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Majken Gilmartin, treinadora de um time de futebol feminino juvenil, com a bola | Fred R. Conrad/The New York Times
Majken Gilmartin, treinadora de um time de futebol feminino juvenil, com a bola| Foto: Fred R. Conrad/The New York Times

Aos doze ou treze anos, muitos jogadores de futebol ao redor do mundo trocam a bola infantil pela maior, usada pelos profissionais – mas quando uma treinadora juvenil dinamarquesa chamada Majken Gilmartin observou a equipe da filha fazer essa transição, em 2007, ficou apavorada com o que viu.

Assim que as meninas começaram a usar a bola maior, Majken percebeu uma diferença na forma de jogar. "Elas ficavam cansadas", conta. E ficou com medo que a bola aumentasse o risco de lesões.

"Por que estamos treinando a garotada com uma bola desse tamanho? Ela é para adultos. Por que fazer as meninas jogarem com ela?", ela se questionou.

Majken conhecia jogadoras dos times de elite com danos recorrentes nos joelhos e tornozelos. Ela própria jogou a vida inteira, com um histórico de cirurgias no joelho – sete no total, começando aos 16 anos. E achava que a bola era a culpada, pelo menos em parte. Assim, em 2008, decidiu desenvolver uma versão menor e mais macia para mulheres e meninas e hoje a vende através da Eir Soccer, uma ONG que criou em Copenhague.

A bola Eir, feita na Índia e Paquistão com materiais importados da Coreia e Japão, é de 28 a 85 gramas mais leve e até 4 cm menor no diâmetro que a versão profissional. A matéria também é mais macia, incluindo isopor no interior, para reforçar o quique.

A Eir custa US$58. Por outro lado, as bolas de alta qualidade usadas em jogos oficiais variam de US$35 a US$160. Majken calcula que, até agora, os clubes e jogadores individuais já compraram 16 mil exemplares, só na Dinamarca.

Um dos especialistas que ajudou no design foi Thomas Bull Andersen, professor associado do Departamento de Ciência Esportiva da Universidade de Aarhus, na Dinamarca. Para ele, as mulheres – com pernas e tornozelos mais esbeltos – têm que chutar a bola padrão a uma velocidade maior que os homens para produzir o mesmo efeito. As características da Eir compensam essa diferença.

A nova bola também protege contra um tipo de perigo de que Majken não se apercebeu inicialmente: as concussões. Para as meninas, o futebol representa o maior risco de concussões que em qualquer outro esporte, afirma o Dr. Robert Cantu, professor de Neurologia e Neurocirurgia da Escola de Medicina da Universidade de Boston. Apenas uma pequena porcentagem delas é causada pelo contato com a bola, mas a Eir pode evitar até esse número baixo. Ele observa que a mudança para bolas mais macias no beisebol juvenil resultou em menos lesões de cabeça naquela modalidade.

"Quase todos os esportes se adaptaram para dar às mulheres melhores chances de praticá-los", diz Majken, para quem o tamanho da bola deveria ser determinado pela idade e estatura, no caso das meninas. Além delas, os meninos, as mulheres e os homens mais baixos também se beneficiariam de uma bola mais macia.

A Associação Dinamarquesa de Futebol, órgão máximo do esporte na Dinamarca, aprovou o uso da Eir para jogos recreativos de meninas e mulheres há quatro anos. Recentemente, porém, Majken pediu que a instituição a tornasse a bola padrão para o futebol feminino e torce para que a FIFA faça o mesmo.

Para Brandi Chastain, que jogou na liga de elite e já fez parte da seleção nacional dos EUA, as mulheres dos times profissionais não deveriam trocar a bola, mas concorda que a versão menor traria benefícios para meninos e meninas. "Não faz sentido ver um garoto de doze anos usando a mesma bola que um homem de 1,85 m e 90 kg", diz ela.

Só que mudar hábitos arraigados é sempre um desafio. Administrar uma pequena ONG no mercado multibilionário das roupas esportivas, também. E, como Majken observa: "O futebol feminino não dá dinheiro e não há um número significativo de torcedores". Por outro lado, Brandi aposta na vantagem da Eir: sua velocidade.

"É melhor para fazer gols porque é mais difícil para o goleiro segurar. E acho que todo mundo, principalmente na cultura norte-americana, gostaria de ver mais gols no futebol", conclui a jogadora.

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