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Cuenca, no Equador, que faz parte do Patrimônio Mundial da Unesco, situa-se a cerca de 2.400 metros acima do nível do mar | Meridith Kohut/The New York Times
Cuenca, no Equador, que faz parte do Patrimônio Mundial da Unesco, situa-se a cerca de 2.400 metros acima do nível do mar| Foto: Meridith Kohut/The New York Times

Duas horas e meia e ainda nem sinal de lhamas. Deveríamos estar passando por exuberantes florestas e lagos de montanha, e não por intermináveis plantações de banana que continuávamos a ver pela janela do nosso carro alugado. Em algum lugar entre Guayaquil e as pitorescas ruas de paralelepípedos de Cuenca, meu marido e eu havíamos pegado o caminho errado. E agora tínhamos que tomar uma decisão: voltar e tomar o caminho mais conhecido que havíamos planejado originalmente, ou seguir em frente sem saber quais seriam as condições da estrada?

Resolvemos continuar. E, embora a viagem tenha durado seis horas em vez de três, a paisagem era deslumbrante, as estradas eram pavimentadas e nossa filha dormiu.

Os bananais deram lugar a montanhas onde amêndoas de cacau foram espalhadas para secar nas calçadas. Chegamos ao topo de uma montanha andina e nos vimos em uma paisagem lunar antes de começarmos a descer para uma série de vales cercados por encostas onde vacas pastavam.

O que ainda me atrai neste país sul-americano é sua diversidade geográfica e cultural. O Equador tem montanhas andinas cobertas de neve, floresta tropical amazônica, praias do Pacífico banhadas pelo sol. Porém, muitos turistas acabam perdendo as outras atrações: lagos nas montanhas, florestas tomadas pela neblina e cidades coloniais.

Em nossa viagem de nove dias, nos dedicamos a três dessas atrações — praias, montanhas e charme colonial. O plano era seguir para o norte ao longo da costa do Pacífico, depois para o leste, para os Andes, antes de passarmos um tempo com a família na bela cidade colonial de Cuenca, onde minha mãe nasceu.

Começamos indo para o oeste de Guayaquil, a maior cidade do Equador, e depois para o norte ao longo da estrada costeira. A rota se estende por quase todo o litoral. O trajeto passa por vilas de pescadores, resorts, floresta tropical e praias douradas e desertas.

Fomos em direção a Montañita, um enclave de mochileiros e surfistas, e em seguida para La Playa Los Frailes, tida como a mais bela praia do Equador, cerca de 60 quilômetros ao norte de Montañita, no Parque Nacional Machalilla. Ao longo da rota, que serpenteia por encostas verdejantes e matas de arbustos, paramos em Puerto López, pitoresca aldeia de pescadores. Era o início da temporada de observação de baleias na costa do Equador, onde todos os anos, de junho a outubro, baleias jubarte chegam da Antártica para procriar. Por US$ 50, dá para passar metade de um dia típico observando baleias e mergulhando em Puerto López, inclusive com uma visita à Isla de la Plata, onde dizem que Sir Francis Drake teria escondido um tesouro. A ilha é apelidada de Galápagos dos pobres graças às patolas-de-pés-azuis, fragatas e outras aves marinhas.

Em Puerto López, paramos para o almoço no Hotel Pacifico, que ofereceu ceviches decentes e peixe e frango insossos. O melhor de tudo foi a Pacha, uma loja de chocolates artesanais que encontramos ao sair da cidade. Há barras de chocolate, amêndoas de cacau moídas e brownies feitos com uma variedade nacional de cacau.

Colhidas nas pequenas fazendas orgânicas nas proximidades, as amêndoas de cacau da Pacha são fermentadas por quatro a oito dias em grandes caixas de cedro e, em seguida, são secas em tabuleiros durante 10 a 20 dias. Sem casca e torradas para liberar os sabores complexos, as amêndoas de cacau são então triturados com um moedor de pedra. Depois de endurecer sobre o mármore, o chocolate está pronto para ser moldado, embalado e vendido. Cedemos à tentação e comemos um brownie antes de pegar a estrada novamente.

Finalmente chegamos a Cuenca, quase 2.400 metros acima do nível do mar; seu centro histórico — Patrimônio Mundial da Unesco — é dominado por telhados de terra-cota, abóbadas de igrejas, praças e ruas de paralelepípedos.

A estrada segue em direção ao Parque Nacional de Cajas. Pinheiros e eucaliptos deram lugar a pastagens, arbustos e árvores impressionantes que se agarram a uma paisagem recortada pontilhada de lagos. Ao sairmos do carro, minha filha gritou: “uma lhama!”

Cajas varia em altitude entre 3 e 4 mil metros. A duras penas, subimos uma encosta ao lado de um lago espelhado. No mundo frio e tranquilo do páramo andino, o calor e as areias douradas da costa pareciam estar a milhões de quilômetros de distância. Porém, aqui estávamos nós, vendo lhamas no alto da Cordilheira dos Andes. E pensar que apenas alguns dias antes, estávamos vendo baleias.

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