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Os noticiários diários são repletos de controvérsias entre a China e o resto da região.

Violência no Vietnã devido a disputas marítimas no sul da China. Brigas com as Filipinas por direitos pesqueiros. Ressentimento em Mianmar com uma mina de administradas por chineses.

Quando um impasse com o Japão envolvendo pequenas ilhas no mar no Leste da China passou a incluir xingamentos constantes de ambas as partes com um tema de "Harry Potter", o "New York Times"publicou a seguinte manchete: "A rusga mais recente entre China e Japão: quem é Voldemort?"

Embora não sejam amados por seus vizinhos, os chineses finalmente estão aprendendo a se abraçar entre si.

Isso demorou muito para acontecer. Didi Kirsten Tatlow escreveu recentemente no "New York Times" que, apesar de todas as grandes mudanças na sociedade nas últimas quatro décadas, os chineses foram lentos para adotar o abraço. "Agora isso está mudando", comentou ela.

"Nos últimos tempos parece que todos estão se abraçando. Amigos e familiares se abraçam. Na questão do abraço entre chineses e não chineses, os estrangeiros deram o exemplo para os chineses demonstrarem afeição fisicamente. Hoje em dia, o abraço pode ser um contato inicial na China. O feitiço está se virando contra o feiticeiro."

Escolas estão dando aulas sobre inteligência emocional. Como tarefa de casa, as crianças devem abraçar seus pais.

Naturalmente, há limites. "Abraçar ainda não é um comportamento apropriado em um contexto profissional", escreveu Tatlow, "a menos que todos os envolvidos tenham bebido demais."

Lu Ming, autor do livro "Chinese Lack Hugs" [Chineses Sentem Falta de Abraços], citou várias razões para as pessoas estarem se abrindo ao contato físico: a mídia, morar no exterior e a literatura estrangeira.

Talvez isso também tenha a ver com uma canção suave de Kenny G. Os chineses sabem que é hora de relaxar quando ouvem "Going Home", um sucesso gravado pelo saxofonista americano em 1989.

"Há anos essa canção gloriosamente sedutora é um esteio na sociedade chinesa", escreveu Dan Levin no "New York Times". "Diariamente, ‘Going Home’ é tocada em shopping centers, escolas, estações de trem e academias, sinalizando ao público que é hora de ir para casa."

Na academia Powerhouse, no centro de Pequim, "Going Home" começa a tocar incessantemente meia hora antes do horário de fechamento até os frequentadores se dispersarem.

No mercado de antiguidades Panjiayuan, a música é tocada por uma hora e meia. Isso começou em 2000, mas a gerente não soube dizer qual foi o motivo. "Ela não é tocada em todos os lugares?", indagou ela.

Ninguém parece ter uma resposta melhor. Nem Jackie Subeck, consultora de entretenimento de Los Angeles que ouviu a canção pela primeira vez na China há 12 anos, durante uma viagem para tentar montar um esquema para cobrança de royalties musicais em território chinês.

"Essa música toca sem parar e não recebe um centavo", disse ela.

E contou que certa vez ficou horas em um aeroporto em Pequim devido a um atraso em seu voo. Na praça de alimentação, eram exibidos videoclipes incessantes de um único artista.

"Nós ficamos sentados lá tomando cerveja e vendo Kenny G sem descanso", disse ela. "Foi terrível."

Kenny G contou ao Times sobre suas turnês na China nos anos 1990 e que ouvia "Going Home" em todos os lugares —desde a Praça da Paz Celestial a um banheiro "no meio do nada".

"Fiquei exultante ao constatar que não havia barreira idiomática para a conexão com a música."

Será que ele conseguiu alguma pista sobre a razão da enorme popularidade de sua canção? "Eu não faço perguntas", disse ele, "pois gosto de manter um pouco do mistério."

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