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Tenente-General Abdul Raziq combate insurgentes e é acusado de violar direitos humanos, e hoje é um dilema para o novo presidente | Declan Walsh/The New York Times
Tenente-General Abdul Raziq combate insurgentes e é acusado de violar direitos humanos, e hoje é um dilema para o novo presidente| Foto: Declan Walsh/The New York Times

Com sua aparência juvenil e sorriso hesitante, o tenente-general Abdul Raziq parece uma pessoa modesta que desmente sua reputação de homem corajoso e cruel: o cara durão que manteve o Talibã longe de Kandahar.

"Não acho que as pessoas tenham medo de mim. Não quero que tenham", disse o chefe de polícia da província de Kandahar, falando em sua casa fortemente vigiada, enquanto três sorridentes crianças brincavam à sua volta.

No entanto, "medo" é uma palavra associada a Raziq, de 37 anos, que, segundo muitos, se tornou o homem mais poderoso no sul do Afeganistão e um dos mais ricos. Desde que assumiu o controle da segurança em Kandahar há três anos, ele impôs uma paz inquieta sobre a cidade que já esteve sob o controle do Talib㠗 ataques insurgentes diminuíram em dois terços, de acordo com estimativas. Seu nome incita temor entre os talibãs, dizem os especialistas.

Mas esses ganhos vêm sendo maculados por relatos de violações dos direitos humanos por suas forças de segurança.

Agora que as tropas americanas estão saindo de Kandahar, o dilema de como lidar com o General Raziq é a herança do novo presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, que jurou desmantelar feudos regionais.

"Assessores do presidente dizem que é hora de começar a controlar Raziq, mas na prática, isso pode ser difícil, porque o presidente também precisa de Raziq para manter a paz", disse Graeme Smith, principal analista do International Crisis Group, grupo de pesquisa sem fins lucrativos.

Raziq ganhou destaque após 2001 como chefe de polícia de Spinbaldak, cidade de fronteira poeirenta a quase 100 quilômetros ao sul de Kandahar, e rapidamente conquistou a reputação de implacável adversário do Talibã. Ele também exerceu um controle rígido sobre o lucrativo comércio nas fronteiras em uma área repleta de tráfico de drogas, segundo anciãos afegãos e funcionários ocidentais, dando-lhe a riqueza pessoal de pelo menos dezenas de milhões de dólares.

E usou seus poderes para se vingar de tribos rivais — mais notoriamente em março de 2006, quando 16 pessoas foram mortas perto de Spinbaldak e seus corpos acabaram abandonados no deserto.

Mas seus poderosos aliados o protegem de investigações. Em 2007, o presidente Hamid Karzai impediu esforços ocidentais que visavam à demissão de Raziq por preocupações com direitos humanos.

"Raziq é o deus, o profeta, o governador e o presidente aqui em Kandahar. Ele é o rei", disse Gul Agha Shirzai, ex-governador e aliado.

Mas o tenente-general também enfrenta acusações de que suas táticas duras estão fomentando a insurgência. Um relatório de direitos humanos das Nações Unidas publicado ano passado declarou que 81 pessoas haviam desaparecido quando em custódia da polícia de Kandahar em um ano.

Grupos de direitos humanos coletaram provas de prisões secretas onde detentos foram eletrocutados, espancados com cabos ou executados. Trabalhadores de saúde em Kandahar relataram receber corpos de pessoas detidas pela polícia com rostos esmagados e marcas de broca no crânio.Para o general Raziq, esse tipo de acusação é uma maneira irritante de desviar seu enfoque sobre o Paquistão, inimigo a quem acusa de alimentar a insurgência de bases através da fronteira na província do Baluquistão. O Talibã e algumas autoridades paquistanesas culpam o chefe de polícia pelas mortes de clérigos pró-Talibã no Baluquistão, no ano passado.

Para o Talibã, Raziq é um alvo premiado.

Uma cicatriz vermelha na mão direita é a marca de um ataque suicida talibã que quase o matou há dois anos. Em julho, sua casa foi atacada com bombas.

Contribuiu Zia ur-Rehman

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