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Kunkel (à dir.) e Berman, donos de empresas que vendem maconha para fins medicinais: maços de dinheiro para pagamentos | David Ryder para The New York Times
Kunkel (à dir.) e Berman, donos de empresas que vendem maconha para fins medicinais: maços de dinheiro para pagamentos| Foto: David Ryder para The New York Times

Em seu escritório na zona norte de Seattle, Ryan Kunkel coloca tijolos de dinheiro vivo —dezenas deles, com mil dólares cada— num saco de papel. Ao terminar, acomoda o dinheiro no porta-malas da sua BMW e parte para um tenso trajeto pelo centro da cidade, sempre checando se não há ninguém o seguindo.

Apesar do ar de criminalidade, não há nada de ilícito no que Kunkel está fazendo. Ele é sócio de cinco estabelecimentos que vendem maconha medicinal e, neste dia, se dirigia ao Departamento da Receita para pagar US$ 51.231 em impostos.

"Transportar tamanha quantidade em espécie é um risco terrível, que me assusta um pouco, porque há na minha cabeça o medo de que o carro que vem imediatamente atrás de mim pode ser o do pessoal que vai nos sequestrar."

Os comerciantes de maconha legalizada nos EUA praticamente só trabalham com dinheiro vivo, porque é difícil para eles abrir e manter contas bancárias e, portanto, aceitar cartão de crédito. O problema ilustra a colcha de retalhos que são as leis federais e estaduais que orientam o comércio da maconha. Embora 20 Estados e o Distrito de Colúmbia (Distrito Federal) autorizem o uso médico ou recreativo da maconha, a droga continua ilegal sob a lei federal.

Por isso, os bancos relutam em oferecer serviços tradicionais para empresas associadas à maconha. Temem que as agências reguladoras e policiais de nível federal os punam pela violação de leis relativas à lavagem de dinheiro, entre outras regras federais.

"Os serviços bancários são a questão mais urgente que a indústria da cânabis enfrenta hoje em dia", disse Aaron Smith, diretor-executivo da Associação Nacional da Indústria da Cânabis, em Washington, acrescentando que a venda legal de maconha nos EUA pode chegar a US$ 3 bilhões neste ano. "Tanto dinheiro flutuando por fora do sistema bancário não é seguro e não é do interesse de ninguém."

Os donos de empresas que vendem maconha já conceberam estratégias para evitar as suspeitas dos bancos. Vários escritórios jurídicos abriram contas ao estabelecerem holdings que ocultam a natureza do negócio. Alguns proprietários simplesmente usam contas bancárias pessoais. Outros recorreram a gerentes de bancos locais dispostos a assumir riscos.

Mas as instituições financeiras acabaram fechando muitas dessas contas quando os gerentes concluíram que o negócio era arriscado demais. Enquanto estão ativas, no entanto, essas contas podem enfrentar restrições informais, de modo a não atraírem o escrutínio dos executivos bancários, que podem denunciar atividades suspeitas ou serem obrigados a informar depósitos superiores a US$ 10 mil em espécie. Líderes da indústria da maconha dizem que abrir contas para as empresas permitiria mais transparência e uma regulamentação meticulosa.

Tanto os bancos quanto os empreendedores da maconha gostariam que houvesse diretrizes claras do governo a respeito de como as instituições financeiras podem atender ao setor. O secretário federal de Justiça, Eric Holder, recentemente prometeu novas diretrizes bancárias para as empresas ligadas à maconha. As regras não devem oferecer sinal verde aos bancos, mas orientarão os promotores a não priorizar casos envolvendo empresas de comércio de maconha que usem bancos.

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