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O rapper Nelly, ao centro, juntou-se a Brian Kelley, à esquerda, e Tyler Hubbard, do Florida Georgia Line, em Las Vegas | Al Powers/Invision, via Associated Press
O rapper Nelly, ao centro, juntou-se a Brian Kelley, à esquerda, e Tyler Hubbard, do Florida Georgia Line, em Las Vegas| Foto: Al Powers/Invision, via Associated Press

O astro da música country Blake Shelton trabalhava na composição das canções do álbum "Based on a True Story", há um ano e meio, quando enviou uma mensagem de texto a John Esposito, presidente de seu selo, a Warner Bros. Nashville.

"Espo, acabamos de gravar algo que vai dar grana, muita grana", disse Esposito, recordando a mensagem.

Blake é um dos grandes astros do gênero country e sabe tudo sobre como ganhar dinheiro com isso. Assim, quando ouviu "Boys ‘Round Here", de Shelton, Esposito foi até o estúdio Ocean Way.

Surpreendentemente, a música era Blake Shelton cantando um rap. "Boys ’Round Here" acabaria chegando à segunda posição na parada country da "Billboard" e daria ao cantor sua posição mais alta na lista Billboard Hot 100.

É um sinal dos tempos atuais em Nashville: um dos grandes tradicionalistas do gênero country mergulhando de cabeça em algo que pode ter parecido uma moda passageira, a sobreposição entre hip-hop e country, e fazendo sucesso com isso.

O country está em rota de colisão com o hip-hop há alguns anos, e a adesão de Blake Shelton, por passageira que possa ter sido, mostrou que o que está acontecendo é mais que um mero flerte.

Houve algumas mudanças geracionais em Nashville, e a música country não está mais se isolando do resto do mundo. Basta pensar nas músicas de Luke Bryan sobre as férias de primavera, no rock soft do grupo Lady Antebellum, nas canções de luta de Jason Aldean, em um sem-número de canções —de Bryan, de Aldean, do Florida Georgia Line e de outros— que incorporam raps e nas canções de Keith Urban, Jerrod Niemann e Jake Owen, entre outros, que fazem concessões à pista de dança.

Uma geração de cantores country, a maioria na casa dos 30 anos, cresceu tendo o hip-hop como parte da vida, mesmo em suas cidades pequenas de origem, e acha normal incluir um pouco disso em sua música. Luke Bryan, possivelmente o maior astro country do momento, explicou: "Ninguém cresceu mais country que eu, e ouvíamos Eazy-E e 2 Live Crew".

Bryan conquistou fãs apresentando-se não apenas em bares pequenos, mas também em festas universitárias. "A gente via o que os DJs tocavam depois de nós", contou. "Assim que eu descia do palco, eles começavam a tocar Juvenile e Outkast."

Essa hibridez natural possibilitou a existência de uma nova categoria de cantores que inclui Bryan, Aldean e, mais notavelmente, o duo Florida Georgia Line, cujo sucesso "Cruise", com inflexões de hip-hop, foi um dos maiores singles de pop do ano passado, com a ajuda de um remix do rapper Nelly.

"Jason e Luke abriram as portas", comentou Tyler Hubbard, do Florida Georgia Line. "Este som faz parte da evolução da música country."

Esposito disse que não tem sido difícil encontrar letristas para colaborar com o rapper country Big Smo, que ele contratou e está prestes a lançar seu álbum de estreia. Hoje, disse outro rapper country, Colt Ford, os demos de letristas interessados em divulgar seu trabalho "já vêm com raps".

Assim como o hip-hop afeta o modo como os cantores country cantam, a música dance impacta a sonoridade de algumas canções country. Sucessos recentes como "Drink to That All Night", de Niemann, levam Nashville de volta à pista de dança.

Esse fenômeno emergente foi evidenciado numa noite de março no Dierks Bentley’s Whiskey Row, misto de bar e boate em Scottsdale, Arizona, que segue um estilo que pode ser descrito como falso honky-tonk moderno urbano.

Dee Jay Silver se apresentará na casa durante um mês. O DJ virou presença constante em clubes de todo o país, fazendo apresentações ecléticas que quase sempre incluem um toque country.

Em abril, Silver lançou um show de fusão country na rádio, transmitido para mais de 40 cidades.

A fusão de country e hip-hop já virou mainstream, sendo tocada em boates, nas férias de primavera, nas festas universitárias e nas cidades. À medida que o gênero parece se distanciar, cada vez mais, da vida do campo, ele abre uma brecha para o country-rap, que, em muitos casos, tem letras muito mais rurais do que o que se ouve nas rádios.

Em Unionville, Tennessee, pequena cidade a uma hora de distância de Nashville, Big Smo vive numa casa pequena num grande promontório. Estando ali é difícil refutar as credenciais country de Big Smo, mesmo que o meio que ele empregue para expressá-las não seja o mais conhecido. Ele faz raps sobre preocupações de trabalhadores braçais e sobre vidas distantes de festas universitárias. Com isso, encontra muitos ouvintes.

"Vou conquistar esses fãs estranhos do country", disse Big Smo, abrindo caminho entre vacas no pasto adjacente à sua casa. "Aqueles que não se sentem parte de nenhum grupo. Vou dizer algo como: ‘Ei, vocês aí que mascam fumo e tomam uísque falsificado, venham comigo. Somos todos parentes. Vamos lá.’"

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