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Quinn Loftis, autora de romances juvenis, afirmou que ela e outros escritores adorariam entrar na cabeça dos leitores | Justin Bolle para The New York Times
Quinn Loftis, autora de romances juvenis, afirmou que ela e outros escritores adorariam entrar na cabeça dos leitores| Foto: Justin Bolle para The New York Times

Antes da internet, os livros eram escritos e publicados às cegas, apenas com base na esperança de venda. Algumas vezes eles vendiam bem, mas quase sempre não, e ninguém tinha ideia do que os leitores faziam quando os abriam. Eles pulavam páginas ou liam com atenção? Liam devagar ou mais rápido quando percebiam que o fim se aproximava? Liam mais devagar as cenas de sexo?

Agora, algumas startups estão usando a tecnologia para responder a essas questões – e ajudar os autores a entenderem o que os leitores querem. As empresas coletam dados de leitura de assinantes que pagam um valor mensal fixo para terem acesso a uma série de títulos, que podem ser lidos em uma série de aparelhos. A ideia é fazer para os livros o mesmo que o Netflix fez para os filmes e o Spotify para a música.

"Os autores que financiam as próprias edições vão ficar malucos com isso", afirmou Mark Coker, executivo-chefe da Smashwords, uma grande editora independente. "Muitos parecem valorizar os livros mais que os próprios filhos. Eles fariam qualquer coisa para conseguir mais leitores."

A Smashwords fez um acordo para incluir 225.000 livros no Scribd, uma biblioteca digital que inaugurou um serviço de assinaturas em outubro. Muitos dos livros da Smashwords já podem ser encontrados no Oyster, uma startup de assinatura de livros com sede em Nova York.

A iniciativa para explorar os dados de leitura é uma das formas pelas quais a análise de consumo está entrando em todos os rincões da cultura. A Amazon e a Barnes & Noble já coletam grandes quantidades de dados com seus leitores digitais, mas não divulgam os dados. As startups, que dizem que os leitores não serão identificados, esperam obter lucros com o uso da informação.

"Seremos bastante francos a respeito do compartilhamento desses dados para que as pessoas possam usá-los para publicarem livros melhores", afirmou Trip Adler, executivo-chefe do Scribd.

Quinn Loftis, autora de romances paranormais juvenis que vive no oeste do Arkansas, afirmou que sempre interage com seus fãs no Facebook, Pinterest, Twitter, Goodreads, YouTube, Flickr e no próprio site. Essas iniciativas dão à autora, de 33 anos, uma renda anual que passa dos 100 mil dólares. Porém, ter dados sobre como seus livros estão sendo lidos ajudaria a levar sua pesquisa de mercado a um nível muito mais alto.

"Que autor perderia a oportunidade de entrar na mente do leitor?", questionou.

O Scribd, que recebeu mais de 25 milhões de dólares em capital de risco, está começando a analisar os dados de seus assinantes. Alguns dos insights iniciais: quanto mais longo é um romance de mistério, maior é a probabilidade de que os leitores pulem para o fim para descobrir o que aconteceu. É mais comum que as pessoas leiam biografias do que livros de negócios até o fim, mas quase ninguém lê mais que um capítulo de livros sobre ioga. As pessoas leem romances mais rapidamente que os títulos religiosos, mas a leitura mais rápida de todas é a de títulos eróticos.

No Oyster, um dos livros mais lidos se chama "What Women Want" (O que as mulheres querem, em tradução literal), promovido como uma obra que "coloca o leitor dentro da cabeça das mulheres para que ele possa aprender a fazê-las perder a cabeça". Todo mundo que começa a ler vai até o fim. Por outro lado, o livro "The Cycles of American History" (Os ciclos da história americana), de Arthur M. Schlesinger Jr., não impressiona ninguém. Os dados do Oyster mostram que os leitores têm 25 por cento mais chances de terminar livros com capítulos curtos.

O Scribd e o Oyster funcionam da seguinte maneira: os leitores pagam cerca de 10 dólares por mês para ter acesso a uma biblioteca com cerca de 100.000 livros de editoras tradicionais. Eles podem ler quantos livros quiserem. No Oyster, quando a pessoa lê mais de 10 por cento do livro, ele passa ser considerado como "lido". Quando isso ocorre, o Oyster precisa pagar ao editor um preço fixo de atacado. Com o Scribd, se o leitor lê mais de 10 por cento do livro, porém menos de 50 por cento, ele conta como um décimo de uma venda. Acima de 50 por cento, considera-se uma venda cheia.

Os editores afirmam que a Amazon, que já se aventurou nos serviços de assinatura, tem perguntado com os novos serviços funcionam, levando a especulações de que a empresa esteja planejando colocar em prática um plano rival. Jared Friedman, diretor de tecnologia do Scribd, comparou dois romances para ilustrar o valor do serviço. Um deles tinha poucos reviews na Amazon e pouca promoção, mas os dados do Scribd mostravam que 60 por cento dos leitores chegavam até o final. Segundo os dados, eles começavam a fechar os livros quando o autor mergulhava de cabeça na fantasia.

Alguns autores não gostam de ouvir esse tipo de coisa.

"Se você não for cuidadoso, pode acabar estreitando sua criatividade, deixando de correr riscos", afirmou Loftis. "Mas o maior risco é não dar ao leitor o que ele quer. Eu aceito todos os dados que puder conseguir."

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