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Presidente chinês, Xi Jinping, faz saudação tradicional maori em viagem à Nova Zelândia;  chineses tentam aumentar sua área de influência  na região Ásia-Pacífico | Diego Opatowski/Agence France-Presse — Getty Images
Presidente chinês, Xi Jinping, faz saudação tradicional maori em viagem à Nova Zelândia; chineses tentam aumentar sua área de influência na região Ásia-Pacífico| Foto: Diego Opatowski/Agence France-Presse — Getty Images

Quando visitou recentemente o Estado da Tasmânia, na Austrália, o líder da China, Xi Jinping, foi saudado em mandarim na primeira página de um jornal local. Ele provou o salmão da ilha, que logo estará disponível na China, e viu um espécime raro do diabo-da-tasmânia.

Enquanto o presidente Obama voltou rapidamente a seu país após uma série de reuniões de cúpula na Ásia, Xi continuou viajando. Ele passou mais dias do que Obama na Austrália, uma fiel aliada dos Estados Unidos; visitou a Nova Zelândia, outra aliada dos americanos; e ainda foi à pequena ilha de Fiji, no Pacífico.

Por onde passou, Xi deixou um rastro de dinheiro, em uma demonstração de generosidade cujo objetivo foi promover a China como a maior potência econômica na Ásia. Por trás disso havia uma mensagem de longo alcance. Não se preocupem, dizia ele em seus discursos. A China, apesar de imensa, é amistosa e não só uma parceira econômica, como também estratégica.

Desde a abertura da recente reunião de cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec, na sigla em inglês) em Pequim e na viagem de Xi pelo Pacífico, a China anunciou que destinará US$ 70 bilhões em empréstimos e infraestrutura à região da Ásia e do Pacífico, segundo análise da Universidade Nacional da Austrália.

Talvez o impacto de parte do dinheiro, algo em torno de US$ 40 bilhões para um fundo de infraestrutura da Rota da Seda, só seja observado daqui a muitas décadas, afirmou o Departamento de Pesquisa Econômica do Leste Asiático, da mesma universidade. Entretanto, o departamento salientou que US$ 20 bilhões para empréstimos e infraestrutura em países da região era um montante substancial para projetos que poderão ser concluídos em breve.

Tais cifras são surpreendentes, sobretudo quando comparadas com as promessas americanas. A Casa Branca ofereceu US$ 150 milhões para Mianmar durante a recente visita de Obama ao país. A China prometeu US$ 7,8 bilhões para a recuperação de estradas e o aumento na produção de energia.

Xi tem desafios consideráveis na região. O desejo da China de exercer mais controle sobre os mares no sul e no leste do país —incluindo território reivindicado por outros países— tem atemorizado muitos de seus vizinhos. No entanto, seus laços financeiros na região são inegáveis.

Além de prometer dinheiro, os chineses pressionaram por acordos comerciais que, segundo analistas, são considerados tanto uma questão diplomática quanto de negócios.

Durante a cúpula da Apec, a China defendeu a abertura de uma nova área de livre comércio na Ásia e Pacífico que, segundo Pequim, teria regras menos rígidas do que o projeto acalentado pelo governo Obama, a Parceria Transpacífica.

Na Austrália, Xi e o primeiro-ministro australiano, Tony Abbott, anunciaram ter firmado um pacto de livre comércio entre China e Austrália, cuja elaboração levou dez anos e que abrirá os mercados da China para carne e laticínios australianos, assim como para o salmão da Tasmânia.

A China, disse Xi em um pronunciamento ao Parlamento australiano, está interessada em acelerar o desenvolvimento na região da Ásia e do Pacífico por meio de sua própria prosperidade, em um "ciclo virtuoso de desenvolvimento e segurança".

Hugh White, professor na Universidade Nacional da Austrália, comentou: "Xi e seus colegas são muito focados em suas ambições estratégicas. Eles acreditam que, no longo prazo, a força gravitacional da economia chinesa atrairá a Austrália para sua órbita política e estratégica e a manterá ali".

Aparentemente, Obama estava informado sobre as possíveis ofertas de Xi. Dois dias antes de o líder chinês visitar o Parlamento, enquanto na Austrália para a cúpula do G-20, o presidente Obama, em um discurso para estudantes universitários, basicamente advertiu o país aliado a manter certa distância da China.

Obama disse: "A segurança efetiva da Ásia não deve se basear em esferas de influência, coerção ou intimidação, nas quais as grandes nações oprimem as pequenas, mas em alianças de segurança mútua e na lei e nas normas internacionais".

O salmão servido a Xi em um almoço era um produto que, conforme os termos do pacto de livre comércio, logo estará à venda na China. A introdução do salmão nos mercados chineses também fará um favor estratégico à China: espera-se que esse peixe da Tasmânia diminua ainda mais as vendas de salmão norueguês, as quais já vêm declinando desde que o comitê do Nobel na Noruega outorgou o Prêmio da Paz em 2010 ao dissidente chinês preso Liu Xiaobo.

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