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Evidências de ferramentas reutilizadas são comuns. Uma superfície mais antiga é escavada em uma borda | Rina Castelnuovo para The New York Times
Evidências de ferramentas reutilizadas são comuns. Uma superfície mais antiga é escavada em uma borda| Foto: Rina Castelnuovo para The New York Times

Há anos os arqueólogos vêm descobrindo os segredos da caverna de Qesem, localizada a 12 quilômetros de Tel Aviv e descoberta por acaso durante a construção de uma estrada no ano 2000.

Recentemente, a caverna ofereceu indícios da vida de centenas de milhares de anos atrás que fornecem um contraponto para pelo menos um aspecto da vida moderna. Ao que parece, os antigos habitantes se importavam com a reciclagem.

"A reciclagem era um modo de vida", disse Ran Barkai, da Universidade de Tel Aviv. "Ela fez parte da evolução humana e da natureza humana."

Os arqueólogos descobriram milhares de instrumentos reciclados na caverna, incluindo martelos de ossos e pedras lascadas reutilizadas. Com superfícies antigas e brilhantes quebradas por lâminas mais novas e duras, as ferramentas de quartzo faziam parte de uma vasta coleção de facas aparentemente usadas para o abate e a limpeza da pele de animais e o corte de legumes. Algumas lâminas são tão afiadas quanto as de um bisturi e pequenas como a unha de um polegar.

No local da caverna há evidências de que os humanos pré-históricos não foram sempre tão econômicos, mas que o comportamento evoluiu. A vida na região data de pelo menos 1,5 milhão de anos, mas Barkai disse que uma mudança drástica ocorreu aqui há 400 mil anos. Segundo ele, por algum motivo desconhecido, os elefantes que serviam como principal alimento teriam desaparecido, provocando uma mudança de cardápio e de estilo de vida.

Os arqueólogos dizem que os moradores das cavernas, na busca por sobrevivência, começaram a caçar veados em vez de elefantes. Na mesma época, eles descobriram as delícias de uma refeição quente feita em casa —e parecem ter inventado o churrasco.

Esses primeiros humanos tinham inteligência para aproveitar ao máximo cada produto.

Depois de cozinhar a carne e esmagar os ossos para extrair o tutano, disse Barkai, "eles usavam os fragmentos de ossos para criar instrumentos com os quais abater o próximo animal".

A caverna causou uma certa comoção em 2010, quando foi relatado que vários dentes encontrados ali forneciam evidências da existência do Homo sapiens, os seres humanos modernos, 200 mil anos antes que na África.

Até agora foram encontrados 13 dentes humanos primitivos, e Barkai disse que os habitantes poderiam ser uma espécie de elo perdido —mais avançados que o Homo erectus e precursores do Homo sapiens e do Neanderthal. Os inovadores da Idade da Pedra viveram aqui de modo intermitente entre 400 mil e 200 mil anos atrás.

Os primeiros humanos tiveram de se adaptar às mudanças ambientais. Eles desenvolveram uma cultura local independente, disse Barkai, que se estendeu pelo território que hoje inclui Jordânia, Líbano e Síria.

Os caçadores precisaram se tornar mais minuciosos, ágeis e eficientes. Em média, eram necessários 80 veados para substituir o alimento fornecido por um elefante. Os habitantes da caverna coletavam frutas, nozes e madeira para fogueiras. A área tinha nascentes naturais e pedras lascadas em abundância.

Eles começaram a modelar suas ferramentas aguçadas a partir de quartzo, correndo à frente de sua época e de seus contemporâneos humanos na Europa e na África. "Essa era a alta tecnologia do homem antigo", disse Barkai.

Em um lugar que serviu de lareira, camadas de cinzas endurecidas datam de 300 mil anos. Aqui a terra está cheia de fragmentos de ossos, incluindo uma mandíbula de cavalo. Embora o uso esporádico do fogo existisse muito antes, a caverna de Qesem foi definida como o lugar com as mais antigas evidências do uso sistemático do fogo para assar carne em uma base doméstica diária.

A caverna era organizada como uma casa, disse ele, com cozinha, uma oficina e uma área onde as crianças pareciam praticar a fabricação de ferramentas de quartzo por conta própria.

Barkai disse que evidências de comportamentos, tecnologias e métodos semelhantes foram encontradas tão longe quanto a Síria e que deve ter havido algum tipo de comunicação entre os humanos primitivos da região.

"Não sei como", diz o professor.

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