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Uma forma de arte antes praticada exclusivamente pelos irlandeses ganhou popularidade no mundo todo graças a ‘‘Riverdance’’ | Karsten moran para The New York Times
Uma forma de arte antes praticada exclusivamente pelos irlandeses ganhou popularidade no mundo todo graças a ‘‘Riverdance’’| Foto: Karsten moran para The New York Times

Crescendo em uma parte do Bronx também conhecida como Little Ireland (Pequena Irlanda), Kristi Corcione invejava suas amigas. Elas podiam fazer aulas de dança irlandesa, mas como o "símbolo italiano" de seu bairro, Corcione não podia se juntar a elas. "Eu amava observá-las", afirmou Corcione recentemente. "Então pedi para minha mãe, e ela respondeu: ‘Não. Nós somos italianos’".

Isso foi em 1973. Hoje, a filha de 17 anos de Corcione, Amanda, está treinando para o Campeonato Mundial de Dança Irlandesa.

"Riverdance", o espetáculo que modernizou uma tradição de dança antes pouco conhecida, exportou-a a um público internacional de mais de 24 milhões de pessoas. Esse número continua aumentando, conforme o show realiza sua turnê comemorativa de 20 anos.

No imaginário popular, a dança irlandesa, estilo definido por movimentos rápidos e rítmicos com os pés e o tronco imóvel, tornou-se quase um sinônimo da imagem mais emblemática de "Riverdance": uma fila de 20 dançarinos, vestidos em tons de verde e azul, movendo-se em uníssono da cintura para baixo. (Eu fui um desses dançarinos, de 2005 a 2010, como membro ocasional do espetáculo na América do Norte.)

Atualmente, uma nova produção dos criadores de "Riverdance", chamada "Heartbeat of Home", eleva as apostas de fusão cultural enquanto mostra vários passos sólidos de dança irlandesa. (O show estreou em outubro, em Dublin, e iniciou uma turnê norte-americana em janeiro.)

No domínio menos divulgado onde a maioria dos dançarinos aprimora sua arte – um circuito cada vez mais global de competições de dança irlandesa –, a prática secular evoluiu a um híbrido de arte, esporte e concurso de beleza, para o qual muitos dançarinos, independente de seu legado cultural, treinam com a gana de atletas profissionais.

Escolas de dança irlandesa surgiram em Israel, Japão, Noruega, Romênia, Rússia e outros países. As competições podem ser encontradas em Hong Kong, Praga e São Petersburgo, entre outras cidades. Mais de 5 mil competidores de 20 países são esperados no Campeonato Mundial em Londres, em abril deste ano.

A competição de dança irlandesa, conhecida como feis (gaélico para "festival"), já existia muito antes de "Riverdance". A primeira feis foi realizada em Macroom, County Cork, em 1899. Hoje, para um dançarino sério, não é incomum gastar US$2 mil por ano uma roupa sob medida. (Quanto mais brilho, melhor. Materiais leves e aerodinâmicos também estão na moda.)

E quanto à dança em si? "Há mais atletismo", afirmou Tim O’Hare, presidente da Irish Dancing Teachers Association of North America, falando por telefone de Chicago. "Os garotos treinam tão pesado que isso se torna mais um esporte do que uma forma de arte". Ele citou uma ênfase cada vez maior em saltos mais altos e ritmos mais rápidos sobre a "graça natural".

John Carey, o coreógrafo de "Heartbeat of Home", atribui a intensidade elevada a novas possibilidades de carreira para os dançarinos irlandeses. "Antes de ‘Riverdance’, não existia um dançarino irlandês profissional", disse ele por telefone de Londres.

Jason O’Neill, um dos dançarinos principais em "Heartbeat", viu "Riverdance" pela primeira vez ainda criança, em Belfast. "Aquilo realmente mudou minha visão sobre a dança e até onde eu a poderia levar", explicou ele. "Comecei a treinar muito mais, mesmo com apenas 9 anos".

Segundo Carey, sua coreografia para "Heartbeat" reflete os tempos. "Os dançarinos provavelmente estão me amaldiçoando", declarou ele. "Mas o espetáculo está bem atualizado com o que eles estão fazendo nas competições hoje em dia. Ou ainda mais difícil".

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