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Alunos de kung fu na Escola Shaolin Tagou, centro de treinamento próximo ao Templo Shaolin em Dengfeng, China, em 2014 | Adam Dean/The New York Times
Alunos de kung fu na Escola Shaolin Tagou, centro de treinamento próximo ao Templo Shaolin em Dengfeng, China, em 2014| Foto: Adam Dean/The New York Times

O incenso vaga entre os cedros. Monges com vestes cor de açafrão e movimentos ágeis enfrentam inimigos imaginários. O som de um sino de bronze chama os fiéis à oração.

Essa é uma cena comum no Templo Shaolin, berço do kung fu e do zen-budismo nas florestas da província de Henan, no centro da China, onde, segundo a lenda, monges se dedicam às artes marciais há séculos.

No entanto, hoje grande parte do país está chocada com as denúncias de que o mestre Shi Yongxin, conhecido como o “Monge Executivo” da China por transformar o Shaolin em um império comercial global, é um estelionatário e um homem imoral que secretamente teve filhos com duas de suas amantes, apesar do voto de celibato.

As acusações se baseiam principalmente em documentos divulgados por um suposto ex-monge do templo, segundo o qual o mestre possui carros de luxo, embolsou milhões de dólares de uma empresa dirigida pelo templo e canalizou parte do dinheiro para uma amante que vive na Austrália.

O informante, uma figura misteriosa cujo nome pode ser traduzido como “perseguidor da justiça”, disse à imprensa que está cansado da hipocrisia do monge.

Em uma declaração publicada on-line, autoridades do mosteiro chamaram as alegações contra Shi Yongxin de “difamações viciosas e infundadas”. Apesar disso, a polícia local disse que abriu uma investigação.

Os críticos queixam-se há anos de que Shi Yongxin comercializou excessivamente o Shaolin por meio de licenciamento de produtos e franquias no exterior, incluindo planos de um resort kung fu de luxo de US$ 300 milhões com campo de golfe na Austrália.

O mestre se recusou a responder às acusações e rejeitou pedidos para divulgar detalhes das finanças do mosteiro, incluindo as da Administradora de Bens Intangíveis Shaolin, que investe em sete empresas de temática budista que são majoritariamente propriedade do monge.

Shi Yongxin, 50, homem rechonchudo e de fala macia, é alternadamente enaltecido na mídia chinesa por reviver o complexo do mosteiro de 1.500 anos, depois de décadas de dessacralização e negligência, e criticado por sua abordagem empresarial.

Em entrevistas, ele descreveu os acordos comerciais e suas viagens internacionais como necessários para promover o budismo.“Se a China pode importar resorts da Disney, por que outros países não podem importar o mosteiro Shaolin?”, disse em março, segundo a agência Xinhua. “Promover nossa cultura no exterior é um empreendimento muito digno.”

Mesmo que oficialmente ateu, o Partido Comunista, que governa a China, passou a apreciar o perfil global de Shaolin e sua capacidade de gerar receita. Autoridades deram a Shi Yongxin um veículo de luxo de US$ 125 mil e o ungiram seu representante na legislatura cerimonial do país, o Congresso Nacional do Povo.

No coração da Shaolin Incorporated, que abriga 400 monges residentes e onde milhares de estudantes aprendem artes marciais em academias privadas ao longo da estrada principal até a cidade, o apoio a Shi Yongxin continua forte. “Você não encontrará um homem mais virtuoso”, disse o guia turístico Wang Daling, 50.

Poucas pessoas pensaram que Shaolin sofreria danos duradouros, devido à popularidade do templo, tanto na China como no exterior.

“Quanto mais fofocas sobre Shaolin, mais turistas virão”, disse Zhang Jianzhen, 32, vendedor de lanches cuja concessão oferece garrafas de água por US$ 1,50, 400% mais caras que as vendidas fora dos portões do templo.

“Isso só pode ser bom para os negócios.”

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