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 | Ed Alcock /The New York Times
| Foto: Ed Alcock /The New York Times

Claudia Goldin é professora de Harvard e especialista no tema da mulher no trabalho, mas não só isso. Sendo uma das mais respeitadas economistas dos Estados Unidos, ela exemplifica a estatura e independência crescentes das mulheres na sociedade americana. Assim, foi incomum encontrá-la pouco tempo atrás na Arábia Saudita, trajando "abaya" (espécie de túnica que cobre o corpo inteiro) enquanto se reunia com representantes governamentais do reino em um hotel de luxo que tem áreas onde apenas homens podem se sentar e que proíbe as mulheres de usar seu centro de bem-estar e fitness.

Sua viagem ao país fez parte de um esforço de um grupo de acadêmicos destacados que, trabalhando dentro do contexto cultural, assumiu um projeto em conjunto com o governo saudita para ajudar as mulheres desse país a superar os obstáculos que as impedem de encontrar emprego. O país muçulmano é socialmente conservador, com atitudes culturais rígidas e restrições às mulheres que incluem a proibição de dirigir carros.

A Arábia Saudita tem 20 milhões de cidadãos sauditas e vários milhões de estrangeiros. No ano passado, aproximadamente 680 mil mulheres sauditas tinham empregos –menos de 11% das mulheres adultas—, enquanto cerca de 4 milhões de homens sauditas, ou 60%, trabalhavam, segundo cifras do governo.

Maha K. Taibah, assessora do ministro saudita do Trabalho para questões de desenvolvimento do capital humano, diz que o governo quer dobrar nos próximos anos o número de mulheres que trabalham. Os planos de ação com esse objetivo em vista incluem a construção de creches perto de locais de trabalho e a criação de empregos para mulheres em setores como a saúde, a indústria manufatureira e a informática.

"No momento, ficar em casa é a regra entre as sauditas", disse Taibah. O ministério saudita do Trabalho pediu a ajuda da Kennedy School of Government, de Harvard, para ajudá-lo a encontrar mais trabalho para mulheres, dentro de um projeto mais amplo para levar mais sauditas, homens e mulheres, a trabalhar. O país depende há muito tempo da força de trabalho estrangeira no setor privado.

Está claro que muito mais mulheres sauditas querem trabalhar; cerca de um terço das mulheres com diploma de bacharel relata que não conseguiu encontrar emprego. A Kennedy School e o ministério do Trabalho saudita estão analisando dados sobre o mercado de trabalho para tentar encontrar soluções, disse um dos líderes do projeto, Rohini Pande. Claudia Goldin e seus parceiros de pesquisas estudam como avaliar um plano do governo para contratar mais mulheres sauditas para empregos no setor varejista.

O desafio é complexo. Algumas mulheres na Arábia Saudita relutam em buscar trabalho fora de casa, algo que é visto como trabalho para estrangeiros. Mas o maior problema é chegar até o trabalho.

As autoridades sauditas criaram um programa piloto para oferecer subsídios de transporte por táxi a mulheres que aceitem empregos novos num dos shopping centers de Riad. Mas o custo de ampliar esse programa pode ser tão alto que mais valeria a pena as autoridades criarem um sistema de transporte público. Mas seria preciso criar ônibus especiais reservados para mulheres?

O esforço para encontrar empregos para mulheres pode ter implicações importantes para a sociedade saudita, razão pela qual certamente vai suscitar controvérsia entre os setores mais tradicionais do reino.

Se mais mulheres ingressarem na força de trabalho, as atitudes gerais em relação a elas podem começar a mudar, como aconteceu nos Estados Unidos décadas atrás, quando as mulheres começaram a trabalhar em grande número, disse Patricia Cortes, professora de mercados, política pública e direito na Universidade de Boston, que está trabalhando com Claudia Goldin.

"As mudanças no mercado de trabalho impeliram mudanças nas normas e crenças", ela disse.

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