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Neve artificial em um resort de Chongli, na China, que sediará parte dos eventos olímpicos de esqui | Ng Han Guan/Associated Press
Neve artificial em um resort de Chongli, na China, que sediará parte dos eventos olímpicos de esqui| Foto: Ng Han Guan/Associated Press

No terreno das ambições chinesas de sediar as Olimpíadas de Inverno, há mais ambição e alegoria que neve. Vê-se apenas alguns traços de branco nas colinas ao longo do caminho por qual passará os representantes do COI, mas os outdoors fazem de tudo para inspirar confiança.

“Unidos no esforço da candidatura”, um deles proclama em tradução com erro de grafia, “unidos pelo Sonho da China”.

Para Pequim, que quer sediar os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022, não importa se Chongli, local sugerido para receber a Vila Olímpica e os eventos de esqui nórdico, esteja a 240 km de distância, nem que em Yanqing, que supostamente receberá as provas de esqui alpino, só caia 5 cm de neve por ano.

E como se não bastasse a escassez natural, há também a falta de interessados em bancar o evento. Todas as cinco nações democráticas que pensaram em fazê-lo desistiram da ideia principalmente pela forte oposição pública.

Com isso, o Comitê terá que decidir entre dois países autoritários. A disputa ficou entre Pequim e Almaty, no Cazaquistão, república da Ásia Central rica em petróleo governada por um ex-apparatchik soviético que está no poder há 24 anos.

E é desse cenário político no mínimo embaraçoso de que Pequim, que já sediou os Jogos em 2008, quer se aproveitar.

Na tentativa desesperada de tornar a Olímpiada mais atraente para os países traumatizados com os US$51 bilhões gastos nos Jogos de Sochi em 2014, na Rússia — e consternado pelo vídeo em que cossacos uniformizados aparecem açoitando mulheres durante uma manifestação – o COI mudou suas regras em dezembro.

Agora elas incluem um processo mais acessível de candidatura e organização, além de uma cláusula exigindo a não-discriminação contra qualquer orientação sexual e um contrato que estipula que as nações devem proteger o meio ambiente, a mão-de-obra e os direitos humanos. “O movimento olímpico está passando por uma crise única, sem precedentes. Acredito que as reformas do COI sejam uma resposta direta à China e

Cazaquistão. Seria um golpe e tanto”, afirma Minky Worden, da Human Rights Watch.

Mas na China a história é outra: ali, a ideia é a de que os Jogos ofereçam mais uma oportunidade para o Partido Comunista exibir sua riqueza e poder no cenário mundial.

“A estratégia é usar megaeventos como as Olimpíadas para animar o povo, exibir o país e demonstrar a força de seu governo”, explica Peh Shing Huei, autor de “When the Party Ends: China’s Leaps and Stumbles After the Beijing Olympics” (“Quando a Festa Acaba: A China Tropeça Após as Olimpíadas de Pequim”).

Embora poucos chineses esquiem, o presidente Xi Jinping prometeu em carta ao Comitê que o evento “acenderia a paixão” pelo esporte entre o 1,3 bilhão de chineses.

A alguns quilômetros da estação de Genting, Wu Jifu, um pastor de ovelhas de 57 anos, cuidava do rebanho perto de um outdoor olímpico.

“É, o pessoal chegou lá na aldeia oferecendo folhetos sobre esqui”, conta ele.

Colaborou Chen Jiehao

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