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Alberto Giacometti em seu ateliê em 1958. O espaço de trabalho do artista está sendo recriado exatamente como ele o deixou, como parte de um centro de pesquisas | Ernst Scheidegger/Fundação Ernst Scheidegger-Arquivo e Herdeiros de Giacometti, 2015
Alberto Giacometti em seu ateliê em 1958. O espaço de trabalho do artista está sendo recriado exatamente como ele o deixou, como parte de um centro de pesquisas| Foto: Ernst Scheidegger/Fundação Ernst Scheidegger-Arquivo e Herdeiros de Giacometti, 2015

O escultor suíço Alberto Giacometti (1901-1966) viveu e trabalhou num ateliê pequeno e atulhado no 14° “arrondissement” de Paris, onde superfícies manchadas de tinta viviam repletas de bustos e figurinos, enquanto as paredes eram cobertas de desenhos e rabiscos.

Nesse ambiente espartano, o artista trabalhava sem parar, fazendo suas refeições ainda com pedaços de gesso em seu cabelo.

O estúdio de 25 metros quadrados será recriado exatamente como Giacometti o deixou, como parte do novo Instituto Giacometti, um centro de pesquisas e espaço para exposições que será aberto ao público no final de 2016 no mesmo 14° arrondissement, segundo Catherine Grenier, diretora da Fundação Alberto e Annette Giacometti, que possui o maior acervo de obras do artista.

Criada em 2003, a instituição se atolou em disputas com entidades rivais e membros da família Giacometti em torno do direito de representar o artista e fazer moldes póstumos de suas esculturas. Grenier pretende dar início a um capítulo mais pacífico.

A fundação vem cedendo mais obras a exposições em todo o mundo, tiradas da coleção de cerca de 250 esculturas, mais de 90 pinturas e milhares de desenhos e fotos.

A maior delas será uma retrospectiva na Tate Modern em Londres em 2017, segundo Grenier. Ao mesmo tempo em que as batalhas legais prosseguiam, as obras do artista subiam de preço.

Vista como uma das grandes esculturas do século 20, “Chariot” (1950) foi vendida em novembro por US$ 101 milhões pela casa Sotheby’s em Nova York, e “Walking Man I” (1960) foi arrematada por US$ 104,3 milhões em 2010, na época um recorde de valor por uma obra de arte vendida em leilão.

A morte de Giacometti, aos 64 anos, sem deixar testamento ou planos de sucessão, levou sua viúva, Annette, a lançar uma cruzada para salvaguardar seu legado.

Uma fotógrafa amiga do casal, Sabine Weiss, contou que, quando Giacometti morreu, sua viúva lhe pediu para fotografar “tudo”. “Fiz fotos de tudo que pudemos encontrar, no ateliê e nas casas de colecionadores em Paris.”

Annette Giacometti decidiu legar o material que possuía a uma fundação para a qual comprou uma sede na margem esquerda do Sena ainda em 1986, enquanto esperava autorização do governo.

“As coisas se arrastaram, então Annette disse: ‘Enquanto isso não se resolve, vamos criar uma associação’”, contou Weiss.

Quando a Fondation Giacometti finalmente nasceu, em 2003 —dez anos após a morte de Annette Giacometti—, ela se recusou a reconhecer a associação, dirigida pela antiga secretária de Annette Giacometti, Mary Lisa Palmer.

As duas entidades operavam em paralelo. A associação foi dissolvida, permitindo à fundação ocupar sua sede na margem esquerda, e a maioria dos processos judiciais foi arquivada.

Além da exposição na Tate Modern, uma mostra de retratos de Giacometti está programada para a National Portrait Gallery, em Londres, este ano.

Em 2016, o 50° aniversário da morte do escultor, há planos para uma exposição de Picasso e Giacometti no Museu Picasso, em Paris, e uma exposição no Yuz Museum, em Xangai, fundado pelo colecionador bilionário Budi Tek, que será composta exclusivamente de obras cedidas pela fundação.

Ocupando uma área de 344 metros quadrados, com o ateliê do artista em seu centro, o instituto é o projeto principal da fundação.

Giacometti se mudou para o imóvel do número 46 da rua Hippolyte Maindron, em Paris, em 1926, quando tinha 25 anos. Ele morou ali por 40 anos, exceto os três anos que passou na Suíça durante a Segunda Guerra Mundial.

Os visitantes verão o mítico estúdio como estava quando o artista morreu, em janeiro de 1966: uma cama, cercada por bronzes, trabalhos em gesso e fragmentos abandonados; sua mesa de trabalho, coberta de pincéis e dezenas de vidrinhos de aguarrás; seu cavalete e suporte para esculturas, e os trabalhos que a morte interrompeu: pequenos retratos de argila e gesso, principalmente do fotógrafo surrealista Eli Lotar e de Diego, irmão do escultor.

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