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A ascensão e queda de impérios, o fluxo das rotas comerciais, a prática da escravidão — todos esses eventos resultaram na miscigenação das populações ao redor do mundo. Tais episódios deixaram um registro no genoma humano que, até então, era complexo demais para ser decifrado em escala global.

No entanto, um grupo de geneticistas, aplicando uma nova abordagem estatística, começou a identificar e datar os eventos que causaram as maiores misturas populacionais dos último quatro mil anos.

Os cem mais importantes descritos por eles têm explicações históricas plausíveis; por exemplo, muitas populações do sul do Mediterrâneo e Oriente Médio possuem segmentos de origem africana em seus genomas, que foram inseridos entre 650 e 1900 d.C., o que reflete a atividade do comércio escravo árabe, originado no século VII, e a absorção dos escravos nas populações hospedeiras. Outra ocorrência crucial foi a injeção de DNA europeu nos kalash, povo do Paquistão, entre 990 e 210 a.C., o que pode refletir a invasão da Índia por Alexandre, o Grande em 326 a.C.

O atlas genético foi publicado no jornal Science por uma equipe liderada por Simon Myers, da Universidade de Oxford, Garrett Hellenthal, da University College London, e Daniel Falush, do Instituto de Antropologia Evolutiva Max Planck de Leipzig, na Alemanha. Depois de coletar amostras de genomas de várias partes do mundo, os cientistas descobriram que podiam distinguir cerca de 95 populações diferentes.

Os genomas estão cheios de mutações que ocorrem em padrões, já que as mesmas são transmitidas de pai para filho, ou seja, são específicas a uma determinada população. Baseados nisso, os geneticistas podem analisar o genoma de uma pessoa e relacionar a ancestralidade de cada segmento a uma raça ou população em particular.

A equipe liderada pelo Dr. Myers desenvolveu uma técnica para a identificação dos segmentos cromossômicos com bastante precisão, podendo determinar até datas nos eventos de miscigenação. O sistema é baseado na medida do comprimento dos segmentos do cromossomo de uma linhagem específica. Quando pessoas de duas populações diferentes se casam entre si, os genomas de seus filhos carregam grandes porções do DNA de ambos os pais.

A partir daí, a cada geração sucessiva, o tamanho dessas porções vai diminuindo, permitindo que se calcule o número de gerações desde o evento da miscigenação.

O Dr. Myers e seus colegas detectaram antecedentes europeus no povo Tu, da China central, entre os séculos XI e XIV, por exemplo, e supõem que pode ter sido dos comerciantes que percorreram a Rota da Seda.

Entretanto, eles não trabalharam com historiadores. "Há uma grande vantagem em ser objetivo: você entra com os dados e obtém fatos históricos", diz o Dr. Falush. "Acreditamos que esse seja mesmo uma maneira de reconstruir a história usando apenas o DNA."

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