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Desde 2005, o número de prisões cresceu mais de 500 por cento em Watford City, Dakota do Norte, cidade bem no meio de um boom do petróleo | Matthew Staver para The New York Times
Desde 2005, o número de prisões cresceu mais de 500 por cento em Watford City, Dakota do Norte, cidade bem no meio de um boom do petróleo| Foto: Matthew Staver para The New York Times

Em uma manhã do ano passado, uma professora que corria na legião leste do estado de Montana foi sequestrada, estrangulada e enterrada numa cova rasa. Dois andarilhos do Colorado foram acusados pela morte, atraídos à região pelo fascínio do dinheiro fácil nos campos petrolíferos.

A duas horas de distância, numa cidade petroleira em ebulição em Dakota do Norte, um homem de 30 anos desapareceu certa tarde na rua onde colocava tubulações de água e esgoto, deixando para trás uma família desesperada por respostas. Após meses de buscas, sua mãe disse acreditar que o filho está morto e enterrado em algum lugar nas planícies.

Antes raras, histórias assim têm se tornado tão comuns quanto sondas de perfuração em cidades rurais no centro de um dos booms de petróleo mais espetaculares dos Estados Unidos. A criminalidade explodiu enquanto milhares de trabalhadores e rios de dinheiro inundaram a região, sobrecarregando a polícia e destruindo a sensação de segurança dos moradores.

"Parece a versão moderna do faroeste", disse o sargento Kylan Klauzer, investigador de Dickinson, região oeste de Dakota do Norte. A polícia de Dickinson registrou 41 crimes violentos no ano passado, contra sete ocorrências do gênero cinco anos atrás.

Para a polícia e os moradores, a violência prova como uma corrida do ouro moderna está transformando as planícies onduladas e cidades agrícolas onde antes as pessoas reclamavam do êxodo populacional. Hoje em dia, as redes hoteleiras estão construindo unidades quatro andares, e apartamentos pequenos são alugados por US$ 2 mil mensais. Estradas de duas pistas estão congestionadas de carretas e empregos como atendente de posto de gasolina pagam até US$ 50 mil anuais. As ocorrências de agressão e roubo duplicaram ou triplicaram, e a polícia diz correr de chamado a chamado, tendo de lidar com tudo, de brigas de bar até roubo a lojas, sequestros e tentativas de homicídio. As cadeias locais estão transbordando com suspeitos de tráfico de drogas.

Estudo de 2012 em Montana e Dakota do Norte constatou que o crime subira 32 por cento desde 2005 em comunidades no centro do boom. Em Watford City, Dakota do Norte, as prisões aumentaram 565 por cento durante o período. Boa parte do crescimento do crime se deve ao aumento populacional. Ondas de novos moradores significam inevitavelmente mais acidentes de trânsito e ligações para os serviços de emergência.

As delegacias estão contratando mais policiais, mas não conseguem acompanhar o ritmo. Em Dickinson, a população se elevou de 16 mil habitantes em 2000 para 25 mil, com novos hotéis, condomínios e hospedarias para temporadas sendo construídas todas as semanas. A delegacia de polícia da cidade tem 38 policiais, mas o sargento Klauzer disse serem necessários mais 12 para acompanhar o crescimento.

Cartéis mexicanos e regionais de metanfetamina e traficantes de heroína proliferaram, esperando tirar proveito das mesmas fontes de riqueza que transformaram agricultores em milionários e deixaram a taxa de desemprego em 0,7 por cento.

"Eles estão seguindo o dinheiro", afirmou Michael W. Cotter, promotor federal de Montana. "Odeio chamar os cartéis de empreendedores, mas eles estão nesse negócio para ganhar dinheiro. Existe muito dinheiro circulando naquela parte de Montana e Dakota do Norte."

No ano passado, a polícia e promotores de Dakota do Norte, Montana e Canadá tentaram reprimir os traficantes de drogas e os criminosos mais violentos. O FBI está enviando mais agentes para a região.

Enquanto chegam mais famílias, os abrigos para vítimas de violência doméstica estão se enchendo, geralmente com histórias parecidas de migrações problemáticas. As famílias chegaram esperando conseguir empregos que pagassem US$ 20 a hora, mas descobriram casas modestas alugadas por US$ 2 mil e que coisas como gasolina e alimentação custam mais. As tensões da vida se avolumaram. Álcool e drogas só pioraram o problema.

Se o número de assassinatos e estupros continua baixo, a cada poucos meses parece acontecer um ato violento que brilha feito uma chama de gás na pradaria escura, abalando uma comunidade e ressaltando o quanto a vida está mudando por aqui.

Segundo a polícia, em Dickinson, o fato se deu com o estupro de uma mulher de 83 anos, que foi atacada dentro de casa por um homem de 24 anos que veio à cidade procurar trabalho. Em Culbertson, Montana, foi o caso de um homem espancado com soco-inglês por um grupo de traficantes e deixado para morrer ao lado da estrada. Em Sidney, foi o assassinato, em janeiro de 2012, de Sherry Arnold, a professora de 43 anos sequestrada enquanto fazia sua corrida matinal de domingo.

Após o assassinato de Arnold, o prefeito de Sidney, Bret Smelser, disse que a esposa comprou uma pequena pistola para se sentir mais segura enquanto ele não estava em casa.

"Ninguém mais conhece ninguém", ele disse. "Nós éramos uma comunidade onde nunca se trancava a porta. Tudo isso mudou."

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