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O impulso de trocar presentes é antigo, transcultural e não se limita apenas aos seres humanos, embora nossa generosidade fique à mostra durante as festas de fim de ano. Pesquisadores encontraram exemplos impressionantes da troca de presentes nos mais diversos tipos de animais: em insetos, aracnídeos, moluscos, pássaros e mamíferos.

Muitas dessas doações são consideradas "presentes de casamento", itens ou serviços oferecidos durante rituais de acasalamento elaborados para melhorar as chances de que seus gametas sejam escolhidos para fecundar a próxima geração. Esses presentes de casamento permitem que os pesquisadores quantifiquem precisamente o investimento que o animal está fazendo no acasalamento e na reprodução, além de acompanhar as sutilezas da competição sexual e da copulação por meio da análise da composição química dos presentes dados durante o processo de acasalamento.

"Esse é um assunto incrivelmente interessante e importante no tocante à seleção sexual e que estamos apenas começando a explorar", afirmou Sara M. Lewis, professora de biologia na Universidade Tufts, nos arredores de Boston, que escreveu extensamente sobre os presentes de casamento. "O lado positivo dos presentes de casamento é que essa é uma forma de os machos contribuírem com algo que é essencial para sua parceira e os futuros filhotes."

"Por outro lado, os presentes podem ser fonte de conflito sexual, uma forma de manipular a fêmea a fazer o que ele quiser", afirmou. Outros pesquisadores estão estudando como os animais utilizam os presentes socialmente, para fomentar alianças ou agradar membros dominantes do grupo. Entre os primatas, o cafuné é considerado uma forma de presentear e são os subordinados que catam piolhos dos outro animais.

Por definição, um presente é algo dado voluntariamente, afirmou a dra. Lewis. "Mas isso não significa que ele seja recebido de forma voluntária", acrescentou.

Um exemplo de um presente possivelmente mal recebido, afirmou, é a flecha do amor das lesmas. Lesmas terrestres como as que ficam no jardim são hermafroditas, o que significa que elas produzem tanto ovos quanto esperma, e se reproduzem esfregando o esperma umas nas outras. É por isso que, antes de copular, as lesmas tentarão perfurar o parceiro com uma estrutura pontiaguda feita de carbonato de cálcio e produzida na região genital da lesma.

O dardo pode penetrar qualquer parte do corpo da outra lesma. E quando isso acontece, ele entrega um "presente" cheio de hormônios potentes que ajudam a promover a retenção do esperma do doador em relação ao das lesmas competidoras. O molusco perfurado não é simplesmente uma vítima: recorre à flecha do amor, até que os dois cupidos copulam em meio à batalha.

Porém, na maioria das vezes o presente de casamento dado pelos machos é algo que as fêmeas querem, ou de que elas precisam. Martin Edvardsson, biólogo evolucionário da Universidade Nacional Australiana, estuda o Callosobruchus maculatus, um besouro pintadinho que é uma grande peste em feijões e outros grãos. Os besouros têm pouco acesso a água e as fêmeas sentem muita sede quando estão produzindo os ovos. O macho acumula o máximo de líquido que consegue encontrar enquanto ainda é uma larva dentro do feijão e inclui a água toda quando ejacula. Se a fêmea escolhida o aceitar, ele sobe em suas costas e bombeia a água guardada junto com o esperma.

Alguns presentes podem custar caro. A massa salivar que o mecoptera secreta para atrair a fêmea tem tanta proteína e nutrientes, que um concorrente menos robusto pode oferecer à fêmea um inseto morto ao invés disso. Ao contrário da bola de cuspe, os insetos têm a vantagem de recuperar o presente, ao menos em parte, após o acasalamento.

No caso do Phoreticovelia disparate, um besouro semiaquático, a fêmea costuma ter duas vezes o tamanho do macho. Não apenas ela permite que o macho ande de carona em suas costas durante semanas, mas ela tem uma depressão nas carapaça que parece ser feita para acomodá-lo enquanto ele se alimenta da cera rica em nutrientes que ela secreta para nutri-lo. Os cientistas suspeitam que esse comportamento tenha evoluído para evitar problemas mais onerosos, como a o assédio constante pelos machos.

Jingzhi Tan e Brian Hare da Universidade Duke, na Carolina do Norte mostrava que os bonobos, conhecidos por seu comportamento pacífico e pelos machos não dominantes, podem ser os únicos símios que preferem compartilhar o alimento com desconhecidos do que com amigos. Quando bonobos selvagens são colocados em uma sala repleta de guloseimas como fatias de banana e têm a chance de abrir o portão para um familiar, ou para um macaco desconhecido, os bonobos abrem a trava para o macaco desconhecido e empurram a comida em sua direção.

Os pesquisadores propõem que os bonobos dão presentes alimentares para expandir sua rede social, o que pode aumentar as chances de sobrevivência.

Porém, a xenofilia dos bonobos tem limites. Em experimentos em que os macacos poderiam permitir que o estranho entrasse no quarto, mas não tivessem a chance de interagir fisicamente com ele, eles não abriam a porta. Que vantagem eu levo, se você não vai saber que sou um amigo muito legal?

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