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A caminhada até o santuário dedicado ao apóstolo São Tiago data do século 9. Trata-se de uma centenária peregrinação conhecida, entre os locais, apenas como o Caminho, que leva os peregrinos rumo à famosa catedral de Compostela | Patricia de Melo Moreira para The New York Times
A caminhada até o santuário dedicado ao apóstolo São Tiago data do século 9. Trata-se de uma centenária peregrinação conhecida, entre os locais, apenas como o Caminho, que leva os peregrinos rumo à famosa catedral de Compostela| Foto: Patricia de Melo Moreira para The New York Times

Há os peregrinos que se arrastam com a ajuda de uma bengala, avançando lentamente ao longo de uma jornada de contemplação de um mês de duração. E há, ainda, outros que parecem mais descansados porque seguiram um caminho mais curto ou porque pagaram um agente de turismo para carregar suas mochilas.

Todos, porém, precisam passar pela gama crescente de lojas de suvenires que vendem camisetas com o rosto de Jesus e conchas de vieira pintadas – símbolos da peregrinação ao santuário de São Tiago Maior, que termina nesta cidade do noroeste da Galícia e ficou conhecida como o Caminho, simplesmente.

O aumento de popularidade da peregrinação, que data do século 9, converteu algo que nos tempos medievais era uma corrida de obstáculos espiritual numa parte crescente da indústria turística da Espanha moderna. Num momento em que outras partes da economia ainda estão sofrendo, a peregrinação virou grande negócio aqui, tanto assim que revigorou não apenas economias locais, mas também um debate sobre como equilibrar turismo com reflexão espiritual.

"De repente você se vê, exausto, caminhando ao lado de pessoas que estão em clima de festa, como se estivessem indo a um parque de diversões", comentou Marie Ange de Montesquieu, que estava concluindo uma rota de 770 km que começou no lado francês dos Pireneus.

Santiago de Compostela foi o local de descanso final de São Tiago Maior, e a descoberta de seus restos mortais gerou uma das principais peregrinações dos tempos medievais. A importância do Caminho diminuiu com a ascensão do protestantismo e os efeitos da peste bubônica e de conflitos diversos, que dificultavam as viagens. Em 1984, apenas 423 peregrinos receberam a certificação de conclusão da rota em Santiago de Compostela.

Este ano, a previsão é de que cheguem 240 mil peregrinos. As razões da popularidade crescente da romaria não estão claras. A Igreja Católica vê o número crescente como prova de uma renovação religiosa. De acordo com um estudo do Centro de Pesquisas Sociológicas, um instituto governamental, o número de pessoas que vão à missa na Espanha subiu 5,7% entre julho de 2013 e julho deste ano.

Mas, um fator que deve ter ajudado é que, com o desemprego em cerca de 25% na Espanha e alto também em outras partes da Europa, as pessoas têm mais tempo livre.

O interesse alemão pelo Caminho de Santiago cresceu depois de Hape Kerkeling ter publicado em 2006 um diário de sua peregrinação, que se tornou best-seller. "The Way", filme de 2010 com Martin Sheen, ajudou a divulgar o Caminho entre os americanos.

O escritor Lijia Zhang, de Pequim, que passou duas semanas seguindo o Caminho, disse que as autoridades espanholas "precisam encontrar um ponto de equilíbrio entre a promoção do turismo e a manutenção da tradição do Caminho. De outro modo o Caminho perderá sua alma e deixará de atrair peregrinos."

Virgínia Gómez e César Martínez, um casal desempregado de Madri, se disseram felizes por ter chegado a Santiago, mas decepcionados com o custo de quase tudo ao longo do caminho. Gómez comentou: "Não pensei que fosse preciso levar uma carteira cheia numa peregrinação."

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