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As geleiras da Groenlândia têm liberado icebergs no oceano em ritmo acelerado. Pesquisador do fiorde Sermilik | Tony Cenicola/The New York Times
As geleiras da Groenlândia têm liberado icebergs no oceano em ritmo acelerado. Pesquisador do fiorde Sermilik| Foto: Tony Cenicola/The New York Times

Depois de duas semanas de extensas reuniões em Lima, no Peru, negociadores climáticos determinaram um acordo. Em relatório prévio, que será finalizado daqui um ano em Paris, concordaram em manter o aquecimento do planeta em longo prazo abaixo de dois graus Celsius.

Esse limite foi primeiro estabelecido quatro anos atrás em outra rodada de negociações em Cancun, no México. Ele é de dois graus acima da temperatura média global no início da Revolução Industrial — a "Meta 2C".

Essa meta surgiu na década de 70 quando William D. Nordhaus, economista da Universidade de Yale, mostrou que os danos à sociedade realmente se intensificariam com esse nível de aquecimento.

As nações entraram em um acordo em 1992 tentando evitar o pior, em um tratado ambicioso mas vago que pedia uma ação para prevenir a perigosa interferência no clima.

Isso levantou a questão de qual seria olimite do aquecimento. Em meados da década de 90, o governo alemão retornou ao estudo do 2C como uma forma de dar vida ao acordo.

Uma década da pesquisa adicionou suporte científico à noção de que 2C era um limiar perigoso. Os especialistas se deram conta, por exemplo, de que com um determinado aumento da temperatura global, a imensa camada de gelo da Groenlândia começaria a derreter de forma irreversível, aumentando o nível do mar em sete metros ao longo de um período desconhecido Seus primeiros cálculos sugeriram que a calamidade seria improvável se o aquecimento global não excedesse 1,9 graus Celsius.

"Arriscar a perda de toda a camada de gelo da Groenlândia sempre foi considerado perigoso demais", disse Stefan Rahmstorf, diretor de análise de sistemas terrestres no Instituto de Pesquisa do Impacto Climático de Potsdam, na Alemanha. "Estamos falando da destruição de inúmeras cidades costeiras."

Os alemães conseguiram convencer outros países a adotarem o 2C, transformando-o em política oficial europeia. A proposta sempre foi controversa, pois países africanos e Estados insulares, em particular, argumentam que dois graus é aquecimento demais e iria condená-los à ruína. Os Estados insulares citaram o potencial de grande elevação do nível do mar, e os países africanos temiam efeitos graves na produção de alimentos, entre outros problemas.

Mas na prática, a meta dos 2C parecia a mais ambiciosa possível, exigindo que praticamente todas as emissões de combustíveis fósseis acabassem em 30 ou 40 anos.

As negociações que irão culminar em Paris em 2015 são vistas como talvez a melhor chance de transformar essa promessa em limites de emissões significativas, em parte porque o presidente Obama foi muito além seus antecessores em comprometer a ação dos Estados Unidos, o maior produtor histórico de gases de efeito estufa. Isso, por sua vez, ajudou a convencer a China, o maior produtor atual, a assumir seus primeiros compromissos sérios.

Porém, teorias científicas e observações concretas começaram a levantar dúvidas sobre a eficácia desse limite.

Para começar, o mundo já está quase um grau mais quente desde a Revolução Industrial. O aquecimento já está causando enormes danos em todo o planeta, desde florestas que estão morrendo ao derretimento da calota polar e terríveis ondas de calor e chuvas torrenciais. E os cientistas percebem que podem ter subestimado a vulnerabilidade das camadas de gelo na Groenlândia e na Antártida.

Essas camadas de gelo agora parecem estar nos estágios iniciais de colapso. As geleiras da Groenlândia têm liberado icebergs no oceano em um acelerado ritmo e estudos científicos publicados este ano avisam que o derretimento em partes da Antártica já pode não pode ser parado.

"O clima está em desequilíbrio com os lençóis de gelo", disse Andrea Dutton, geoquímica da Universidade da Flórida. "Eles vão derreter."

Em última análise, isso pode representar um aumento de dez metros ou mais nos níveis dos mares, embora os cientistas não saibam ao certo em quanto tempo isso pode acontecer. Eles esperam que leve milhares de anos, mas não podemos descartar um aumento mais rápido que pode sobrecarregar a capacidade da sociedade humana de se adaptar.

Assustados com o que veem, alguns países se perguntam se a meta é segura. Eles alistaram inúmeros cientistas para garantir que o 2C será o suficiente. Os resultados sairão no ano que vem.

Exceto por um milagre tecnológico, ou uma mobilização da sociedade em uma escala sem precedentes em tempos de paz, não está claro como uma meta menor poderia ser atingida.

Alguns especialistas acham até que o tiro pode sair pela culatra. Se 2C já parece difícil de alcançar, com o mundo na trilha para níveis de aquecimento muito além disso, definir um limite menor pode fazer líderes políticos lavarem as mãos em frustração.

Além disso, na prática, um limite de temperatura mais apertado não alteraria o conselho que os cientistas dão aos políticos há décadas sobre a redução das emissões. Sua recomendação é simples e direta: comecem agora.

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