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 | Damon Winter/The New York Times
| Foto: Damon Winter/The New York Times
  • Celebrações escandinavas e mexicanas acontecem no Clube Atlético Dinamarquês

Na sala de banquetes do Clube Atlético Dinamarquês, instituição do Brooklyn, Nova York, com 120 anos de idade, a procissão anual a Santa Lúcia está em pleno andamento, liderada por uma adolescente coroada com uma coroa de velas. Do lado de fora, as oficinas mecânicas e armazéns com letreiros em chinês estão fechados e, do outro lado da rua, o parque abriga partidas de futebol no começo da noite entre equipes hispânicas locais. Nos arredores, um restaurante chinês do tamanho de um shopping acende as luzes externas, banhando as quatro pistas do bulevar industrial com um brilho vermelho e amarelo.

Reidun Thompson, gerente do Clube Atlético Dinamarquês, imigrante norueguesa, passou o dia ocupada orquestrando a homenagem a Santa Lúcia, que celebra os milagres envolvendo a vida da religiosa, com referências ao solstício de inverno. A banda está a pleno vapor e os frequentadores do evento, muitos vestidos com o figurino escandinavo tradicional, estão bebendo, dançando, conversando e comendo. "Eu odeio esta noite", disse Thompson alegremente enquanto examina a plateia animada. "É tanta gente. Eu odeio. Estou falando sério."

Fundado em 1892, o Clube Atlético Dinamarquês teve mais de 800 membros em seu auge na década de 1950. As paredes forradas de lambris estão cheias de fotografias testemunhando sua popularidade ao longo das décadas. Existem pinturas da realeza dinamarquesa, antigas e, bem, um pouquinho menos velhas. Perto do saguão existe uma máquina automática vendendo cigarros a US$ 3 o maço.

Quando o clube está lotado o bar transpira uma magia bacana de meados do século que dá vontade de ver novamente o filme "Onze Homens e um Segredo" original.

Essas noites agitadas são muito menos frequentes agora. Os números variam em relação à quantidade exata de membros ativos, mas mesmo o mais otimista chuta que ele está perto de 50 pessoas, e, na maioria das vezes, a multidão que comparecia para jantar durante a semana minguou para três ou quatro, às vezes um, às vezes, nenhum.

O milagre do Clube Atlético Dinamarquês é ele ainda existir, dado o êxodo da população escandinava do Brooklyn nas últimas três décadas. Porém, a gerente conhece bem a mudança da demografia. E sabe que se existe um futuro para o clube este se encontra com os mexicanos.

Certo sábado em janeiro, Marisol e Leonel Salazar chegaram cedo ao clube para começar os preparativos de sua festa. Seus dois filhos pequenos seriam batizados naquela noite na igreja católica Nossa Senhora dos Anjos, que recentemente começou a contar com uma missa semanal em espanhol.

Após a cerimônia, a família, seis pares de padrinhos e mais de cem parentes e amigos se reuniriam no Clube Atlético Dinamarquês. Haveria DJ e um grupo de mariachis. A senhora Salazar, 39 anos, conhecia o clube porque suas irmãs o usavam, a exemplo de muitos outros mexicanos locais. "Nós gostamos muito deste lugar", ela disse.

Como costuma acontecer aos pontos fixos em uma cidade mutante, o Clube Atlético Dinamarquês passou aos longos dos anos de centro cultural a curiosidade. A exemplo das sinagogas na parte sul do Bronx, dos clubes sociais italianos em Mulberry Street ou dos restaurantes alemães em Yorkville, ele funciona como um lembrete do que não existe mais ali.

Durante a primeira metade do século XX, a população escandinava do Brooklyn mais do que triplicou em função da disponibilidade do emprego marítimo. Em 1940, somente a população de imigrantes noruegueses no bairro superava as 30 mil pessoas.Contudo, no final da década de 1960, uma série de fatores convergiu para reverter o crescimento da presença norte-europeia na área. A perda da maior parte do setor náutico no Brooklyn, bem como a redução dos imigrantes escandinavos depois da II Guerra Mundial, coincidiu com o desenvolvimento explosivo dos subúrbios. Muitos dos dinamarqueses e noruegueses se viram indo trabalhar em Long Island ou Nova Jersey durante o boom da construção civil, e um bom número ficou por lá mesmo.

No fim das contas, o sucesso da comunidade escandinava no Brooklyn ao conquistar seus sonhos de classe média condenou os bairros que os geraram.

Chegaram novos grupos buscando um nicho local, de Porto Rico vindo pelo Bronx na década de 1960, da China na década seguinte e do México nos anos 1990.

Em 1992, membros do Clube Atlético Dinamarquês pediram para Thompson administrar o local. Durante anos, o clube particular abrigara atividades de outras organizações escandinavas, tais como os bailarinos folclóricos suecos de Nova York e a Associação Viking do Departamento de Polícia. Sob a gestão de Thompson, o clube começou a oferecer espaço a novos grupos; em particular, a comunidade mexicana se mostrou uma dádiva econômica durante os períodos de vacas magras.

"Eu gosto deles", ela disse a respeito da instalação dos mexicanos no bairro. "Eles são como os noruegueses. Trabalham com afinco, se esforçam muito. A maioria dos chineses têm seus próprios salões de festa, mas aonde os mexicanos e equatorianos vão?"

"É uma ideia maravilhosa", disse David Thorsen, 40 anos, novo membro. "Oferecer o espaço disponível à comunidade hispânica quando este não está sendo usado pelo clube é apenas uma amostra de filhos de imigrantes ajudando imigrantes. Eles estão retribuindo."

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