Quando, na época das festas do fim de ano, a Mondelez International informou que não venderia mais moedas de chocolate, os fregueses chiaram.
Mas a reação foi suave comparada às queixas ouvidas em janeiro, quando a empresa anunciou mudanças em outro de seus produtos, os ovos de chocolate Cadbury’s Creme Eggs.
A razão das mudanças é que o chocolate passa por problemas.
O preço do cacau, o ingrediente principal da maioria dos chocolates, subiu vertiginosamente no ano passado, obrigando as fábricas a elevar os preços e a reduzir o tamanho dos produtos. “A alta dos preços está sendo movida pela demanda crescente na Ásia”, disse Edward George, diretor da EcoBank para pesquisas sobre commodities cultivadas.
Outro fator é o harmatão, um vento seco e carregado de poeira que começou a varrer os principais países produtores de cacau da África Ocidental em dezembro, o início da principal temporada de colheita. O harmatão vem sendo pior que a média neste ano.
Além disso, os cacaueiros foram atacados pelas pragas da vassoura-de-bruxa e da monilíase.
O preço médio da tonelada de cacau alcançou seu pico em agosto de 2014, em US$ 3.270,27. Em janeiro deste ano, estava em US$ 2.921,05, segundo a Organização Internacional do Cacau.
Para compensar os custos do cacau, a Hershey, a Mondelez e a Lindt & Sprüngli, companhia suíça que é dona da Russell Stover, elevaram os preços de seus produtos em até 8% no ano passado.
A Mondelez tem várias marcas que usam chocolate, como Cadbury, Milk e Lu. No ano passado, ela foi a primeira a elevar seus preços no primeiro semestre, enquanto varejistas europeus se recusavam a seguir seu exemplo.
A reação contrária continuou quando a empresa anunciou que faria ajustes aos Cadbury’s Creme Eggs. Segundo a porta-voz Valerie Moens, a Mondelez decidiu que a casca de chocolate dos ovos não seria mais feita do chocolate Cadbury Dairy Milk, mas de um “chocolate ao leite Cadbury padronizado”. O chocolate Dairy Milk possui alto teor de leite, e o preço do leite subiu muito em 2014. A Mondelez também reduziu de seis para cinco o número de ovos em cada embalagem de Creme Eggs.
As empresas de chocolate menores, artesanais, estão administrando melhor a montanha-russa dos preços do cacau, pelo fato de disporem de diferentes maneiras para obter matéria-prima.
A Madécasse, por exemplo, compra todo seu cacau do Madagascar. Esse país produz um volume muito pequeno por ano, mas seu cacau é da variedade Criollo, apreciada por seu sabor intenso.
O cacau Criollo é menos suscetível às doenças que atacam a variedade principal de cacau, a Forastero, que compõe cerca de 85% do cacau do mundo.
A empresa Alter Eco, que vende produtos à base de chocolate, quinua, arroz e cana-de-açúcar, disse que não tem tido grandes problemas em obter cacau, devido aos arranjos que mantém com produtores para garantir o comércio justo e o fornecimento de cacau orgânico.
De acordo com Edouard Rollet, da Alter Eco, a empresa, que teve vendas de US$ 15 milhões em 2014, trabalha diretamente com seus produtores de cacau na América Latina, devolvendo parte dos lucros a eles e investindo em infraestrutura para apoiar seu trabalho, além de ajudá-los a melhorar o rendimento de sua produção. “A cadeia de fornecimento na África Ocidental está na raiz do problema dos preços”, disse Rollet. “Os produtores estão na base da cadeia e não estão enriquecendo. Logo, eles não enxergam futuro no cacau.”
Rollet disse que o preço da produção aumentou um pouco, mas que a Alter Eco ainda não elevou os preços de suas barras e trufas de chocolate. “Se eu tivesse mais tino para os negócios, subiria os preços agora”, comentou.
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