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Phuong Lu deixou seu emprego dois anos atrás para cuidar em casa de sua mãe, Doanh Nguyen, que tem a doença de Alzheimer | Jessica Kourkounis/The New York Times
Phuong Lu deixou seu emprego dois anos atrás para cuidar em casa de sua mãe, Doanh Nguyen, que tem a doença de Alzheimer| Foto: Jessica Kourkounis/The New York Times
  • Savan Mok, que presta cuidados de saúde a idosos em suas casas, ajuda Oun Oy, 90

Sobre o sofá da sala, dois grossos cobertores tinham sido separados para uma viagem que Doanh Nguyen, 81, a mãe de Phuong Lu, queria fazer. "Ela está pronta para ir ao Vietnã", explicou Lu.

Mas Nguyen não ia viajar. As portas estavam trancadas por dentro.

Nguyen tem a doença de Alzheimer, e Lu, 61, cuida dela em tempo integral. Era manicure, mas deixou de trabalhar, dois anos atrás, quando a condição de sua mãe se agravou. Lu explicou que no Vietnã os filhos têm o dever de ficar em casa e cuidar dos pais idosos. Viver em um lar para idosos cria "problemas na cabeça". Hoje a família depende financeiramente do marido de Lu, que é operário de construção.

À medida que a expectativa de vida aumenta em todo o mundo, graças aos avanços da medicina, a questão de como sustentar e cuidar de pais idosos ganha urgência crescente. Nos Estados Unidos, essas questões têm peso especial para muitos asiático-americanos.

Os asiático-americanos não são os únicos a querer cuidar eles próprios de seus familiares idosos. Muitas famílias hispânicas fazem o mesmo. Mas mais idosos latinos estão indo para asilos, e encontrar um cuidador doméstico ou supervisor de lar de idosos que fale espanhol geralmente é mais fácil que encontrar um que fale khmer, por exemplo.

Zhanlian Feng, analista sênior de pesquisas na RTI International e estudioso de mudanças demográficas, disse que o sentimento filial de respeito pelos mais velhos, conceito baseado na filosofia confuciana, é parte importante das expectativas culturais dos asiático-americanos. "A ideia de que a geração mais jovem tem o dever de cuidar de seus pais está entranhada na cultura chinesa", disse Feng. "Os filhos devem cuidar dos pais mais velhos na hora em que estes precisam." Mas essa tradição está sendo enfraquecida, ele disse, pelo número crescente de famílias que estão geograficamente dispersas ou em que ambos os cônjuges precisam trabalhar.

A situação está mudando um pouco, tanto nos EUA quanto na Ásia. O aumento da proporção de idosos obrigou algumas comunidades na China a criar lares para idosos e "assisted-living facilities" (residências com algum atendimento e ajuda diária para idosos que ainda podem viver com certo grau de independência), que praticamente inexistiam três anos atrás, disse Feng. E as "retirement communities", ou comunidades para aposentados (condomínios de apartamentos para aposentados que ainda podem viver com independência), para asiático-americanos vêm ganhando popularidade.

Os provedores de atendimento à saúde nos EUA enfrentam questões culturalmente delicadas, como, por exemplo, saber se devem tratar os pacientes pelo primeiro nome ou se podem falar sobre traumas de guerra com uma pessoa que pode ter sido refugiada. As barreiras linguísticas constituem outro obstáculo, disse Kun Chang, coordenador regional para o nordeste dos EUA do Centro Nacional Ásia-Pacífico sobre Envelhecimento. De acordo com ele, a pouca fluência no inglês dos asiático-americanos mais velhos é "o problema número um".

O índice de suicídio entre mulheres de mais de 75 anos asiático-americanas e originárias das ilhas do Pacífico é quase o dobro que o de outras mulheres da mesma faixa etária. Em 2012, 12,32% dos asiático-americanos com mais de 65 anos viviam na pobreza, comparados a 9,1% de todos os americanos dessa faixa etária. Quase três quartos dos 17,3 milhões de asiáticos nos EUA nasceram fora do país, e são eles que enfrentam os problemas mais difíceis.

As barreiras linguísticas e tradições culturais que complicam a convivência e o cuidado de idosos dificultam a questão num momento em que cresce a população de asiático-americanos mais velhos.

Para Phuong Lu, internar sua mãe num lar de idosos onde ela não conseguiria se comunicar com os funcionários não é uma opção. Em vez disso, por meio de um programa oferecido pela Penn Asian Senior Services, conhecido como Passi, ela está aprendendo a cuidar de sua mãe em casa. Mas, apesar de seu rosto sorridente, o estresse que isso implica é evidente.

Lu começou a trancar as portas depois de sua mãe sair de casa, uma noite, e caminhar vários quilômetros até ser encontrada pela polícia. Já houve casos em que sua mãe tirou retratos de pessoas da família das paredes da sala para levar com ela em suas viagens imaginárias ao Vietnã. Lu disse que, se não puder cuidar de sua mãe, terá que considerar a possibilidade de um lar para idosos. "Mas não agora", falou. "Ela sente muito medo no lar de idosos."

Os desafios que ela e tantos outros enfrentam destacam a necessidade de serviços culturalmente competentes de atendimento a idosos asiático-americanos, disse Im Ja Choi, fundadora e diretora executiva da Passi, que treina cuidadores domésticos que falem línguas como coreano, mandarim e vietnamita.

Choi fundou a organização depois de sua mãe desenvolver um câncer. "Quando ela adoeceu, não pude simplesmente abandoná-la num asilo", disse. "Isso não faz parte de minha cultura." Ela prosseguiu: "Esse é o sofrimento dos asiático-americanos. Eles precisam trabalhar, seus filhos vão para a escola e seus pais ficam em casa, sozinhos. Eles põem os pais para viver num complexo residencial para idosos, e eles ficam lá, sozinhos."

A AARP (Associação Americana de Aposentados), que tem 37 milhões de membros, também está voltando sua atenção aos asiático-americanos, disse Daphne Kwok, vice-presidente de mercados multiculturais do grupo, que vem se reunindo com outros, como o de Chang, para obter mais informações sobre as necessidades desse setor.

Kwok disse que o termo "prestar cuidados" é uma "terminologia mainstream".

Para os asiático-americanos, disse ela, "isso é que se espera de nós. Não vemos isso como prestar cuidados, no mesmo sentido da definição americana."

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