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Cães são capturados; segundo a ONU, 4.000 pessoas são mordidas por mês na ilha de Bali, Indonésia | Ulet Ifansasti /The New York TImes
Cães são capturados; segundo a ONU, 4.000 pessoas são mordidas por mês na ilha de Bali, Indonésia| Foto: Ulet Ifansasti /The New York TImes

A controvérsia começou quando uma pequena vira-lata de cor creme chamada Sheila mordeu a perna de uma menina australiana de dez anos.

Kuta Beach, a praia mais frequentada na paradisíaca ilha de Bali, é conhecida pelo bom surfe, a cerveja gelada, música alta e cães esquálidos. Em Bali, onde 80% da economia dependem do turismo, notícias de mordidas de cão e surtos de hidrofobia mancham a imagem da famosa ilha tropical.

A mordida dada por Sheila em 27 de janeiro gerou um debate sobre os cães e o que, para alguns moradores, é um esforço draconiano do governo para controlá-los.

Testemunhas disseram que, minutos após a mordida, membros da equipe de segurança de Kuta Village, armados com tacos, cercaram a cachorra.

“Um homem a perseguiu com o que parecia um remo e começou a golpeá-la repetidamente na cabeça e a afogá-la intermitentemente”, relatou Praveen Elango, um turista indiano. “Outro homem se aproximou com um tijolo e o usou para bater nela.”

Sheila foi retirada do local por um instrutor de surfe. Mas, no dia seguinte, os outros cães que circulavam naquela parte da praia tinham sumido. Pessoas que trabalham ali dizem que o governo os encurralou de madrugada e os matou. Dedi Suherman, 35, outro instrutor de surfe, declarou: “As pessoas estão furiosas com isso”.

Dois dias depois, o governador de Bali, I Made Mangku Pastika, convocou a população a se unir ao governo para matar todos os cães sem dono da ilha, que, segundo seus cálculos, chegavam a 500 mil.

“Caso vocês vejam um cão desgarrado, não hesitem em matá-lo, eliminá-lo. Não deixem esses cães circularem espalhando a doença”, disse ele, segundo um jornal local.

O governo de Bali oferece tratamento médico, incluindo vacinas, para qualquer morador mordido por um cão de rua, mas o governador disse que a província está sem dinheiro para comprar a vacina.

Segundo a ONU, entre 2010 e 2012, em média, mais de 4.000 pessoas por mês foram mordidas por cães em Bali, ilha que tem 4 milhões de habitantes. Como nem sempre é possível saber se um cão está hidrófobo, geralmente se recomenda tratamento médico.

O governador exortou pela primeira vez a população a matar cães de rua em 2008, após os primeiros casos de hidrofobia. E voltou a fazê-lo em julho passado. Grupos de defesa dos direitos dos animais denunciaram essas campanhas como “um apelo ao extermínio”, que provavelmente levaria à morte de cães de estimação vacinados, confundidos com vira-latas hidrófobos.

Os moradores de Kuta Beach divulgam fotos dos cães desaparecidos, e as autoridades dizem que não houve um único caso registrado de hidrofobia em cães ou pessoas por lá. Alguns argumentam que os cães fazem parte da cultura da ilha, de tradição hindu, e merecem respeito.

Putu Sumantra, chefe do departamento de vigilância sanitária de Bali, disse que o governo continuará a matar cães “seletivamente”, porém que a principal estratégia governamental para erradicar a hidrofobia é a vacinação.

O governo tem realizado vacinações em massa e pretende dar continuidade a essa ação.

Matar cães não reduz o contato entre animais doentes e saudáveis, ao passo que vacinar a maioria dos cães pode prover imunidade coletiva.

A menina australiana passou por tratamento preventivo, mas provavelmente nunca correu perigo. Sheila fora vacinada e usava uma coleira atestando isso. A cachorra, que está escondida sob os cuidados de uma família local, deverá voltar à praia e sua imunidade ajudará a impedir a disseminação do vírus, dizem ativistas.

A fundadora da Associação pelo Bem-Estar dos Animais de Bali, Janice Girardi, disse: “Eles são nossos cães guerreiros”.

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