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Novos suprimentos de bourbon e de petróleo levam anos para chegar ao mercado | William DeSHAZER para THE NEW YORK TIMES
Novos suprimentos de bourbon e de petróleo levam anos para chegar ao mercado| Foto: William DeSHAZER para THE NEW YORK TIMES

O mercado de petróleo cru está em queda livre, tendo despencado 30% desde junho. Já as consequências estão apenas começando a se fazer sentir. Analistas alertam sobre falências de campos petrolíferos texanos e problemas econômicos em países produtores de petróleo, como Venezuela e Nigéria.

Se os preços do petróleo permanecerem baixos ou caírem ainda mais, essa será uma das tendências mais importantes a moldar a economia mundial em 2015. Mas por que isso está acontecendo? Para responder à pergunta, é útil considerar o mercado de outro fluido armazenado em barris: o bourbon.

O que o petróleo e o bourbon têm em comum é o longo período de tempo entre o investimento numa nova oferta e a disponibilidade do produto acabado. No caso do bourbon, um destilador no Kentucky precisa armazenar o produto por sete, dez ou até 20 anos antes de ele estar pronto para consumo. No caso do petróleo, os investimentos em novos projetos de extração frequentemente levam anos antes de o óleo cru começar a jorrar.

O resultado para ambos é que a oferta, no curto prazo, é basicamente fixa. No caso do petróleo, isso gera grandes oscilações de preços em horizontes temporais longos, exercendo efeitos amplos sobre tudo, desde os carros em que andamos até os políticos que chegam ao poder.

Os baixos preços atuais do petróleo têm suas raízes em ações adotadas em meados da década passada. No final dos anos 1990 e início da década de 2000, o óleo era barato: custava menos de US$ 20 por barril no final de 2001. Esses preços baixos deram aos produtores pouco incentivo para investir na prospecção de novos campos.

No início deste século, porém, o crescimento econômico de países emergentes estava mais forte do que tinham previsto os produtores de petróleo, e a demanda de energia cresceu. Os anos de subinvestimento devido aos preços baixos começaram a virar um problema. Em 2008, o preço do barril de óleo passou de US$ 140.

Hoje o mundo vive uma situação oposta. O aumento da exploração que começou na década passada está começando a render frutos abundantes. Enquanto isso, os altos índices de crescimento apresentados pela China e outros mercados emergentes em meados da década passada diminuíram, e as economias gigantes da Europa, do Japão e dos EUA tiveram desempenho baixo, após anos de crise.

"Qual é o mecanismo de ajuste?", disse Daniel Yergin, da empresa de pesquisas energéticas I.H.S. Herold. "É o preço."

Mas a volatilidade de preços encerra um custo. Os países produtores de petróleo podem estar nadando em dinheiro ou morrendo de fome. Fica mais difícil para empresas e sociedades tomarem decisões de longo prazo.

E isso nos traz de volta ao bourbon. O que está acontecendo no mercado de bourbon de alta qualidade é o oposto do que está acontecendo com o petróleo.

O consumo de bourbon cresceu nos últimos dez anos. Mas, assim como os produtores de petróleo não conseguem aumentar sua produção de um dia para o outro, os anos que o bourbon tem que passar guardado em barris deixaram os produtores com dificuldades para responder à demanda. "Em 2002, estávamos produzindo bourbon para ser vendido em 2011", disse Mark Brown, da destilaria Buffalo Trace. "Não esperávamos que demanda chegasse aos níveis que chegou."

No mercado de petróleo, commodity com inúmeros compradores e vendedores, o preço é o único mecanismo de ajuste. Mas muitos produtores de bourbon estão tentando evitar uma alta de seus preços. Em vez disso, eles estão apostando que podem ganhar mais dinheiro no longo prazo se cultivarem uma nova geração de consumidores de bourbon e construírem uma relação de lealdade com eles.

Não é exatamente o que os manuais de ciência econômica recomendariam, mas pode ser a receita certa para acabar com o ciclo de crescimento e a queda que tornou o setor petrolífero tão volátil.

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