• Carregando...

Em meados de 2012, Christian Marclay, artista baseado em Londres, procurava locações ao redor desta cidade com cenários perfeitos de cartão-postal nos Alpes suíços.

"Nós subimos no topo de uma geleira e eu fiquei reparando em todos aqueles turistas indianos e me perguntei o que eles faziam ali", contou Marclay, 59 anos.

"Aparentemente, eles tinham vindo conhecer onde seus astros preferidos filmaram esses filmes de Bollywood."

Mais conhecido por seu hipnotizante trabalho de vídeo com 24 horas de duração, "O Relógio", montado com trechos mostrando relógios em filmes de época, Marclay soube que havia encontrado sua contribuição para "Elevação 1049: Entre o Paraíso e o Inferno", uma ambiciosa exposição de arte para um local específico feita por 25 artistas suíços, aberta em janeiro.

Durante décadas, diretores indianos vieram à Suíça filmar cidades como Gstaad como pano de fundo para elaboradas sequências de sonho nas quais os protagonistas românticos brincam na neve ou em morros alpinos cobertos de ranúnculos. Ao longo dos anos, os fãs dos filmes vieram atrás.

Sua obra, "Bollywood vai a Gstaad", montagem com 17 minutos de duração de trechos de filmes de Bollywood, é exibida em um monitor de vídeo em um teleférico que vai até a metade do caminho da geleira Gondelbahn, oferecendo uma vista de 360 graus dos Alpes.

Os artistas tentaram se envolver com o cenário da cidade turística – instalando obras de arte que abarcam não só os picos de Gstaad como também questões como a mudança climática e o um por cento.

A mostra parece uma caçada ao tesouro, exigindo viagem de carro, teleférico e, em um caso, trenó puxado a cavalo, em Gstaad e aldeias vizinhas. Aberta até oito de março,

"Elevação 1049: Entre o Paraíso e o Inferno" recebeu a primeira parte do nome por causa da altitude da cidade em metros. A segunda parte se refere mais enigmaticamente às diferentes elevações de cada obra de arte.

O projeto foi criado por Neville Wakefield, ex-curador dos Projetos Frieze, que integra a feira de arte Frieze, em Londres, e Olympia Scarry, artista e neta do ilustrador Richard Scarry, que morou em Gstaad. O casal Wakefield e Scarry afirmou ter se inspirado na "land art" da década de 70.

Contudo, a mostra, sua primeira colaboração artística, também é uma resposta a sua frustração em ver tanta arte "ambientada nesses espaços arquitetônicos que parecem caixinhas de joias, que são basicamente espaços de mercado, e você não consegue distinguir se está em Singapura, Xangai, Berlim, Londres ou em outro lugar", explicou Wakefield.

"O que aconteceu em termos de tornar a arte acessível é ela estar homogeneizada", ele disse. A intenção de sua exposição é servir como antídoto à "experiência da feira de arte em uma galeria urbana que é um cubo branco".

Wakefield acrescentou que "é difícil de ver, mas por causa disso, ela também exige um tipo diferente de atenção. A pessoa descobre a arte por meio do lugar e o lugar por meio da arte". O projeto também pode ser explorado online.

Depois de viajar no teleférico até a vista que a geleira propicia da obra de Marclay, os visitantes podem tomar outro teleférico até o topo onde, a quase três mil metros de altitude, fica uma fortificação piramidal de gelo de autoria do artista Olivier Mosset, a obra mais elevada da exposição.

Por sua vez, Marclay se disse feliz com os resultados. "É preciso querer fazer isso de verdade. Eu adoro o fato de que os lugares vistos no cinema são aqueles em que se está."

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]