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O sistema de captura de carbono em uma fábrica no Mississippi está custando 5,5 bilhões de dólares | Aaron Phillips /The New York Times
O sistema de captura de carbono em uma fábrica no Mississippi está custando 5,5 bilhões de dólares| Foto: Aaron Phillips /The New York Times

Uma nova fábrica de carvão foi construída aqui no vasto prado para substituir uma que emitia tanta fuligem que as roupas secando do lado de fora na região acabavam sujas de novo. Contudo, como até mesmo as fábricas de carvão mais modernas, as suas chaminés ainda emitem enormes quantidades de dióxido de carbono, o gás invisível que é o principal responsável pelo aquecimento global. Assim, neste outono, um novo labirinto de tubulações e de tanques irão aspirar 90 por cento do dióxido de carbono de uma das caldeiras para que possa ser enterrado.

Esse será o primeiro grande projeto do tipo em uma usina de energia, o equivalente a retirar cerca de 250 mil carros das ruas. Pelo menos em tese, o dióxido de carbono será mantido fora da atmosfera para sempre. Mundialmente, o consumo do carvão em 2020 será cerca do dobro do consumo do ano 2000, segundo a Administração da Informação Energética dos Estados Unidos, e continuará crescendo durante décadas.

"Se quisermos continuar usando esses hidrocarbonetos fósseis, será preciso limpar as emissões", declarou Stuart Haszeldine, da Universidade de Edinburgh. Segundo ele, a captura do carbono "é a melhor maneira de fazer isso".

No entanto, porque isso exige tanta energia, capturar o carbono reduz a capacidade de produção de eletricidade de uma usina. Existem perguntas básicas se o dióxido de carbono pode ser armazenado de forma segura abaixo da superfície. E a tecnologia é cara. Atualizar somente a usina de Saskatchewan custou um bilhão e duzentos milhões de dólares.

Nas florestas de pinheiros no centro de Mississippi, outro projeto de captura de carbono está tomando forma, em uma nova e enorme usina de energia que será alimentada constantemente com uma dieta de carvão da mina a céu aberto vizinha. Bruce Harrington, gerente de operações, disse que um exército de trabalhadores trabalha no subterrâneo. A proprietária da usina, a Southern Company, espera inaugurar a estrutura no ano que vem. Porém, ela é mais complexa que o projeto em Saskatchewan, e está custando agora 5,5 bilhões de dólares.

Os Estados Unidos e outras nações ajudaram alguns projetos – o Canadá doou 220 milhões de dólares para o proprietário da usina de Saskatchewan, a SaskPower, e a Southern Company recebeu 270 milhões do Departamento de Energia dos Estados Unidos, mas os custos são tão altos que poucas outras empresas fizeram algo além de estudar a ideia.

A tecnologia existe há quase um século, usada em algumas refinarias e outras fábricas industriais em Illinois, na Dakota do Norte, no Canadá e na Noruega.

No entanto, retirar o dióxido de carbono dos redemoinhos de gases liberados em uma usina de energia é um desafio. O equipamento é enorme. Na usina de Saskatchewan, chamada de Boundary Dam, um produto químico líquido se junta às moléculas de dióxido de carbono após ser pulverizado em numa nuvem de gases de combustão. O "removedor", onde o dióxido de carbono é finalmente retirado, tem quase 50 metros de altura.

Além disso, a eficiência é perdida porque um pouco do vapor que normalmente geraria eletricidade é desviado para o removedor. E um motor monstruoso comprime o dióxido de carbono – até que ele efetivamente se torne um líquido – para o transporte. No total, capturar o dióxido de carbono na Boundary Dam enfraquece a geração de eletricidade em cerca de 20 por cento.

Injetar líquidos nas profundidades do solo também pode apresentar problemas. O bombeamento dos resíduos líquidos provenientes da produção de petróleo e de gás foi ligado aos pequenos terremotos nos Estados Unidos.

O dióxido de carbono poderia contaminar a água potável, ou vazar em bolhas para a atmosfera, destruindo todo o propósito. Mesmo assim, tem sido enterrado em todo o mundo com poucos problemas. Na Noruega, cerca de um milhão de toneladas são armazenadas a cada ano desde 1996, injetadas em arenito 900 metros abaixo do Mar do Norte. A maioria do dióxido de carbono de Boundary Dam poderá se tornar uma ferramenta para a extração e consumo do petróleo.

Após ser vendido e enviado através de um gasoduto de 60 quilômetros para um campo petrolífero, o dióxido de carbono será bombeado em poços antigos, onde será misturado com o petróleo existente, fazendo com que o óleo flua melhor. O processo é conhecido como recuperação melhorada de petróleo. A indústria do petróleo e do gás faz isso há décadas, na maioria das vezes com o dióxido de carbono existente naturalmente acumulado no subterrâneo. A cada ano na América do Norte, mais de 13 milhões de toneladas de dióxido de carbono da indústria são usadas também. Segundo especialistas, a prática pode ser expandida para campos petrolíferos, que armazenam bilhões de toneladas de dióxido de carbono que servem como uma reserva para o dia em que seja necessário.

O prognóstico para capturar o carbono ao redor do mundo não está claro. Se os Estados Unidos progredirem com os planos do presidente Obama para reduzir as emissões do carbono, a China e outros países podem fazer grandes avanços também. "Como isso se resolverá com o tempo é difícil dizer", disse Edward S. Ruben da Universidade Carnegie Mellon, na Pensilvânia. "Inevitavelmente, haverá um equilíbrio entre a capacidade tecnológica, o custo e as realidades políticas".

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