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Com machadinhas em punho, os homens abriram caminho através da floresta densa, surgindo a cada poucos minutos com cachos enormes de banana verde. Um guarda segurando um fuzil russo fica de olho nas árvores, à procura de intrusos, enquanto o grupo joga tudo o que colheu em um trailer antes de sair correndo para buscar mais.

Depois de anos de uma guerra que dizimou a indústria que já foi a maior da África, a banana está ressurgindo na Somália.

"Em abril passado exportamos para a Arábia Saudita pela primeira vez em 23 anos. Estamos muito animados e cheios de esperança", vibra Kamal Haji Nasir, de trinta anos, cujo pai possui essa plantação em Afgooye, uma cidadezinha a 45 minutos de carro de Mogadíscio.

Durante mais de duas décadas, a Somália foi um país dominado pela guerra, a anarquia, a fome, a pirataria e o terrorismo. Muitos desses problemas ainda continuam – houve um aumento no número de atentados por parte dos militantes do Shabab, o governo está dividido por desavenças internas e há risco de uma séria escassez de alimentos – mas conseguiu alguns progressos.

A Somália elegeu um novo presidente e adotou uma constituição em 2012, gerando alguma estabilidade e atraindo promessas de ajuda de doadores internacionais. Os piratas, que já chegaram a ameaçar as rotas internacionais do oceano Índico, em grande parte foram contidos e o Shabab perdeu o controle de muitas cidades.

Essa solidez permitiu que produtores como Nasir voltassem ao negócio que está na família há quatro gerações.

O cultivo da fruta chegou ao país pelos colonizadores italianos, na década de 20 – e não demorou para que se tornasse ingrediente básico da culinária local, consumida com arroz, massa, ou mesmo como fruta, e começasse a ser exportada para a Itália e o Oriente Médio. Em 1990, o mercado chegou a US$96 milhões, de acordo com o Banco Mundial.

Tudo isso, no entanto, parou quando eclodiu a guerra civil, em 1991. A Somália virou um campo de batalha onde chefes militares disputavam o controle local com os extremistas islâmicos e brigavam uns com os outros pela primazia das exportações da fruta como fonte de dinheiro vivo.

Conforme a segurança começou a melhorar, os produtores passaram a recuperar os sistemas de irrigação, a contratar mão-de-obra e seguranças e a planejar vendas no mercado externo.

Em 2011, eles criaram uma empresa, a FruitSome, para comercializar e exportar suas bananas.

Os conhecedores da fruta dizem que a variedade somali é excelente. "Doce, ligeiramente amarga, cremosa e com gosto que lembra baunilha" – é assim que o engenheiro agrônomo Edward Baars as descreve.

José Lopez, da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, a FAO, disse que o país precisa atrair mais investimento privado para reconstruir o setor, incluindo as estradas, a rede de irrigação e as instalações de armazenamento. Omar Farah, representante da FruitSome, porém, se disse otimista em relação ao futuro.

"Quando você prova uma banana somali, percebe a diferença", vibra ele.

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