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Sandar Khine é uma das dezenas de artistas birmaneses que estão se destacando internacionalmente. Galerias como a TS1 surgem em Rangum | Fotografias de Mathieu Willcocks para The New York Times
Sandar Khine é uma das dezenas de artistas birmaneses que estão se destacando internacionalmente. Galerias como a TS1 surgem em Rangum| Foto: Fotografias de Mathieu Willcocks para The New York Times

ON-LINE: Saindo das sombras

Uma visão do cenário artístico de Rangum, em Mianmar: nytimes.com Busque Proibido na Birmânia

Antigamente, mesmo se os nus desproporcionais e coloridos de Sandar Khine passassem pelos censores militares e chegassem a ser expostos, seriam cobertos por panos pretos ou ficariam escondidos nos cantos menos visíveis.

Hoje, suas telas saíram do escuro. O governo quase-civil de Mianmar aboliu a censura em 2012, estimulando a liberação das artes – e a nova liberdade permitiu que temas inócuos, como pagodes e paisagens, fossem deixados de lado em favor dos motivos mais políticos, como a líder oposicionista Daw Aung San Suu Kyi e seu pai, o General Aung San, herói revolucionário.

O trabalho de dezenas de artistas está recebendo grande atenção no país, principalmente em Rangum, onde o cenário artístico, que contava com apenas algumas galerias em 2012, se expandiu para mais de trinta hoje – como a TS1, situada em um antigo galpão. E obras que já foram proibidas também estão entrando no circuito internacional.

"Banned in Burma: Painting Under Censorship" ("Proibido na Birmânia: Pintura Sob Censura"), atualmente em cartaz no Centro de Artes Visuais de Hong Kong, mostra o trabalho de vinte artistas que se arriscaram a criar sob um regime opressor.

Em uma das pinturas de Sandar Khine na mostra, "Untitled", um homem visto de costas, agachado, apoia a cabeça contra um fundo vermelho-sangue.

Ali também estão duas telas da famosa série do falecido pintor Khin Muang Yin, "Seated Dancer", cujos modelos aparecem todos sem mãos – símbolo que serviu de protesto contra a prisão domiciliar de Aung San Suu Kyi.

Zwe Yan Naing é mais direto: em "Reborn", peça de 2011 que já foi censurada, ele mostra o renascimento do General Aung San, que foi assassinado.

Além dos artistas selecionados para a exposição, vários nomes locais ganharam destaque internacional, incluindo Aung Myint, famoso por seus desenhos monocromáticos, e o casal Wah Nu e Tun Win Aung, que usa fotos, pinturas e instalações para mostrar a sociedade birmanesa. Os três também estão no Museu Guggenheim de Nova York como parte da exibição "No Country".

"O cenário artístico está se desenvolvendo com extrema rapidez. A atenção internacional cresce a cada minuto, com exposições, artigos e programas de residência", afirma Borbala Kalman, historiadora de arte húngara que vive em Rangum.

A situação, porém, era bem diferente há três anos. Durante os anos da junta, o material básico era escasso e os artistas tinham dificuldade em se manter, sendo que muitos tiveram que arrumar um emprego. "Era bem complicado. Não havia mercado para nossas obras, não havia estúdios. A única coisa que dava algum dinheiro era ilustração para os jornais. Eu não tinha nem lugar para pintar", conta Myo Nyunt Khin.

Mais desconcertante, porém, era o limite obscuro entre o aceitável e o ofensivo. Sandar e Aung disseram que muitas vezes peças que pareciam inofensivas eram confiscadas, principalmente se tivessem a cor vermelha que, para os militares, representava a violência e a exortação à resistência. Exibindo as fotos de seus trabalhos em um laptop na Galeria Pansodan, Bagyi Lynn Wunna disse que, em 1994, ficou um ano preso por incluir o pavão em uma peça, animal símbolo da rebelião estudantil contra o governo. "Hoje não tenho mais medo", ele afirma, admirando "In The Room", de 2012, quadro em que pintou seis pombas brancas na frente da porta escura de um presídio.

Alguns se arriscam em estilos famosos como o Cubismo, enquanto outros vão buscar inspiração no passado distante, usando técnicas como o bordado e as tapeçarias em fios de ouro para reconstruir a mitologia. Em seu ateliê na periferia de Rangum, Sandar vibra: "Hoje eu posso fazer o que quiser e exibir meu trabalho livremente, como sempre foi minha intenção".

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