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 | Matt Black PARA The New York Times
| Foto: Matt Black PARA The New York Times

Qualquer pessoa disposta a conhecer a tradição pesqueira desta cidade portuária, cujo nome faz referência à enorme rocha que domina seu porto, precisa apenas caminhar em direção a uma área conhecida como "Banco do Mentiroso", onde os pescadores gostam de contar lorotas. Outra opção é visitar a Morro Bay Hookers, uma próspera associação de pescadores que fisgam anchovas e sardinhas para ganhar a vida, com cerca de 400 anzóis por linha.

Desde que o governo federal declarou situação de calamidade econômica na pesca comercial, em 2000, os pescadores desta comunidade litorânea de 10 mil habitantes entre Los Angeles e San Francisco têm lutado para preservar seu tradicional sustento.

Diante da crescente concorrência das empresas processadoras de peixe em grandes portos, os pescadores da região uniram forças a cientistas e líderes da sociedade civil para decidir o seu próprio destino. Em junho, Morro Bay tornou-se a primeira comunidade na Costa Oeste a fazer o que seus companheiros em Cape Cod já tinham feito: criar um fundo de cotas comunitário para permitir que pequenos pescadores tivessem maior poder de barganha em relação às grandes operadoras.

A cota é a quantidade de uma determinada espécie de peixe que pode ser capturada em uma área geográfica, e os direitos de cota podem ser caros, sendo que empresas de pesca de maior porte podem facilmente esmagar pequenos pescadores. Para resolver o problema, eles criaram o Fundo de Cotas Comunitário de Morro Bay, com direitos de pesca avaliados em aproximadamente US$ 2 milhões (R$ 4,4 mi) para cerca de 90 espécies; cada pescador aluga seus direitos.

Com os americanos comendo mais frutos do mar de águas estrangeiras, os fundos de cotas representam um esforço para manter os pescadores próximos de suas áreas pesqueiras de origem e de tornar a pesca financeiramente viável.

"Há um valor implícito de longo prazo em ter a pesca na comunidade", disse Paul Parker, diretor do Fundo Pesqueiro de Cape Cod, pioneiro nesse conceito nos Estados Unidos. "Trata-se de salvar a tradição da pesca marítima."

Os direitos de pesca do fundo de Morro Bay eram originalmente controlados pela ONG Nature Conservancy, que há nove anos começou a adquirir licenças e barcos de pescadores em dificuldades, que queriam sair do negócio. Juntos, a entidade, os pescadores e os cientistas começaram a buscar formas sustentáveis de capturar os chamados peixes de fundo, usando equipamentos como anzol, linha e iscas para substituir a pesca de arrasto, feita com redes, uma prática que afeta o ambiente marinho.

O objetivo do fundo é alugar as cotas em vez de vendê-las, e assim torná-las mais acessíveis. Rob Seitz, por exemplo, aluga cotas por US$ 0,25 por quilo pelo direito de capturar 45 mil quilos de linguado anualmente, por um total de US$ 12 mil (R$ 26,4 mil). Se ele comprasse cotas no mercado aberto, pagaria cinco vezes mais, sem nenhuma garantia de proteção contra uma eventual disparada dos preços no ano seguinte.

Dias atrás, Seitz, 47, um dos primeiros pescadores a se beneficiarem do fundo do qual agora é presidente, estava em uma doca descarregando cantarilhos, peixe típico de Morro Bay.

Seitz, cresceu pescando no Alasca. Depois de capitanear barcos de outras pessoas por 13 anos em Astoria, Oregon, interessou-se por um barco à venda em Morro Bay. Para comprá-lo, disse, teria que fazer um empréstimo e, para ser aprovado, precisava de uma cota a preço acessível. "Para um pescador, um barco não serve de nada se você não tiver peixe para pescar com ele", disse.

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