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É o orgulho da indústria petrolífera estatal chinesa e a primeira plataforma de perfuração em águas profundas da nação, uma embarcação do tamanho de um campo de futebol e tão alta quanto um edifício de 40 andares, com o custo de um bilhão de dólares. Recentemente, ela se arrastou através do Mar da China Meridional e atracou em um dos locais possivelmente mais delicados, a mais ou menos 27 quilômetros de distância de uma pequena ilha reivindicada tanto pela China quanto pelo Vietnã.

Os vietnamitas, às vezes abraçados como companheiros comunistas pela China, foram surpreendidos. Hanói presumiu que a plataforma, conhecida como HD-981, estava a caminho de outro local, afirmam pessoas íntimas do governo.

Pelo menos duas vezes nos últimos anos, a China tentou explorar essas águas e recuou após protestos por parte do Vietnã. Há apenas seis meses, durante uma visita do primeiro ministro chinês à Hanói, os dois lados divulgaram que tentariam encontrar maneiras de desenvolver conjuntamente campos de petróleo e de gás. Essa boa vontade se evaporou quando Pequim deixou claro que a plataforma de petróleo permaneceria imóvel. Isso iniciou quatro dias de confronto, com dezenas de navios chineses e vietnamitas se chocando e a China usando canhões de água num impasse que ameaça arrastar uma região conhecida por seu desenvolvimento econômico para um conflito militar.

A China não tem sido tímida nos últimos anos em relação a fazer alegações abrangentes sobre o controle de boa parte do Mar da China Meridional. Porém, ao instalar uma plataforma de perfuração de alto custo em uma zona marítima disputada, o país agora parece mais disposto a agredir. A China está efetivamente criando "fatos" na zona marítima que os seus rivais regionais, e por fim, os Estados Unidos, devem aceitar ou combater.

A China sinalizou que tomaria medidas unilaterais no ano passado, quando criou uma zona de defesa aérea em partes do mar ao leste do país, o que incluem as ilhas no centro de uma longa disputa ardente com o Japão. Na batalha de vontades com o Vietnã, a China lançou mão de uma nova ferramenta potencialmente poderosa em sua batalha territorial: a sua indústria petrolífera e as plataformas que um funcionário da empresa petrolífera estatal chamou de "nosso território nacional móvel".

A instalação da plataforma é possivelmente um fator decisivo na determinação chinesa de dominar o Mar da China Meridional, já que a exploração do petróleo exige investimentos importantes e quase sempre proteção, que no caso seria oferecida pelos seus navios, inclusive da marinha.

"O país vem tomando uma série de medidas graduais, expandindo e aumentando a sua presença no Mar da China Meridional, porém, isso é atravessar um limiar", disse Holly Morrow, membro do programa Geopolítica da Energia da Harvard, e que serviu no Conselho Nacional de Segurança na administração de George W. Bush.

Não está claro se a estratégia chinesa terminará como os seus líderes esperam. Há dois anos, a China conseguiu tirar as Filipinas da disputa de um recife, sem lutar, ao simplesmente se recusar a aceitar um acordo intermediado pelos EUA. A República das Filipinas recuou, conforme prometido. Os chineses não, e por isso controlam o recife, o Atol de Scarborough, e sua rica pescaria desde então.

O Vietnã já provou que é um adversário mais duro, enviando os seus próprios navios para encontrar a flotilha chinesa e, segundo relatórios do governo chinês, usando-os para golpear os navios chineses até 171 vezes em quatro dias. Um proeminente analista político vietnamita, Nguyen Quang A, resumiu o impasse desta forma: "A invasão está no sangue deles, e a resistência no nosso".

O momento da ação foi percebido por alguns na região como um teste não apenas da capacidade das nações do Sul da Ásia de enfrentar o seu vizinho do norte bem mais poderoso, mas também da determinação do Presidente Obama, com menos de um mês depois de prometer apoio aos aliados americanos na Ásia quando é preciso lidar com uma China mais forte.

A ação da China foi quase certamente um plano em longo prazo – o remanejamento de uma plataforma de perfuração em águas profundas leva meses de preparo. Contudo, um diplomata asiático veterano com profundas ligações na região disse que algumas autoridades ficaram com a impressão, após a visita de Obama, de que os Estados Unidos estavam ansiosos por evitar o confronto direto com a China em relação à alegação de reivindicação do Mar da China Meridional.

No Vietnã, a atitude chinesa está desafiando a posição delicada do governo de se equilibrar entre forte oposição à China e a não querer chegar perto demais dos Estados Unidos. Poucos acreditam que descobertas energéticas foram a razão principal para a chegada da HD-981, que pertence à Empresa Petrolífera Nacional da China, "Nunca é completamente uma questão de energia, tem a ver com a soberania", acredita Morrow.

Colaborou Mike Ives e Michael D. Shear

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