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Agora que o ano letivo começou em Mosul, os extremistas enviam uma mensagem aos professores: compareçam ao trabalho ou percam seus empregos. Hoje, as diretrizes que exibem a bandeira negra do grupo e encontram-se penduradas pelas escolas ditam a nova ordem. Meninos e meninas são separados. As meninas precisaram trocar suas saias e blusas por vestidos pretos e véus cobrindo seus rostos. Esporte são só para garotos. Na Universidade de Mosul, as escolas de Belas Artes, Ciência Política e Direito foram consideradas anti-islâmicas e fechadas.

Seis meses depois que o Estado Islâmico tomou a segunda maior cidade do Iraque, Mosul, suas tentativas de reformular o sistema escolar refletem os limites dos seus esforços para instaurar um califado no Iraque e na Síria. Embora o grupo, também conhecido como EIIL ou EIIS, se apresente como uma força de governo libertadora para os sunitas da região, não oferece serviços civis, e se concentra no controle social.

O resultado tem sido uma vida de privações, medo e confusão para os um milhão de habitantes que restam na cidade, de acordo com entrevistas telefônicas com pessoas cuja identidade foi omitida.

A eletricidade foi cortada por meses, e a água da torneira não pode ser bebida. Os moradores precisam clorá-la, fervê-la ou filtrá-la. Os caminhões do Estado Islâmico trazem combustível da Síria, mas ele é caro e a rua se enche de fumaça preta. Lojas vendem comida, mas os preços estão altos porque o grupo cobra um imposto dos caminhões que entram em suas áreas. Embora o Estado Islâmico tenha prometido acabar com o governo iraquiano, ele depende de Bagdá para pagar médicos, enfermeiras, professores e outros que mantêm instituições civis em funcionamento.

Em hospitais, fábricas e escolas, o Estado Islâmico nomeou "emires" para supervisionar as operações. De seu escritório da Administração Educacional controlada pelo grupo, o egípcio conhecido por Thu al-Qarnain propôs mudanças abrangentes, incluindo a exclusão da palavra "Iraque" dos livros didáticos.

Mas a execução foi inconsistente, disse o professor escolar Mohammed, porque o Estado Islâmico não tem pessoal. Homens armados perto de sua escola certificam-se de que não há nenhuma mistura entre alunos e alunas, mas há poucos para produzir o material dos livros didáticos ou monitorar as classes. "Eles estão muito ocupados com a guerra. A coisa mais importante para eles é que digamos que eles são o Estado", disse Mohammed.

O Estado Islâmico tem utilizado métodos semelhantes para moldar a vida em outras cidades que controla. Muitos moradores de Faluja fugiram desde que os militantes assumiram a cidade este ano, e quase não há serviços. Mas a patrulha da polícia da moralidade recentemente puniu jovens por nadarem no Rio Eufrates, pois as mulheres poderiam vê-los. O grupo fez mais progressos na cidade Síria de Raqqa. Mas os Estados Unidos e seus aliados frequentemente bombardeiam suas bases e instalações petrolíferas na região. E o governo sírio bombardeia a própria cidade.

Em Mosul, combatentes do grupo se tornaram menos visíveis desde que os Estados Unidos e seus aliados lançaram uma campanha aérea em agosto. Este mês, o grupo instituiu um sistema de "patrocínio", segundo o qual qualquer pessoa que precise sair da cidade deve se registrar com um "patrocinador" que lá permaneceria e poderia ser preso se o viajante não retornasse.

O grupo mantém algum apoio local. Já recrutou homens das áreas pobres de Mosul para sua Polícia Islâmica, dando-lhes armas, salários e providenciando seus casamentos. Outros moradores desconfiam de Bagdá e na sua forte dependência de milícias xiitas. "A questão é: se não for o EIIL, então quem será? As milícias e os militares?" perguntou Haidar, um lojista. "As pessoas dizem que o EIIL é melhor."

Mosul está relativamente livre das bombas que caem sobre outras cidades iraquianas, embora o Estado Islâmico transmita vídeos de batalhas e execuções em ruas e mesquitas. Pontos de verificação aparecem aleatoriamente. Pistoleiros verificam cartões de identificação e confiscam celulares dos homens à procura de canções seculares ou chats com meninas. As punições variam de palestras religiosas até multas ou chibatadas.

Um homem, Khalid, disse que combatentes armados foram à sua casa em julho e prenderam seu pai, além de outros homens do bairro. Seus vizinhos foram para um tribunal da Sharia para perguntar sobre seus parentes.

"Nunca obtiveram resposta. São só mentiras, mentiras, mentiras. Disseram que ele estaria de volta em poucos dias, mas não há mais nenhuma notícia", ele disse.

Contribuiu Yasir Ghazi

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