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Especialistas afirmam que Cuba deve experimentar novos modelos de negócios depois do acordo com os EUA | The New York Times
Especialistas afirmam que Cuba deve experimentar novos modelos de negócios depois do acordo com os EUA| Foto: The New York Times

Quando Raúl Castro inaugurou o terminal de carga aqui, no litoral norte, descreveu o projeto e a zona comercial adjacente como "uma iniciativa transcendente para a economia nacional".

Os documentos oficiais prometiam grandes incentivos para os investidores: as empresas estrangeiras teriam maior controle para estipular os salários das fábricas dentro da zona; as propostas seriam aprovadas ou rejeitadas dentro de 60 dias.

Só que já se passou um ano e o governo cubano ainda não anunciou um único investimento financeiro. Na verdade, há algum tempo os estrangeiros mais saem da ilha do que chegam. As autoridades insistem em dizer que o interesse é grande, mas o pessoal de outros países afirma ter sido rejeitado por um governo determinado a abrir sua economia e sua política o mínimo possível para continuar de olho nos mercados livres e nas liberdades pessoais.

"Basicamente é uma questão de manter o controle; é ver o que funciona melhor enquanto se mantém as rédeas sociais e políticas nas mãos", afirma Ted Piccone, da Brookings Institution de Washington.

Para muitos especialistas, o acordo que Castro fechou no mês passado com os EUA para libertar prisioneiros políticos e normalizar as relações entre os dois países foi uma decisão econômica: o crescimento para 2014 ficou por volta do 1,3 por cento, abaixo da meta do governo, que era de 2,2 por cento, apesar de mais de cinco anos de políticas novas que permitem aos cubanos abrirem pequenas empresas, trabalharem no exterior e comprarem/venderem imóveis e carros.

Além disso, alguns analistas afirmam que a Venezuela, principal benfeitor da ilha, não tem opção a não ser reduzir a entrega de petróleo subsidiada, pois tem que lidar com sua própria crise, causada pela queda dos preços do produto no mundo inteiro.

E de acordo com os economistas, o plano do presidente Obama de permitir uma interação maior entre os dois países pode não ser a salvação que Cuba espera – a menos que ela supere a própria dificuldade em mudar.

As empresas norte-americanas que oferecem excursões para Cuba afirmam que o interesse disparou. Cerca de 400 mil pessoas, na maioria com dupla nacionalidade, atualmente viajam para a ilha todo ano; se esse número dobrar, e se cada uma continuar gastando, em média, US$1 mil, serão US$400 milhões a mais via EUA. No turismo, Cuba está pedindo investimento em várias áreas novas – embora afirme que em Havana e Varadero a participação do investidor será "exceção", já que as estatais serão beneficiadas.

O status quo foi mantido em diversos outros setores: os agricultores, por exemplo, reclamam que as leis adotadas em 2008 e 2012 não mudaram muita coisa em relação à posse das propriedades. Os contratos de arrendamento devem ser reaprovados a cada dez anos, limitando o interesse.

Michael Mora, 32 anos, produtor de beterraba na periferia de Havana, mencionou outro problema: o transporte para levar a produção ao mercado. "Muitas vezes já tivemos que ir de bicicleta", conta.

O plano de Obama também inclui abertura para os norte-americanos exportarem equipamentos agrícolas ao pequeno produtor cubano, material de construção para casas residenciais, produtos para uso dos empreendedores do setor privado, equipamentos de telecomunicações e a infraestrutura necessária para expandir o acesso à internet.

Só que Cuba impede o cidadão de importar material para seu negócio. As compras devem ser feitas através do Estado, e os lucros são restritos. As pequenas empresas só podem ser abertas em determinados setores e todas têm que pagar taxas altas e enfrentar restrições.

"Parece que o governo de Cuba tem medo que o povo fique rico. A menos que mude seu sistema econômico para aumentar a produção, de nada vai adiantar suspender o embargo", afirma Carmelo Mesa-Lago, professora emérita da Universidade de Pittsburgh.

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