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O turismo é o “sistema nervoso da classe média” do Egito, disse um operador no Cairo. Visitantes entram no Templo de Luxor | Khalil Hamra/Associated Press
O turismo é o “sistema nervoso da classe média” do Egito, disse um operador no Cairo. Visitantes entram no Templo de Luxor| Foto: Khalil Hamra/Associated Press

"Sentimos saudades" é o mote da nova campanha publicitária do Ministério do Turismo do Egito, que visa aumentar o movimento no verão do hemisfério Norte com turistas de países ricos no golfo Pérsico.

Há três anos, o tumulto político mantém muitos viajantes afastados do Egito, deixando milhões de pessoas, cuja sobrevivência depende do turismo, desesperadas com a crise mais longa no setor já vivida no país.

Na agência de turismo Cosmos, que atua no Cairo há 37 anos e costumava atender até 30 mil clientes por ano, o diretor de operações Khaled M. Ismail disse que desde maio de 2013 não faz uma só reserva para visitante.

A sede da agência estava quase deserta, e os funcionários só vêm uma vez por semana para pagar as contas. "Não estamos esperando negócios até 2015", comentou.

A perda do turismo teve um efeito desastroso na economia, privando o país de renda e criando uma demanda enorme por moeda estrangeira.

As pessoas no Egito falam não só em um sofrimento em curto prazo, mas de um prejuízo em longo prazo, já que trabalhadores abrem mão de anos de treinamento e experiência para procurar novos empregos em outros setores e estudantes abandonam seus cursos e o sonho de carreiras profissionais mais promissoras.

Outros, porém, sobrevivem gastando suas economias enquanto aguardam que a situação melhore. "Tudo o que poupei foi gasto", desabafou Raafat Ferghani Khattab, guia cuja família tinha o turismo como atividade tradicional.

Khattab, cujo avô mostrou as atrações locais para um rei sueco no início do século 20, disse que o turismo era "o sistema nervoso da classe média" e que não só famílias como a dele estavam sofrendo, pois a crise também afetou pessoas como os agricultores que fornecem frutas para os hotéis.

Há pouco alívio à vista. As lutas políticas no Egito ficaram cada vez mais violentas depois que o presidente islâmico eleito, Mohammed Mursi, foi derrubado em julho do ano passado.

Centenas de manifestantes foram mortos pelas forças de segurança, e militantes revidaram atacando soldados e civis.

Pela primeira vez em três anos, turistas foram atingidos pela violência em fevereiro, quando militantes bombardearam um ônibus cheio de sul-coreanos em um balneário na Peínsula do Sinai, matando quatro pessoas.

Após desistir de atrair visitantes dos Estados Unidos e de muitos países europeus, o governo está visando turistas árabes. "Eles se sentem à vontade aqui", afirmou Rasha al-Azaizy, porta-voz do Ministério do Turismo.

Tradicionalmente, os árabes perfazem até um quinto dos turistas no Egito. O governo também está de olho em mercados menos prováveis, a exemplo da Letônia.

Segundo dados oficiais, em 2010, antes da crise política, quase 15 milhões de estrangeiros visitaram o Egito; no ano passado o número caiu para 9,5 milhões.

Atualmente, a maioria dos visitantes só se interessa pelas praias, evitando o Cairo e outros destinos culturais.

A crise tem sido uma dádiva para estrangeiros que ignoram as advertências e conseguem grandes descontos em hotéis cinco-estrelas perto de praias excelentes e sítios históricos.

Ao mesmo tempo, os trabalhadores nas atrações mais famosas do país tiveram de se acostumar com uma monotonia inquietante.

Nas pirâmides em Gizé, há mais mascates que turistas na maioria das manhãs, em uma proporção de dez para um. No Museu Egípcio do Cairo, funcionários cochilavam em suas cadeiras durante a tarde.

Diante do museu, dezenas de soldados e policiais montavam guarda ao lado de veículos blindados e caminhões, um lembrete claro dos conflitos que isolam o país.

O Egito realizará eleições presidenciais em 26 e 27 de maio, e o potencial vencedor é Abdel Fattah al-Sisi, que liderou a tomada do poder em julho, foi ministro da Defesa e é o líder de fato do país.

Seus apoiadores depositam grandes esperanças em sua gestão, dizendo que o líder terá pulso firme para enfrentar a crise.

Algumas operadoras de turismo egípcias, porém, duvidam que a eleição traga um alívio imediato. No exterior há uma ampla perda de confiança no Egito, afirmam essas empresas, um problema que slogans sagazes e liderança forte não podem sanar facilmente.

O operador de turismo Alaa Mosaad, 37, disse temer que o quadro de estagnação no turismo "dure mais três ou quatro anos". Como muitos no setor, Mosaad arranjou outro trabalho —em seu caso, como professor de alemão.

Seu colega Mohamed Atef, 30, comentou que, embora todos os governos prometam mais estabilidade, "a situação só piora".

Colaborou Asmaa Al Zohairy

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