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O presidente Abdel Fattah el-Sisi cortou os subsídios do combustível numa tentativa de reduzir o déficit do Egito e atrair investidores. Um posto de gasolina no Cairo | Mahmoud Khaled/Agence France-Presse — Getty Images
O presidente Abdel Fattah el-Sisi cortou os subsídios do combustível numa tentativa de reduzir o déficit do Egito e atrair investidores. Um posto de gasolina no Cairo| Foto: Mahmoud Khaled/Agence France-Presse — Getty Images

Quando o presidente do Egito, Anwar el-Sadat, declarou que pretendia aumentar o preço dos produtos subsidiados, em 1977, uma onda de protestos deixou mais de 70 pessoas mortas e serviu de aviso quanto a obrigar os egípcios pobres a se contentar com menos.

Então, foi uma surpresa quando, como uma de suas principais iniciativas políticas, o presidente Abdel Fattah el-Sisi aumentou drasticamente o preço dos combustíveis no início de julho, cortando os subsídios de energia. Ainda mais surpreendente, talvez, foi a completa ausência de levantes civis.

A relativa tranquilidade parecia sinalizar um reconhecimento de que o preço dos combustíveis, que figurava entre os menores do mundo, não poderia ficar daquele jeito para sempre numa economia abalada pela turbulência política.

"Vocês me chamaram para uma missão – a missão de salvar um país", declarou Sisi depois que os aumentos de até 78 por cento foram anunciados. "O contrato entre mim e vocês diz que é preciso trabalhar duro e ter paciência", afirmou ele.

Embora especialistas na economia egípcia elogiem a coragem da medida, também houve críticas sobre como ela foi colocada em vigor num país onde metade da população depende de ajuda do governo – e onde o presidente Hosni Mubarak foi derrubado do cargo por manifestantes exigindo "pão, liberdade e justiça social".

Os protestos em geral se tornaram muito mais perigosos para os egípcios ao longo do ano passado, já que o governo tornou-os ilegais e mostrou sua disposição em dispersá-los com força mortal. Ao menos duas pessoas teriam sido mortas durante uma manifestação anti-austeridade.

O sistema, que já dura décadas e fornece subsídios para energia e alimentação, vinha consumindo mais de 26 por cento do orçamento nacional. Reformá-lo foi visto como uma tentativa não só de tapar um déficit orçamentário que chegava a mais de 12 por cento do PIB, mas também de impressionar credores internacionais.

"Empolguei-me com o fato de ele ter feito algo substancial e com consequências políticas reais", declarou Ragui Assaad, economista da Universidade de Minnesota que disse que os déficits orçamentários eram "insustentáveis para qualquer país".

Porém, acrescentou, os cortes de subsídios eram geralmente acompanhados por transferências de dinheiro aos pobres.

Reem Abdel Haliem, economista da Iniciativa Egípcia pelos Direitos Pessoais, concorda com a reforma no sistema de subsídios, mas a alta nos preços do diesel, combustível utilizado na agricultura, pode ter um "enorme efeito inflacionário".

A imagem do governo também foi prejudicada pela percepção de que muitos integrantes da atual classe dominante do país pareciam ser figuras de destaque na época de Mubarak.

Em sua barraca de sucos no Cairo, Tharwat Rashid, de 44 anos, argumentou que, apesar das promessas do governo, o preço de produtos básicos havia aumentado em seu bairro. Visitas de autoridades exigindo subornos também pareciam ter se tornado mais frequentes.

"São os velhos rostos, e as velhas maneiras", explicou ele. "É preciso limpar o local antes de começar a construir".

Merna Thomas e Asmaa al-Zohairy contribuíram com a reportagem

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