmente não são vistas como peritas em arte.

“O governo do Hamas não compreende nem aprecia a arte, mas veja o que fizeram no mês passado”, disse Rasha, referindo-se à apreensão da pintura da deusa.

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